luta indígena

Crianças indígenas defendem demarcação de terra e autonomia sobre territórios

Radinho BdF acompanha pequenos ativistas durante Acampamento Terra Livre, maior mobilização indígena do país

Ouça o áudio:

O Radinho BdF é um programa de 30 minutos voltado às crianças e aos cuidadores - Reprodução / Território do Brincar
O desafio que a minha comunidade enfrenta é para não deixar os madeireiros estragarem a natureza

O que as crianças indígenas sonham para seu futuro? O que elas pensam sobre as atuais políticas do governo federal para os povos originários? Como elas participam de mobilizações para reivindicar melhores condições de vida para seus povos?

A edição de hoje (20) do Radinho BdF foi até o Acampamento Terra Livre, maior mobilização indígena do país, para responder essas questões e conhecer de perto os pequenos ativistas que participaram dos protestos.

“Eu brinquei e em diverti muito”, disse Glenda Guajajara, que tem 10 anos e pertence ao povo Guajajara. “Eu assisti palestras e conheci muitas novas pessoas”, contou Aydê Copxen Torino Milhomem, do povo Krikati, que tem 12 anos mora no Maranhão.

A mobilização ocorreu a entre 4 e 14 de abril, em Brasília, e foi uma preparação para o Dia de Luta e Visibilidade Indígena, comemorado 19 de abril, todo ano.

No Acampamento Terra Livre ocorreram protestos, reuniões e debates sobre os problemas que afetam os povos indígenas do Brasil, principalmente a necessidade de assegurar para eles terra para que possam viver com segurança, da forma como quiserem. A programação também teve música, brincadeira e encontros entre crianças de diferentes etnias.

“Nós participamos da dança e mostramos que nós, Pataxó, viemos para ajudar todo o nosso povo”, conta Kenaiuãn de Jesus Matos, que tem 13 anos e mora em Porto Seguro, na Bahia.

Direitos indígenas

Brincar perto da natureza, ter uma casa para morar, manter os costumes da sua família, ir para a escola e viver em segurança são direitos de todas as crianças, mas em algumas terras indígenas eles estão ameaçados. Isso ocorre porque estes territórios são invadidos por pessoas e empresas que querem explorar a natureza e expulsar os indígenas.

“No local onde eu moro tem muitas árvores, natureza, rios e cachoeiras. O que eu mais gosto de brincar é de subir nas árvores e nadar nos rios”, conta Hadja, que tem 9 anos e pertence a etnia Xhokleng. “O desafio que a minha comunidade enfrenta é para não deixar os madeireiros estragarem a natureza. Para que todos vivam em paz e em segurança é preciso que demarquem as nossas terras.”

Os madeireiros são pessoas que invadem terras indígenas e áreas de floresta para derrubar árvores e vender a madeira. Demarcar terras indígenas significa separar uma porção do território do nosso país para que apenas os povos indígenas vivam nele, caso queiram. Lá eles podem manter seus costumes e suas tradições.

E como crianças e adultos indígenas vivem em uma relação de muito respeito e cuidado com a natureza, as terras indígenas ajudam a preservar as matas e a cuidar dos animais.

Quem demarca as terras indígenas é o governo do Brasil, mas poucos foram os governantes que fizeram isso. Com o presidente Jair Bolsonaro, a situação se tornou ainda mais complicada: durante todo o seu governo ele não demarcou nenhuma terra indígena.

Atualmente, tramitam no Congresso Nacional um conjunto de projetos de lei que ameaçam os indígenas, colocando em risco direitos à terra, segurança, saúde e educação. E foi para mudar essa realidade, pelo menos 8.200 pessoas se reuniram no Acampamento Terra Livre, para pressionar o governo a não aprovarem esses projetos.

Quebrando estereótipos

Atualmente no Brasil, existem 305 etnias, nome dado aos diferentes grupos de indígenas do brasil. Cada uma delas tem sua própria língua e cultura, com brincadeiras, festas, músicas, formas de se alimentar e se relacionar entre si.

E que tal aproveitar o papo com as crianças indígenas para quebrar estereótipos sobre estes povos? A imagem que foi criada para o resto da sociedade é que os indígenas são pessoas que vivem no meio das florestas, com o corpo todo pintado, usando um cocar de penas coloridas e com arco e flecha nas mãos para caçar.

A verdade é que eles ser assim, mas também podem viver da forma como escolherem. Os indígenas são médicos, professores, políticos, artistas e o que mais quiserem ser, como o rapper indígena Owerá e o premiado escritor indígena Daniel Muduruku, que marcam presença no Radinho BdF.

“Eu gosto de andar de bicicleta, de andar na aldeia, de brincar com meus cachorros, de cuidar das minhas plantas, de desenhar... Eu nado, pulo na água, faço artesanatos, como frutas, tudo aqui na aldeia”, conta Tayniawara Pankararu, que vive na Aldeia Cinta Vermelha e pertence a etnia Pankararu.


Jovens indígenas usam a internet para ampliar voz dos seus povos, de forma divertida e bem humorada / Reprodução

Influencers indígenas

A luta tem conquistado cada vez mais apoiadores graças a muitos jovens indígenas que se tornaram influencers e usam o youtube, o instagram e outras redes sociais para falar sobre sua cultura, suas reivindicações e também sobre música, literatura, jogos online e diversos outros assuntos.

Que tal variar os nomes que você acompanha nas redes e dar espaço também para os indígenas? Confira a lista especial preparada pelo Brasil BdF: 

Samela Awiá
Indígena do povo Satere Mawé, tem 55 mil seguidores no Instagram e usa as redes como ferramenta para defender suas tradições ancestrais e amplificar a luta pelos direitos de seus povos.

Elison Santos, o “Indígena Memes”
Como o nome já diz, Elison é um indígena que usa memes para abordar questões importantes das comunidades indígenas de forma divertida e bem humorada.

Wari'u
Cristan, de apenas 23 anos, de origem xavante, é considerado um fenômeno nas redes, por falar sobre diversos assuntos. Ee está presente no Instagram, Youtube e no TikTok.

Katú Mirim
A rapper Katú Mirim é mãe, ativista e indígena urbana que nasceu e cresceu na cidade. Ela lançou a hashtag #ÍndioNãoÉFantasia, para chamar atenção de crianças e adultos sobre fantasias de índio no carnaval. 

Hamangai Pataxó
Jovem indígena da Bahia se prepara para ser uma líder na sua comunidade e conta essa trajetória pelas redes. 

Daiara Tukano
Ela é especialista em Direitos Humanos e também atua como artista plástica. Tem 35 mil seguidores no Instagram e é coordenadora da primeira web rádio indígena do Brasil, a Rádio Yandê.

 

Novidades no Radinho

Para comemorar os dois anos do podcast mais brincante da podosfera, a equipe do Radinho BdF preparou uma série de novidades para as crianças.

A partir das próximas edições, o programa vem recheado de novos quadros, com mais diversão, brincadeiras e informações para os ouvintes mirins. Para isso, ele passa a ser veiculado a cada 15 dias, sempre às quartas-feiras.


Toda quarta-feira, uma nova edição do programa estará disponível nas plataformas digitais / Brasil de Fato / Campanha Radinho BdF

Sintonize

O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.

Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

Edição: Sarah Fernandes