fim do autoritarismo

‘O povo brasileiro vai restabelecer a democracia’, diz Lula em Minas Gerais

Na Zona da Mata, ele destacou a ciência, a educação e a cultura, defendeu os direitos da mulher o SUS e as estatais

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Em Juiz de Fora, Lula diisse que "não aceitamos mais a mulher ser tratada como objeto de cama e mesa" - Ricardo Stuckert

 Em discurso na cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, o ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva chamou Jair Bolsonaro de “fanfarrão”, reafirmou que o presidente “só sabe contar mentira” e falar em golpe. “Bolsonaro fala em golpe todo dia. Dia 2 de outubro o povo brasileiro vai dar um golpe no autoritarismo dele e restabelecer a democracia neste país. Vai ser o primeiro golpe democrático-popular, um golpe sem fuzil, sem metralhadora. Um golpe da eleição democrática”, disse. Depois, acrescentou: “um golpe do voto, da educação, do emprego, do salário, a partir de Juiz de Fora”.

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A menção ao “golpe popular” a partir da cidade é simbólica. Como o próprio Lula lembrou, foi de Juiz de Fora que, em 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, enviou, rumo ao estado da Guanabara, 6 mil homens com a missão de destituir João Goulart do poder.

Em sua última escala do giro por Minas Gerais, e ao lado da prefeita Margarida Salomão, o ex-presidente deu grande destaque em seus discursos à educação. “Temos direito de ter os filhos da creche à universidade de qualidade. Queremos que nossos filhos tenham emprego melhor do que nós”

Também enfatizou a necessidade de reconstruir políticas públicas de cultura. “Eles acabaram com o Ministério da Cultura. Nós vamos recriar o ministério. E vamos criar comitês de cultura em cada estado deste país”, prometeu. “O Brasil não pode conhecer a cultura transmitida apenas pelos canais de televisão, a cultura que interessa financeiramente. É importante essa cultura. Mas queremos que o povo conheça a cultura da Zona da Mata, do Vale do Jequitinhonha, no Vale do Mucuri. E de Pernambuco, da Bahia, do Amazonas, de Roraima. Este país tem talvez a cultura mais rica do planeta Terra”, destacou.

Sobre os ataques do atual governo à ciência, Lula mencionou a pandemia para criticar Bolsonaro por seu negacionismo contra as vacinas. “Esse país tem cultura de vacina. Com a pandemia, (as pessoas) começaram a enxergar o valor do SUS”, disse. “Se (Bolsonaro) fosse responsável, teria reunido governadores, prefeitos, institutos de pesquisa, cientistas e teria decidido vacinar 215 milhões de brasileiros em tempo recorde”.

Focos de campanha

O petista voltou a sinalizar atenção especial às mulheres e aos cristãos. Estes últimos ainda demonstram majoritariamente preferência por Bolsonaro, ao contrário do eleitorado feminino. “Não aceitamos mais a mulher ser tratada como objeto de cama e mesa”, declarou. “A mulher é maioria deste país, tem que ser respeitada na política e fora da política”, disse.

Sobre sua eventual volta ao Palácio do Planalto, afirmou, sobre um projeto de governo inclusivo: “O que nós queremos está na Constituição brasileira, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Bíblia. Por que não se cumpre?”

Ele destacou a dura realidade econômica que atinge, hoje, desde a população mais pobre até a classe média. “O salário do povo está arrochado, ninguém consegue comprar um botijão de gás, encher o tanque do carro”, disse. “A gente vai no supermercado, e vê gente pegando produto e largando porque não pode pagar o preço da irresponsabilidade.”

A responsabilidade pela volta da carestia também se deve ao fato de que “metade da inflação é por causa dos preços controlados”, destacou o pré-candidato, citando a energia elétrica, o diesel, o gás de cozinha e a gasolina.

Ao falar contra a privatização de estatais essenciais ao país, Lula defendeu a Eletrobras, os Correios, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES e outras “Aprendam a fazer política econômica em vez de vender as coisas que já estão prontas”, provocou.

Defesa das universidades

Pela manhã, Lula participou de encontro com reitores de universidades federais e recebeu um documento com propostas da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). “Nós precisamos desenvolver as universidades em outras coisas, a universidade não pode ser um centro de luxo para produzir para ela própria, ela precisa se abrir para a sociedade”, disse.

Ele defendeu que as pesquisas devem “ser transformadas em produtos industrializados, para que as pessoas possam produzir”, ao invés de “guardar numa gaveta” as teses acadêmicas.

Em seu discurso para os dirigentes universitários e estudantes no auditório da UFJF, ele comentou a necessidade de ampliar os investimentos federais na Educação. “O mundo que nós conhecíamos desabou. A indústria como nós conhecíamos mudou”, afirmou. “É preciso o avanço tecnológico, mas toda vez que tem um avanço, um monte de gente fica fora”, ressalvou.

Ex-reitora da UFJF e prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), também defendeu o papel das entidades federais de ensino. “Espalhar as luzes é o papel das universidades, particularmente nesses tempos sombrios. É fazer brilhar não só a razão, a ciência, mas o desejo das pessoas de se incorporarem à sociedade brasileira. Por isso que a nossa juventude aguarda com tanta esperança”, disse ela.