O vice-presidente Hamilton Mourão tentou minimizar a compra de 35 mil comprimidos de Viagra pelas Forças Armadas e garantiu que "boa parte" da verba para a compra dos comprimidos sai de um fundo alimentado por descontos nos salários dos militares. “Eu não posso usar o meu Viagra, pô? O que são 35 mil comprimidos de Viagra para 110 mil velhinhos? Não é nada” disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, nesta quinta-feira (14).
A fala de Mourão, contudo, contesta a versão oficial apresentada pelos próprios militares. As Forças Armadas alegam que a aquisição da sildenafila (princípio ativo do Viagra) foi feita para garantir tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP). Trata-se de uma doença rara, que acomete principalmente as mulheres, que são minoria na caserna. Além disso, na dosagem adquirida, a substância é ineficiente para tratar a HAP.
O Tribunal de Contas da União (TCU) vai apurar se os militares cometeram “desvio de finalidade” na operação de compra dos comprimidos. O tribunal vai investigar também a suspeita de superfaturamento na aquisição do medicamento para impotência. O relator da ação é o ministro Weder de Oliveira. O procedimento, aberto na última terça-feira (12), decorreu de um pedido de investigação do deputado federal Elias Vaz (PSB) e do senador Jorge Kajuru (Podemos). “O governo Bolsonaro deve uma satisfação ao povo brasileiro”, disse Vaz, pelo Twitter.
Nesta quinta, a Revista Fórum divulgou que o Ministério da Defesa gastou R$ 37 mil em bisnagas de gel lubrificante íntimo, entre 2019 e 2020. “Embora esse seja um produto usado em alguns procedimentos médicos, o que chama a atenção é quantidade excessiva e a destinação para unidades que não têm relação com os hospitais militares ou divisões de saúde das três forças”, diz a reportagem.
Farra dos militares
Quem primeiro revelou o escândalo da compra do Viagra foi a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, na última segunda (11), a partir de levantamento do deputado Elias Vaz, com base em dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal. A “farra do Viagra” ganhou destaque inclusive na imprensa internacional. O jornal britânico The Guardian, por exemplo, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta “duras perguntas” sobre o escândalo.
No dia seguinte, Vaz também identificou a compra, pelo Exército, de 60 próteses penianas infláveis no valor total de R$ 3,5 milhões (média de R$ 58 mil por unidade), no ano passado, conforme publicou Guilherme Amado, colunista do site Metrópoles.
Já na quarta (13), Amado também divulgou que os militares reservaram R$ 546 mil para a aquisição de 50 frascos de botox, utilizado principalmente em procedimentos estéticos para rejuvenescimento facial. Mais uma vez, a Defesa alegou que utiliza a substância em “tratamentos para estrabismo, acalasia, dor pélvica, espasmos musculares”, dentre outras doenças, negando o uso meramente estético.
Além disso, são inúmeras as denúncias de compras de bens supérfluos pelos militares nos últimos anos. A lista inclui remédios para calvície, picanha, salmão, camarão, leite condensado e bebidas alcóolicas importadas, entre outros. Nesse sentido, o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA), líder do partido na Câmara, iniciou a coleta de assinaturas para a instalação da "CPI do Viagra", que também pretende apurar os demais gastos suspeitos dos militares.