Escolas estaduais do Rio de Janeiro estão enfrentando dificuldades em distribuir merenda para todos os estudantes. Com o retorno das aulas presenciais em um cenário econômico de crise no país e a volta de milhões de famílias à miséria, mais estudantes estão se alimentando na escola, segundo dados do Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico).
No entanto, a verba repassada pelo governo às escolas para a compra dos alimentos não é suficiente para acompanhar o aumento da demanda.
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Uma professora da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro que não quis se identificar explica, em entrevista para o programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que o valor repassado pelo governo é muito baixo. Segundo a docente, antes da pandemia eles conseguiam atender a todos os alunos porque um número menor se alimentava na escola, agora existem estudantes que têm apenas a merenda escolar como refeição no dia.
“Hoje, pós pandemia, a quantidade de alunos que a gente tem no colégio almoçando e lanchando aumentou bastante. A escola é obrigada a fracionar os alimentos, ou seja, é obrigada a colocar uma quantidade menor de alimentos no prato do aluno para que todos consigam comer e com isso eles ficam com fome”, relata.
De acordo com a professora ela, uma prática comum que a escola vem adotando para tentar suprir a demanda de merenda é a substituição de alimentos por outros mais baratos, o que acaba interferindo na qualidade da refeição.
A diretora da Escola de Nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e membro do Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane), Alessandra Pereira, alerta que a situação de insegurança alimentar representa um grande risco para as crianças e jovens.
“A curto prazo temos o problema da fome que causa problemas de aprendizagem. Um estudante com fome não vai conseguir se ater a aula, se ater ao conteúdo. E a longo prazo esses problemas vão se somando a vários outros, desde comprometimento do crescimento, comprometimento cognitivo, a gente pode estar falando de aumento de um quadro de anemia”, explica.
Reajuste
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado do Rio (Seeduc) que respondeu em nota que o Governo do Estado reajustou a tabela com os valores da alimentação por estudante. O aumento será de 11% a partir de maio. A resolução foi publicada no Diário Oficial na última terça-feira (26).
Porém, o presidente da Associação dos Diretores de Escolas Públicas do Estado do Rio (Aderj), Almir Morgado, explica que o reajuste feito pelo governo ainda é muito baixo e insuficiente para as escolas comprarem a quantidade de merenda necessária para todos os estudantes.
“Nas escolas de horário parcial o valor por estudante atualizado com o reajuste do governo está em R$ 0,76. Qualquer pessoa pode pressupor que R$ 0,76 é realmente um valor muito baixo para adquirir todos os alimentos necessários para a elaboração do cardápio balanceado”, argumenta Almir.
O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Flavio Serafini (Psol) sugere que o reajuste deva ser de pelo menos 30% para garantir a qualidade e a quantidade das refeições.
“A gente continua mobilizando para que esse valor seja maior. O ano letivo vai até dezembro, mas as escolas não recebem o valor de alimentação para o mês de dezembro. Se elas já estão estranguladas para garantir a alimentação hoje, como elas vão garantir até o final do ano?”, questiona Serafini.
O mandato do parlamentar lançou um abaixo-assinado para a população pressionar o governo a estabelecer o reajuste em 30%. Para assinar basta acessar o Facebook ou Instagram do deputado.
Edição: Mariana Pitasse