A alta do preço dos combustíveis no país aumentou também a influência do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a Petrobras. Em menos de um mês, Guedes emplacou dois subordinados no comando do Ministério das Minas e Energia (MME) e na presidência da própria estatal. Com isso, fez crescer rumores sobre a privatização, defendida por ele desde que aderiu ao governo de Jair Bolsonaro (PL).
Há duas semanas, Bolsonaro demitiu o almirante Bento Albuquerque, até então titular do MME. Albuquerque foi militar de carreira e havia assumido o ministério no primeiro dia da gestão Bolsonaro. Foi dispensado no mesmo dia em que a Petrobras anunciou um novo aumento no preço do diesel. Quem assumiu seu lugar foi o economista Adolfo Sachsida, que trabalhava com Guedes no Ministério da Economia.
Em seu primeiro pronunciamento como ministro, Sachsida anunciou que solicitaria formalmente a Guedes o início de estudos para privatização da Petrobras. Isso de fato foi feito num ato público realizado em frente ao Ministério da Economia.
Na ocasião, Guedes disse que esperava uma rápida autorização do presidente Bolsonaro para dar início ao processo de desestatização. “É a libertação do povo brasileiro contra os monopólios”, justificou o ministro, em rápido discurso.
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Menos de duas semanas depois, foi a vez de outro secretário de Guedes, o comunicador Caio Mário Paes de Andrade, ser indicado pelo governo para assumir a presidência da Petrobras. Andrade deve assumir o posto do químico José Mauro Ferreira Coelho, empossado na chefia da estatal há 40 dias por indicação de Bento Albuquerque.
Andrade nunca trabalhou numa empresa do ramo da energia ou petróleo. Não tem experiência sequer para cumprir requisitos estabelecidos na Lei das Estatais para chefiar a Petrobras, segundo petroleiros. Sua proximidade com Guedes e alinhamento com a agenda neoliberal do ministro, entretanto, o catapultaram à presidência da maior empresa do país.
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“Andrade não tem formação e nem experiência no setor. Não conhece nada do ramo. É um ideólogo privatista”, alertou o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras (OSP), ligado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Para Dantas, aliás, as mudanças tão repentinas na Petrobras desmoralizam a empresa, e isso acaba servindo de argumento para privatização. “A maioria da população defende a Petrobras estatal, e para reverter isso o governo tem que mostrar que ela é uma ‘bagunça’”, afirmou.
"1 trilhão em vendas"
O ministro da Economia havia prometido vender R$ 1 trilhão em ativos estatais durante sua gestão no Ministério da Economia. Implementou uma agenda de privatizações, mas ainda não conseguiu vender uma grande estatal.
Guedes trabalha para que o controle da Eletrobras seja vendido ainda neste ano. O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a desestatização da companhia na semana passada. O governo espera vender suas ações ainda no mês que vem.
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O ministro, entretanto, já sinaliza novas privatizações para atrair votos de setores interessados em adquirir o controle das estatais para a reeleição de Bolsonaro. Neste sentido, a venda da Petrobras virou uma espécie de promessa de campanha do ministro para um eventual segundo mandato do atual presidente.
Segundo Guedes, a venda da Petrobras geraria caixa para a União, além de criar concorrência no setor de combustíveis no Brasil, reduzindo preços. O OSP, por sua vez, já estimou que a gasolina e o diesel no país ficariam cerca de 19% mais caros caso a Petrobras fosse privatizada. O cálculo leva em consideração valores praticados Acelen, empresa que comprou uma refinaria da estatal na Bahia e reajustou os preços.
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a alta dos combustíveis no país é resultado da política de preços da Petrobras. Bolsonaro tem se queixado publicamente dela, mas, apesar disso, nunca agiu para alterá-la.
“A questão central é que o governo não quer briga com o mercado, com os acionistas privados, que, com o atual modelo, têm a garantia de dividendos espetaculares”, afirmou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
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Mudanças no conselho
A política de preços da Petrobras é definida pelo conselho de administração da companhia. O órgão tem 11 membros, seis deles indicados pelo governo.
Nesta terça-feira (24), a empresa informou que a demissão de José Mauro Coelho acarretará numa nova eleição para o conselho. Tanto acionistas minoritários quanto a União podem apresentar candidatos.
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A mudança no conselho de administração da Petrobras pode acabar definindo novos rumos para a atuação da estatal e até culminar com uma redução de seus preços. Esse novo conselho, no entanto, também pode autorizar vendas de ativos da estatal e pavimentar um caminho para sua privatização, que ainda dependeria do Congresso.
Rosangela Buzanelli, indicada pelos trabalhadores da companhia para o conselho de administração da Petrobras, acredita que Bolsonaro esteja trabalhando pela privatização da empresa. Segundo ela, os preços altos da gasolina e do diesel colocam a população contra a empresa e acabam favorecendo sua venda.
Edição: Felipe Mendes