O Tribunal de Contas da União (TCU) pautou para esta quarta-feira (20) o julgamento do processo que deve conceder a autorização definitiva para que o governo privatize a Eletrobras. A sessão está marcada para às 14h30, e o bilionário brasileiro José João Abdalla Filho, 76, deve monitorar atentamente o resultado.
Apontando pela Revista Forbes como o 18º brasileiro mais rico da atualidade, Abdalla tem uma fortuna de R$ 13 bilhões e detém aproximadamente de 5% das ações da estatal. Por conta disso, fica ainda mais rico quando os papéis da companhia sobem com o avanço do processo de privatização da empresa tocado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
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Em 2017, quando o então presidente Michel Temer (MDB) anunciou planos de vender a empresa, ele chegou a lucrar R$ 1 bilhão só com a valorização de ações da companhia, segundo reportagem do Valor Econômico.
Em março deste ano, a CNN Brasil revelou que o TCU pediu à Eletrobras a relação de acionistas da empresa já que suspeita que o vazamento de informações sobre a privatização pode ter beneficiado alguns investidores.
O ex-presidente Temer, aliás, é amigo do primo de Juca Abdalla, Antônio João Abdalla Filho, o Toninho Abdalla. Toninho inclusive esteve na cerimônia de posse do ex-presidente, após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016.
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Juca, no entanto, é bem mais discreto. Não costuma ir a eventos sociais, dar entrevistas, falar sobre seus negócios.
Mais recentemente, porém, seu nome ganhou destaque. Não por seus ganhos com as especulações acerca da privatização da Eletrobras, mas sim por conta do seu interesse em ditar os rumos da maior e mais importante empresa estatal brasileira, a Petrobras.
Banqueiro no conselho
Juca Abdalla foi indicado pelo Banco Clássico, do qual é dono e único cliente, a uma vaga no conselho de administração da Petrobras. Após uma manobra de acionistas, ele conseguiu que a votação para a composição do foro deixasse de ser realizada por chapas, mas sim com votos nominais aos candidatos. Foi eleito, junto com o advogado Marcelo Gasparino da Silva, outro indicado pelo banco.
O conselho é a principal instância decisória da Petrobras. É quem aprova planos estratégicos e maiores negócios. O colegiado tem 11 cadeiras, das quais duas são controladas por Abdalla. O governo controla seis.
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Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a chegada de Abdalla e Gasparino ao foro dá força aos planos de desinvestimentos da estatal e até de sua privatização. “Juca Abdalla é um grande especulador do mercado financeiro, que já fez fortunas com ações de empresas estatais que foram privatizadas”, afirmou Bacelar, lembrando da elétrica Gerasul, comprada pela Engie em 1998.
Abdalla tinha 10% das ações da Engie em dezembro de 2020. Também detinha 10% das ações da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e 1% das ações da Petrobras, além de outras empresas.
Essas informações foram reveladas pelo próprio Abdalla num processo judicial no qual era acusado de ter pago propina a um juiz para receber uma indenização pela desapropriação de um de seus terrenos para fins de reforma agrária. O depoimento foi citado numa reportagem da piauí.
O Brasil de Fato não encontrou informações públicas atualizadas sobre a participação acionária de Abdalla na Petrobras. Contudo, é fato que ele detém participação relevante na companhia a ponto de seu banco ter direito a indicar conselheiros.
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Pessoas que acompanham os movimentos de Abdalla no mercado dizem que a participação dele na Petrobras cresceu recentemente. Ele já teve cerca de 12% das ações da Eletrobras. Vendeu parte dos papéis que controlava depois que eles subiram de forma expressiva por conta dos rumores de privatização. Abdalla, então, resolveu “apostar” na Petrobras e vai usar o poder que seu dinheiro lhe confere para lucrar com a companhia.
Após o impeachment de Dilma, a Petrobras, em decisão ratificada pelo seu conselho de administração, adotou um novo plano de negócios e uma política de preços de combustíveis para aumentar sua rentabilidade, agradando assim os acionistas. Em 2021, a empresa registrou lucro recorde de R$ 106 bilhões.
Desse valor, R$ 101 bilhões serão distribuídos a investidores em forma de dividendos. A União, que tem cerca de 37% do capital da empresa, receberá cerca de R$ 37 bilhões. Abdalla, se mantiver ao menos 1% das ações da Petrobras, receberá R$ 1 bilhão.
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Banco vai bem
Os dividendos de Abdalla, num primeiro momento, devem ir para o Banco Clássico, que formalmente detém as ações da Petrobras. O banco foi fundado em 1989, depois que Abdalla recebeu a herança de seu pai, o político e empresário JJ Abdalla, e uma indenização de R$ 1,75 bilhão do estado de São Paulo pela desapropriação da área que virou o Parque Villa-Lobos, na capital paulista.
O Banco Clássico fica no Rio de Janeiro, mas não tem agências. Serve para administrar a fortuna de Juca Abdalla. E vai muito bem assim.
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Segundo demonstração financeira entregue ao Banco Central, a instituição administrava ativos de quase R$ 16 bilhões ao final do ano passado. Já o patrimônio líquido do banco aproximava-se de R$ 10 bilhões.
Um ano antes, os ativos do banco eram 13% menores, chegando a R$ 13,9 bilhões. Já o patrimônio líquido chegava a R$ 8,3 bilhões – 16% menos do que o mais atual.
O sucesso nos negócios, entretanto, não impede que Abdalla seja acusado inclusive de sonegação fiscal. Em 2019, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por supostamente dever à Receita R$ 617 milhões em Imposto de Renda. Em 2018, outra denúncia informava que ele teria omitido ganhos de R$ 3,3 milhões do fisco.
Juca Abdalla já foi candidato pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN) a suplente de senador numa chapa com Teresa Surita, ex-esposa de Romero Jucá (MDB). Não se elegeu. Naquela ocasião, aliás, ele declarou à Justiça Eleitoral ter patrimônio de cerca de R$ 379 mil.
Procurados pelo Brasil de Fato, Juca Abdalla nem o Banco Clássico responderam ao contato.
Edição: Felipe Mendes