Dois ataques foram feitos contra o Acampamento Marielle Vive, comunidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Valinhos (SP), neste domingo (10). Depois de um primeiro atentado às 3h20 da madrugada, outro, com o mesmo padrão, aconteceu às 19h20 do mesmo dia. De dentro de um carro, um homem disparou tiros contra o portão da comunidade. Os acampados se jogaram no chão e não foram atingidos.
O Acampamento foi alvejado pouco menos de duas semanas depois de a suspensão de remoções forçadas no país ter sido prorrogada até 30 de junho. A determinação foi do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). As 450 famílias do Acampamento Marielle Vive são parte das 132.290 que, vivendo em ocupações Brasil afora, foram beneficiadas temporariamente pela decisão tomada por Barroso.
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O incômodo com mais essa vitória contra o despejo; interesses econômicos para reaver a área para fins de especulação imobiliária; ódio por parte de grupos neonazistas da região são algumas das hipóteses aventadas por integrantes do MST para as motivações dos ataques.
A propriedade, ocupada desde 14 de abril de 2018, é reivindicada pela Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários. A área estava ociosa antes da ocupação. Valinhos, que fica muito perto de Campinas, maior cidade do interior paulista, é uma cidade conhecida pelos condomínios de luxo.
Com medo, crianças sem terrinha não foram à escola
Nesta segunda-feira (11), muitas crianças que vivem no Acampamento Marielle Vive não foram à escola. Com receio diante dos seguidos ataques, alguns pais optaram por manter as crianças em casa.
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Depois de enfrentar, durante dois anos, a escassez do acesso à educação com a pandemia de covid-19, as cerca de 150 crianças que moram na ocupação vivem a tensão de um possível despejo e, agora, também a apreensão com os atentados.
Até o momento, prefeitura inerte
“Exigimos que providências sejam tomadas imediatamente e que as autoridades responsáveis garantam a segurança das famílias acampadas”, afirma o Movimento em nota pública.
Procurada pelo Brasil de Fato, a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania de Valinhos informou que não está sabendo dos atentados e, portanto, não tomou providência alguma. A prefeita da cidade, Lucimara Godoy (PSD), é capitã da Polícia Militar.
Questionada por telefone se a Secretaria de Segurança Pública municipal não é notificada sobre eventos como esses quando são abertos boletins de ocorrência (BOs) na Delegacia de Polícia Civil de Valinhos, a representante da pasta pediu que a comunicação fosse por e-mail. Até o fechamento desta matéria, no entanto, não recebemos resposta.
Segundo o setor jurídico do MST, na tarde desta segunda-feira (11) haverá uma reunião para tratar do tema na Delegacia e o secretário de Segurança Pública do município, Osmir Aparecido Cruz, deve comparecer. O movimento vai protocolar um pedido de investigação e abertura de inquérito sobre os ataques.
Edição: Felipe Mendes