Rio de Janeiro

CHACINA

Operação para prender criminoso é desculpa para matar população das favelas, diz comunicadora

Nas redes sociais, moradores da Vila Cruzeiro relataram policiais atirando em direção às pessoas apenas para aterrorizar

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O hospital Getúlio Vargas, localizado no bairro da Penha, não parou de receber mortos e feridos ao longo de todo o dia. - Mauro Pimentel/AFP

Nos últimos anos o Rio de Janeiro tem se deparado cada vez mais com a violência em operações policiais. Na madrugada da última terça-feira (24), uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em conjunto com a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio, se transformou em uma chacina com 26 pessoas mortas durante as 12 horas de operação.

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Nas redes sociais moradores relataram momentos de terror com policiais atirando de fuzil em direção às pessoas apenas para aterrorizar. O hospital Getúlio Vargas, localizado no bairro da Penha, não parou de receber mortos e feridos ao longo de todo o dia.

De acordo com as polícias envolvidas, a operação tinha o objetivo de prender lideranças criminosas que estavam na comunidade. A Comunicadora Comunitária de favelas do Rio Gizele Martins disse em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que essa é a desculpa usada pelo governo no Rio de Janeiro para assassinar a população das favelas e periferias.

“A fábrica de armas não está na favela, a plantação de drogas e a organização delas não estão nas favelas. Os grandes traficantes estão no Senado, estão no poder. As chacinas, o desaparecimento forçado nas operações policiais que ocorrem ainda hoje nesta dita democracia brasileira é herança da Ditadura Militar, só que tudo isto ocorre em um lugar específico, que é a favela e a periferia, territórios que em sua maioria são negros”, explica a comunicadora.

Um levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF) mostra que em um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL) foram registradas 180 mortes em 39 chacinas. Neste mês de maio, completou-se um ano do massacre do Jacarezinho, que deixou 28 mortos e é considerada a operação policial mais letal da história recente do Rio.

Operações deste tipo continuam acontecendo sem que medidas sejam tomadas e investigações sejam feitas de forma adequada. Para a diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, a socióloga Maria Isabel Couto, faltam políticas de segurança pública.

"A região metropolitana do Rio de Janeiro tem em média uma chacina por semana. A cada quatro chacinas, três acontecem em ações e operações policiais, ou seja, é muito importante que o Estado de fato leve a sério a decisão do STF de construir um plano de redução da letalidade causada pelas polícias. É muito importante que a gente consiga construir um plano de segurança pública que de fato tente promover a segurança pública, e não colocar a população na linha de tiro", explicou.

A equipe do Brasil de Fato entrou em contato com a PM, que informou que as equipes do Bope, da PF e da PRF se preparavam para entrar no Complexo da Penha quando criminosos começaram a atirar.

Ao menos uma moradora foi morta ao ser atingida por uma bala perdida dentro de casa. O presidente Jair Bolsonaro (PL) parabenizou os policiais que participaram da ação em texto publicado no Twitter.

Edição: Eduardo Miranda