Uma amiga chegou a fazer uma comida chamada suflê de chuchu para me convencer a comer o dito-cujo
— Comer chuchu é que nem dançar com irmã.
Este era um conceito não só meu, mas de muitos jovens. Não achávamos a mínima graça em dançar com irmã e comparávamos comer chuchu a isso.
Alguns brincavam dizendo que chuchu tem vitaminas A, B e C: água... bagaço... e casca.
Quem gostava de chuchu falava que, bem temperando, o chuchu ficava gostoso. Outros falavam que chuchu com camarão era muito bom.
E eu gozava, dizia que então o gosto não era do chuchu, era do tempero ou do camarão.
Uma amiga chegou a fazer uma comida chamada suflê de chuchu para me convencer a comer o dito-cujo, mas eu chamava aquilo de sofrer de chuchu.
Bom, o assunto chuchu me leva a uma viagem feita ao sul de Minas, há muitos anos, em que fui com a namorada e um casal de amigos.
Meu amigo não comia frango ou qualquer ave, de jeito nenhum. A mulher dele tinha aversão a peixes. A minha namorada não comia carne de vaca.
Nos restaurantes da região, serviam pratos fartos, suficientes para nós quatro. Mas o que comer? Não podia ser frango, nem peixe nem carne de vaca.
A gente tem que comer proteína, como se diz hoje. Não se fala mais em carne disso ou daquilo, fala-se em proteína.
E a proteína que atendia ao gosto de nós quatro era carne de porco. Ótimo. Mas depois de uns três dias, queríamos outras carnes.
Pedíamos então uma comida diferente para cada um, não dava pra dividir.
Um dia pedimos também uma salada completa, e ela incluía chuchu. Falei que não gostava de chuchu e fui pegando as outras coisas.
Ficaram brabos, como se isso fosse uma aberração:
— Você não gosta de chuchu? Que absurdo!
Aí eu é que fiquei brabo. Falei:
— Vejam vocês... Conforme o lugar que forem viajar, vão se dar mal. Eu posso viajar pelo mundo todo sem comer chuchu, numa boa.
Pois é... Fiquei sabendo que o chuchu tem mesmo um monte de vitaminas e faz bem para um monte de coisas, desde a pele e os cabelos até o coração, e combate à pressão alta.
E mudei meu paladar. Já nem falo mais que comer chuchu é que nem dançar com irmã. Como chuchu de vez em quando, raramente, mas como. Dançar com irmã... isso não fiz mais. Aliás, não danço mais com ninguém. Mas tenho saudade de dançar um bolero agarradinho com uma moça... Ah, como era bom.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
