O presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou nesta segunda (30) para Pernambuco para prestar assistência e oferecer solidariedade às vítimas das chuvas que causaram dezenas de mortes. Porém, a entrevista coletiva que concedeu após sobrevoar parte das áreas atingidas teve ares de palanque político, com ataques diretos ao governador Paulo Câmara (PSB), que não foi convidado a integrar a comitiva oficial.
Junto de ministros, como Marcelo Queiroga (Saúde) e Daniel Ferreira (Desenvolvimento Regional), Bolsonaro afirmou que "o momento não é de fazer política". No entanto, a própria composição do grupo que o acompanhou mostra que a realidade é um pouco diferente. Ele estava acompanhado, por exemplo, do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Luiz Medeiros, colega de partido do presidente. Outros prefeitos, como João Campos (PSB), do Recife, não participaram.
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"Temos aqui o prefeito de Jaboatão, que sobrevoou conosco, ele conhece a região, vai falar o que o governo federal tem feito, não só para seu município, independente da coloração partidária que seja isso", disse Bolsonaro, em tom de defesa, antes de abrir o microfone às perguntas dos jornalistas.
"O governo federal sempre sai na frente, está sempre alerta para atender a população, independente de pedido de autoridades locais", complementou, dando indícios do que viria a seguir.
Os ataques mais diretos a Paulo Câmara aconteceram após perguntas de jornalistas. Uma repórter perguntou sobre a ausência do governador no encontro e questionou sobre possível ausência de diálogo. Deixando claro que Câmara não foi convidado formalmente a participar da comitiva, Bolsonaro disse que a viagem dele foi "amplamente divulgada pela mídia".
"Acho que faltou iniciativa da parte dele também. Aqui ninguém tá proibido de comparecer neste local, neste momento. Foi amplamente divulgado para a mídia a nossa presença aqui. Isso aconteceu no sábado e domingo. Se o governador estava fazendo outra coisa, não sei. Talvez ele ache melhor não estar presente aqui", afirmou.
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Visivelmente irritado, o presidente subiu o tom de voz e voltou a dizer que o governador deveria "esquecer a questão política" e "trabalhar de fato para seu povo". Fazendo da coletiva um palanque, disse que o governador não deveria "fazer política em cima da desgraça de alguns".
Nos últimos dias, a agenda de Câmara, como não poderia deixar de ser, está totalmente voltada para atender demandas relativas às chuvas no estado. Na última sexta, por exemplo, ele anunciou a nomeação de 92 novos soldados do Corpo de Bombeiros para dar assistência às vítimas, além de ter acionado o Comando Militar do Nordeste para auxiliar no combate às consequências dos temporais.
Mudança de postura
Bolsonaro, desta vez, teve postura diferente da adotada durante as chuvas na Bahia em dezembro de 2021. Na época, ele preferiu viajar a Santa Catarina em férias. "Infelizmente essas catástrofes acontecem, um país continental tem seus problemas", contemporizou.
Edição: Felipe Mendes