A Baixada Fluminense é um território árido e que se forja na resiliência. Marcado por tristeza e abandono, dele sempre floresceram talentos e nunca faltaram expressões de resistência.
Esse território, que cresceu demograficamente a partir da expulsão dos trabalhadores das regiões centrais do Rio de Janeiro e da migração de nordestinos que vinham para a Região Sudeste em busca de melhores condições de vida, pariu as principais organizações e expressões de luta no auge da organização dos movimentos sociais na década de 1980.
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Curtida na luta, essa população da Baixada se construiu e se constituiu em uma realidade de precariedade ou de ausência de serviços, de trabalho, de saúde e de educação, mas principalmente de oportunidades de dignidade humana. O povo da Baixada se reinventa diariamente na produção da sua cultura periférica. Aqui fazemos teatro, música, cinema, arte; nas ruas, nas praças, nos trens e onde der.
Se há falta de empregos formais, ocupamos os trens, praças, estações e feiras livres como camelôs.
Não falta coragem para trabalhar, para tirar leite de pedra. E por falar em trens, o transporte público é um caso à parte. Os trens não interligam os 13 municípios que compõem a Baixada Fluminense. As escassas linhas de ônibus também não. A relação custo e benefício desse serviço é uma das piores do estado.
Mas a Baixada continua resistindo. Nela estão localizadas uma unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de Duque de Caxias, uma unidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) também de Duque de Caxias, duas unidades da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Nova Iguaçu e Seropédica, e alguns Institutos Federais.
Sim, a Baixada produz ciência, pesquisa e educação.
No 30 de abril, foi o Dia da Baixada, dia de celebrar as lutas do povo desse território que tem papel central para pôr o Brasil nos rumos da democracia no próximo pleito eleitoral. Dela também virá o aceno às representações parlamentares comprometidas com as demandas da classe trabalhadora, que nessa região que é essencialmente mulher e preta. Viva a Baixada!
*Juliana Drummond é professora do Ensino Médio e presidente do PSOL-RJ de São João de Meriti.
**Renata Souza é deputada estadual pelo PSOL-RJ, doutora em Comunicação e Cultura.
Edição: Mariana Pitasse