A cobertura jornalística do casamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da socióloga Rosângela da Silva, Janja, na noite desta quarta-feira (18), reacendeu um tipo de ataque ao petista que se repete, pelo menos, desde o início dos anos 1980, como a acusação feita por Collor, no 2º turno das eleições de 1989, de que o ex-presidente possuía um toca-fitas 3 em 1. À época, o aparelho era um símbolo de ostentação.
Antes mesmo de sua primeira disputa eleitoral pelo Palácio do Planalto, contra Fernando Collor, em 1989, Lula já era alvo de reportagens enganosas sobre seu padrão de vida, com denúncias que nunca foram comprovadas sobre supostos gastos feitos pelo ex-metalúrgico.
Nos últimos dias, analistas e políticos fizeram comparações entre as reportagens sobre a suposta "ostentação" do casamento de Lula e Janja e as acusações infundadas contra o petista repercutidas nas últimas décadas.
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Intolerância da elite
Um aparelho de som citado por Collor na disputa eleitoral de 1989 como uma acusação contra Lula e o preço dos espumantes e vinhos do casamento simbolizam, na visão de aliados de Lula, uma intolerância da elite e da imprensa brasileira à ascensão econômica dos trabalhadores.
"Vinho de 90 reais no casamento, onde já se viu! A única "ostentação" nesse caso é de preconceito de classe misturado com burrice. Até pra fazer jornalismo marrom é preciso ter mais inteligência", disse o escritor Sérgio Rodrigues. Leia outros comentários ao final do texto.
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Relembre quatro acusações contra Lula:
Apartamento no Guarujá
Em 1982, quando se candidatou para governador de São Paulo, em sua primeira disputa por um cargo público, o jornal O Estado de S. Paulo repercutiu uma acusação infundada que dizia que o petista tinha uma casa de veraneio na cidade turística litorânea.
Com uma estrela do PT e o nome do partido sobre a foto de uma grande casa, o panfleto distribuído no último dia de campanha dizia: "Esta é a casa do Lula onde ele passa as suas férias, no Guarujá". Décadas depois, Lula foi condenado e, depois, inocentado em caso que envolvia um apartamento no mesma região.
Mansão no Morumbi
Na mesma disputa eleitoral, em 1982, Lula foi alvo de uma boataria de grandes proporções dando conta que Lula teria uma enorme mansão no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. Na realidade, Lula deixou de morar em São Bernardo do Campo apenas neste ano, quando mudou para um casa alugada na capital paulista.
Órgãos de fiscalização e controle, como Receita Federal e Ministério Público, jamais sequer aventaram a hipótese de Lula ser dono de uma mansão no Morumbi ou um apartamento no Guarujá. Nos anos seguintes, porém, as acusações não se restringiram aos imóveis.
Aparelho de som
Em 1989, no último debate eleitoral da disputa do 2º turno das eleições presidenciais, contra o alagoano Fernando Collor, Lula foi acusado pelo oponente de ter um aparelho de som “3 em 1” (toca-fitas, toca-discos e rádio). À época, o equipamento era símbolo de ostentação.
A fala de Collor foi relembrado pelo analista político Thomas Traumann, em sua conta no Twitter. Na declaração, o vencedor daquela eleição disse que Lula teria "construído uma casa bonita, inclusive com aparelhagens ultramodernas e sofisticadas de som que na minha casa eu ainda não havia tido oportunidade de ter”.
Garrafa de champagne
Traumann apontou que, nas eleições de 2002, um fato similar mobilizou a imprensa brasileira: "Foi assim com o escândalo quando o publicitário Duda Mendonça abriu uma garrafa de Romanée Conti 1997 num jantar na campanha de 2002".
"Cobra-se de Lula um ascetismo que não existe no seu principal adversário. Jair Bolsonaro passeia de jet-sky pago com dinheiro público, seu filho comprou uma casa de R$ 6 milhões sem origem de recursos comprovada. Deve-se cobrar Lula por suas propostas, não pelo espumante gaúcho da sua festa de casamento", concluiu.
E o Bolsonaro? Milhões no cartão de crédito
As comparações com o presidente Jair Bolsonaro (PL) também foram feitas por outros políticos de diferentes partidos e comentaristas. Diversas publicações relembraram os gastos do atual chefe do Executivo com o cartão corporativo.
Leia outros comentários sobre o caso:
Lula e Janja vão pagar todas as despesas do casamento com recursos próprios.
— Helder Salomão (@heldersalomao) May 17, 2022
Bolsonaro gasta milhões no cartão corporativo e decreta sigilo de 100 anos.
Adivinhem o que tem ocupado o noticiário da grande mídia?
Quando digo que a grande mídia está fazendo campanha pela reeleição de Bolso, tem gente que diz que é um exagero. O que são as "notícias" sobre um vinho de 90 reais no casamento de Lula? É campanha pró-Bolso. O mesmo Bolsonaro que gasta 4 milhões no cartão corporativo por mês.
— Jones Manoel - Youtube: Jones Manoel (@jonesmanoel_PCB) May 17, 2022
Você pode achar que o Lula comprar taças de vinho de 90 reais para o seu casamento é exagero, ostentação, mas o dinheiro é dele
— Rafael Parente (@Rafael_Parente) May 17, 2022
Agora, Bolsonaro gastar 4 MILHÕES por mês de dinheiro PÚBLICO no cartão corporativo e ainda colocar 100 anos de sigilo, aí não é exagero, é crime mesmo
Vinho de 90 reais no casamento, onde já se viu! A única "ostentação" nesse caso é de preconceito de classe misturado com burrice. Até pra fazer jornalismo marrom é preciso ter mais inteligência.
— Sérgio Rodrigues (@sergiotodoprosa) May 15, 2022
O casamento do Lula vai ter vinho de 90 reais a garrafa. Qualquer pessoa que compra e bebe vinho com frequência sabe que isso tá longe de ser ostentação. Mas a imprensa brasileira, sempre fascistoide, queria que o ex-presidente da república servisse refresco na sua festa.
— Lana de Holanda 🏳️⚧️🌳 (@lanadeholanda) May 15, 2022
Lula e Janja vão casar, mas a preocupação da mídia são os gastos de recursos próprios com o casamento. E esquecem dos gastos com dinheiro público do Jair com o cartão corporativo.
— Enio Verri (@enioverri) May 18, 2022
colunista superfatura bebidas para tachar casamento de lula de “ostentação”.
— cynara menezes (@cynaramenezes) May 16, 2022
polêmica em torno de vinhos mostra que o preconceito de classe da mídia comercial com o petista permanece imutável há 20 anoshttps://t.co/lDQbGpNFia
Casamento com vinho de 90 reais e Heineken não é Ostentação!
— Flávia Maynarte 🔺 ☭ (@Flaviamaynarte) May 18, 2022
Ostentação é ter Chico Buarque padrinho de casamento.
Edição: Rebeca Cavalcante