Rio Grande do Sul

OUTRO MUNDO POSSÍVEL

Luta por resistência, justiça e democracia volta a ecoar na marcha abertura dos Fóruns Sociais

Até sábado (30) Porto Alegre sedia o Fórum das Resistências e o Fórum Social Mundial Justiça e Democracia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Concentração da caminhada no largo Glênio Peres - Foto: Jorge Leão

Após dois anos de debates virtuais, o Fórum das Resistências (FSR) volta a ocupar as ruas da capital gaúcha, juntamente com a primeira edição do Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD). A marcha de abertura realizada nesta terça-feira (26) reuniu movimentos sociais, sindicais e estudantis, partidos de esquerda e diversas entidades que se somaram na realização das mais de cem mesas de debates que vão ocorrer entre quarta-feira (27) e sábado (30), quando acontece a plenária de encerramento que organizará um documento preparatório para o Fórum Social Mundial que será realizado no México entre os dias 1º e 6 de maio.

A concentração da marcha ocorreu no largo Glênio Peres, no centro de Porto Alegre, onde falas de organizadores e apoiadores destacaram os principais temas de resistência que os fóruns estão propondo. A caminhada seguiu pelo centro da cidade até o largo Zumbi dos Palmares, encerrando com atividades culturais.

O FSMJD tem atividades focadas na transformação do sistema de justiça e na defesa da democracia, reunindo membros do judiciário com movimentos sociais para repensar as estruturas que perpetuam as desigualdades. Já o FSR traz movimentos sociais e organizações que para debater saídas para as crises que se abatem sobre o mundo e o Brasil, que penalizam a população mais pobre e vulnerabilizada e o meio ambiente.

O Brasil de Fato RS transmitiu a marcha em parceria com outros veículos da imprensa alternativa e comunicadores populares. Clique aqui para assistir.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Durante a marcha, a reportagem conversou com algumas pessoas que estavam caminhando por um outro mundo possível. Ao comentar sobre a importância do Fórum voltar a acontecer presencialmente na capital gaúcha, o presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, destacou que a retomada da luta das ruas demonstra “ao povo que é necessário nos organizarmos, resistirmos, lutarmos para derrotar esse governo genocida e construir uma nova alternativa para o Brasil, um projeto de reconstrução nacional”. 

Para Guiomar, o Fórum mostra “que é hora de iniciarmos essa grande marcha que deverá se encerrar no final do ano com a eleição de um governo popular que de fato tenha uma nova visão de país e desenvolvimento econômico e desenvolvimento social”.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, festejou o retorno do Fórum após dois anos, destacando a realização dos dois eventos ao mesmo tempo. “O Fórum é espaço de convergências, todo mundo tem suas verdade e aqui a esquerda consegue encontrar pontos de convergência para fazer lutas mais fortes”, pontuou. 

Segundo Claudir, a CUT e o movimento sindical não poderiam estar em outro local. “Outro mundo é possível sim, apesar da agudeza da vida que está aí instalada, apesar do período difícil do desemprego, do preço das coisas, da inflação alta, subemprego”, completou.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Membro da direção do MST/RS, Jeronimo Pereira da Silva disse que o movimento está juntos nos fóruns “porque a gente está dizendo Bolsonaro nunca mais, lutando por um Brasil democrático e soberano, pela democratização da terra e por um novo projeto de agricultura que inclua trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade”.

“Estamos juntos nessa luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade entendendo que essa é a luta de resistência de todos nós”, completou Xiru, como é mais conhecido.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), ressaltou uma importante característica do Fórum, que talvez uma parcela dos movimentos democráticos populares do Brasil e do mundo deixaram escapar. Ele tem um forte conteúdo anti-imperialista e anti-hegemônico e a causa palestina é essencialmente uma causa anti-colonial. A gente veio para cá especialmente para afirmar algumas coisas, primeiro que o que acontece na Palestina é genuinamente um experimento colonial e genocida”, disse.

“Viemos aqui para dizer que chegou a hora de valer o que nós passamos a defender especialmente agora. Israel é um regime de apartheid, que não pode ser admitido na ONU”, afirmou Ualid. “Queremos que a sociedade civil brasileira, a sociedade civil mundial, aquela mesma que defendeu o PDS - boicote de desinvestimento e sanções contra a África do Sul, faça o mesmo para salvar a Palestina”, defendeu.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Vera Lúcia Santana Araújo, da executiva nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), lembrou que o FSMJD deveria ter acontecido em 2020 mas não ocorreu devido a pandemia. “Parece que houve uma confluência para que viesse a acontecer em um momento extremamente importante, uma vez que nosso Estado democrático de direito, desde o golpe de 2016, nunca esteve tão fragilizado

“A ocorrência deste Fórum que reúne todos os segmentos democráticos das carreiras jurídicas, do sistema de justiça, ele se dá em um momento crucial da resistência das forças democráticas”, completou Vera, que está concorrendo a uma vaga de jurista para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Ernestina dos Santos Pereira, diretora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pelotas, disse que a integração das trabalhadoras domésticas aos movimentos sociais que lutam contra o retrocesso é fundamental. “É muito importante as trabalhadoras domésticas estarem em todas as lutas por dignidade humana. Esse Fórum e toda a resistência é válida e se a trabalhadora doméstica existe é porque ela resiste, já que é um trabalho com origem na escravidão”, disse. 

