Rio de Janeiro

MEMORICÍDIO

Memorial no Jacarezinho (RJ) era símbolo para evitar outras chacinas, afirma pesquisador

Mais de 40 entidades assinam nota em repúdio a demolição do monumento pela Polícia Civil

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Monumento foi erguido pela comunidade e movimentos de direitos humanos para homenagear os 28 mortos da chacina
Monumento foi erguido pela comunidade e movimentos de direitos humanos para homenagear os 28 mortos da chacina - André Borges/AFP

Moradores e entidades de defesa dos direitos humanos que ergueram o memorial em homenagem aos 28 mortos na Chacina do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foram pegos de surpresa pela ação da Polícia Civil que derrubou a estrutura de concreto na última quarta-feira (11). O Observatório Cidade Integrada divulgou uma nota no qual mais de 40 movimentos populares, instituições e parlamentares repudiam a ação.

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A homenagem que trazia o nome das vítimas, entre eles o do policial André Frias, havia sido instalada no último dia 6, quando completou um ano da operação policial no local e repudiou o comando da segurança pública pelo governador Cláudio Castro (PL). 

"O Memorial foi uma ação concreta para lembrar as 28 vidas perdidas durante a chacina, sejam elas de civis ou policiais, vítimas da política de violência que os governos do Estado do RJ vêm aplicando contra a população de favela, em sua maioria composta por pessoas negras, ano após ano, por diferentes governantes que ocupam esta posição", diz o texto do Observatório.

Como argumento para a demolição, a polícia alegou que o memorial fazia "apologia ao tráfico de drogas". O pesquisador Pedro Paulo da Silva, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), explica que na verdade o monumento era um símbolo para evitar outras chacinas.

"Não necessariamente estamos falando de indivíduos, mas do que isso significou para a comunidade e para o Estado. E pra lembrar que essa chacina poderia ter sido evitada se o Estado e a sociedade tivessem tomado um curso de ação diferente. O monumento era símbolo para evitar que aconteça de novo. Não só no Jacarezinho, mas em qualquer lugar. Aquelas vidas foram perdidas em uma guerra sem sentido", afirma. 

"A ideia com o memorial era relembrar o episódio da chacina, de modo que o que aconteceu no Jacarezinho não se torne mais uma chacina que vamos relembrar daqui dez. A gente queria que isso ficasse marcado, que anualmente a gente pensasse sobre a chacina e o que ela significou para o Jacarezinho e o Rio de Janeiro. Essa é a função de um memorial, uma tentativa de construir um monumento histórico", completa o pesquisador.

Edição: Clívia Mesquita