Ela destacou ainda a necessidade de lutar contra os preconceitos que acabam fazendo com que essas trabalhadoras não se compreendam como classe trabalhadora. “Só a luta por direitos vai garantir avanços”, disse Ernestina, criticando a desvalorização desse tipo de trabalho.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

A vereadora de Porto Alegre Laura Sito (PT) ressaltou a importância da participação parlamentar nos espaços democráticos e lembrou que a Capital já foi símbolo mundial de participação e de debates qualificados para pensar a democracia. “Infelizmente há algum tempo [Porto Alegre] vem sofrendo os mesmos maus que o Brasil, que é a perda da participação, da democracia interna da cidade, inclusive do senso de coletividade no município”, lamentou. 

Para a vereadora, a volta do Fórum fortalece a luta pela democracia no país, “que precisa ser retomada e qualificada, com a participação do povo”.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

O vereador porto-alegrense Matheus Gomes (PSOL) saudou o momento de encontro de lutadores e movimentos sociais. “Acho que temos um grande debate para fazer que é a democratização do sistema de justiça no Brasil, a defesa das liberdades democráticas e também projetar um futuro para deixar de estar apenas com uma agenda reativa”, avaliou.

“Esse é o contexto que estamos hoje, mas temos que enfrentar o fascismo e dar um passo adiante, num projeto de radicalização da democracia e dos direitos sociais no Brasil. Esse é o debate que vai percorrer esse evento”, afirmou. “Sempre que temos um encontro como este temos que aproveitar para articular as lutas com mais força”, finalizou.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

A vereadora Daiana Santos (PCdoB), lembrou que  Porto Alegre foi referência e símbolo de transformação e de luta, citando o Orçamento Participativo. “Não poderia ficar sem esse momento único logo depois de um período de pandemia muito duro, de todo esse retrocesso diante das políticas públicas, de toda essa desconstrução que nos colocou neste abismo onde a gente só se afunda em desigualdade, onde a gente está vendo o povo voltar para o mapa da fome”, afirmou. 

“A gente vê uma desvalorização do salário mínimo, o empobrecimento da população, nitidamente consegue compreender como está dura a vida do trabalhador. Essa é uma relação que é muito maior que a questão política, é uma relação de consciência de classe, de um ajuste que vai ser preciso feito com várias mãos, com as mãos daqueles e daquelas que compreendem que só através desta união, desse movimento coletivo, é que vamos conseguir mudar a cara dessa política genocida, corrupta, que entrou com promessas e muitas mentiras”, completou ao falar Fórum como símbolo de resistência.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Lara Crochi, da Federação Nacional dos Estudantes de Direito (FENED), ressaltou o papel dos estudantes de direito nos espaços dos fóruns. Para ela, é preciso voltar a se reinserir lutar por todas as pautas que sejam pertinentes. “A gente está, enquanto Federação, construindo junto com o Fórum Social, junto com a ABJD, uma campanha de estudantes de direito por justiça e democracia que dialoga diretamente com o Fórum Social Mundial”, contou. 

A estudante participará da mesa “Propostas para o Sistema de Justiça”, na manhã desta quarta-feira (27), no auditório do Ministério Público Federal, promovida pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

O músico Richard Serraria destacou a importância histórica da participação dos movimentos culturais no Fórum num “momento do avanço do fascismo, em que direitos básicos de cidadania vêm sendo dilapidados em diferentes partes”. Para ele, Porto Alegre tem uma história dentro desta outra história que é o próprio Fórum Social Mundial, que congrega diferentes instituições e movimentos sociais. 

Ele ressaltou o papel da arte no fórum, não só como estética mas também como ética. “Ética no sentido de um entendimento político, somos seres políticos, somos seres feito de sororidade. E a sororidade do povo brasileiro também é uma sororidade de luta, dos povos originários, pela sobrevivência, demarcação já, a luta do povo negro”, apontou. “Portanto estamos aqui como artistas, como cidadãos, fazendo parte desta luta que é extremamente necessária neste momento global em que o mundo clama por mudanças”, completou.


Marcha de abertura do FSR e do FSMJD em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Fórum Social das Resistências: Programação | Inscrições

Fórum Social Mundial Justiça e Democracia: Programação | Inscrições


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Edição: Marcelo Ferreira