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"Time que não faz, leva": Bolsonaro entra em campo com milicos, milícia e centrão

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Estratégia de aliança de Bolsonaro com o centrão tem se mostrado bem-sucedida e os dois saem ganhando - PR
As últimas pesquisas foram um balde de água fria no clima de “já ganhou” da esquerda

Olá, enquanto a esquerda faz a volta olímpica antes do jogo, Bolsonaro entra em campo com toda a estrutura dos milicos, da milícia e do centrão.

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.De volta ao jogo. As últimas pesquisas foram um balde de água fria no clima de “já ganhou” da esquerda. O aumento nas intenções de votos e a diminuição da rejeição de Bolsonaro colocam uma questão: o naufrágio da terceira via ajuda ou prejudica o desempenho do capitão? A maioria dos analistas considera que Bolsonaro vem forte e deve seguir crescendo, embora ainda seja precipitado falar em uma virada contra Lula. Ele teria chances reais de chegar ao segundo turno, como reconhecem inclusive lideranças do PT. Outros, no entanto, acham que a polarização aumentaria as chances de uma vitória de Lula já no primeiro turno. Seja como for, é incontestável que o bolsonarismo teve sucesso na janela de troca partidária. Cerca de um quarto dos deputados trocou de partido e quem saiu fortalecida foi a base governista, tendo o PL na liderança e o Republicanos em terceiro. Em contraste, a terceira via saiu fragilizada e agora União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania pretendem lançar um candidato único em maio, alimentando uma dobradinha Simone Tebet e Eduardo Leite. O fato é que, ao contrário do que se pensava, a estratégia de aliança de Bolsonaro com o centrão tem se mostrado bem-sucedida e os dois saem ganhando. Bolsonaro ganha estrutura para a batalha eleitoral, inclusive nos estados e nas prefeituras. E Arthur Lira e o centrão ganham carta branca para fazer o que bem entenderem na Câmara, até mesmo ameaçar impor um regime presidencialista sem plebiscito, caso a situação se complique num futuro governo Lula. E para aqueles que, como Helena Chagas, acreditam que a aliança com o centrão esvazia o discurso outsider do bolsonarismo, o capitão continua apoiando-se sem qualquer pudor no militarismo, nos caminhoneiros, num submundo de ONGs de fachada e nas ameaças contra Lula, assim como seus seguidores. Mas, claro, as ligações da família com os milicianos são sempre um esqueleto no armário.

.E o PT, hein? Se a estratégia de Bolsonaro parece estar dando certo, a escolha do PT de jogar parado, porque “em time que está ganhando não se mexe”, bateu no teto. Por enquanto, o PT não pensa em pôr a campanha na rua antes de maio. Mas, apostando no cenário de polarização, Lula tem adotado posicionamentos mais nítidos, defendendo a nacionalização do preço dos combustíveis praticados pela Petrobras, falando em retirar militares não concursados do governo e até mesmo posicionando-se a favor do aborto como medida de política de saúde pública. Mas a tática de enfrentamento cria problemas com empresários, militares e evangélicos, e no caso desses últimos, justamente quando os petistas poderiam aproveitar o escândalo no MEC para se aproximar do setor. Os cientistas políticos Antonio Lavareda e Helcimara Telles preveem que para ter sucesso a esquerda precisará roubar votos dos eleitores que votaram na direita nas últimas eleições. Com preocupação semelhante, o senador Randolfe Rodrigues, considera que a campanha de Lula está ainda muito restrita e precisa incidir num campo político mais amplo com um programa aglutinador. Mas não é novidade que Lula sabe muito bem conciliar. Mesmo sem ter que lançar uma nova “carta ao povo brasileiro”, o ex-presidente mira o setor financeiro em uma série de encontros desde o final do ano passado. No último, ocorrido esta semana, Gleisi Hoffmann agradou a plateia ao defender a permanência de Roberto Campos Neto no cargo de presidente do Banco Central. Mas nem todas as divergências foram resolvidas com o empresariado e Bolsonaro também disputa os votos dos donos do PIB. Aliás, um dos pontos atrasados da campanha de Lula é o plano econômico de governo, tema que promete ser decisivo nessas eleições, e que o PT pretende finalizar até o final de abril.

.Na reserva. O preço dos combustíveis e o controle da Petrobras são centrais na estratégia de Bolsonaro para recuperar o fôlego da reeleição. Mesmo que a política de preços continuasse intocada, a ideia é que o novo presidente estivesse mais ao gosto do mercado do que dos militares, acelerasse a privatização e, de quebra, ainda repetisse o mantra de que o PT quebrou a estatal. O empresário Adriano Pires, escolhido pelo ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque e pelo centrão, era o nome ideal. Mas Pires e o executivo Rodolfo Landim, também indicado para a diretoria, não resistiram à primeira prova. Relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras apontaram conflitos de interesses de ambos, com históricos e relações com empresas do mercado de energia. Foi o suficiente para o Ministério Público solicitar ao TCU  que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse uma investigação da Controladoria-Geral da União. Para evitar o desgaste, Pires e Landim desistiram das indicações. Apesar do fiasco ter sido computado na sua conta, Bento Albuquerque emplacou a indicação de José Mauro Ferreira Coelho, ex-secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, vencendo novamente a disputa com Paulo Guedes e o centrão. Ainda assim, a proposta de Guedes e de Arthur Lira de acelerar a privatização da Petrobras já tem maioria no governo e pode ser pautada este ano no Congresso para ser viabilizada em 2023.

.Reprovados. Talvez o caso mais ilustrativo da letargia da esquerda esteja nos escândalos no Ministério da Educação. As provas do esquema de propinas de pastores para liberar verbas para prefeituras continuam aparecendo. Três prefeitos confirmaram à Comissão de Educação do Senado que foram abordados pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, da Igreja Ministério Cristo para Todos, para pagamento de propina em troca da liberação de verbas do Ministério. A ausência dos pastores na Comissão do Senado que discute o caso e as contradições das declarações do presidente do FNDE, Marcelo Ponte, só reforçam as suspeitas de corrupção. As denúncias também demonstram que o esquema não se limitava aos evangélicos, mas envolviam dois ícones do centrão, Arthur Lira e Ciro Nogueira. A empresa do pai de um vereador aliado de Lira em Maceió recebeu R$ 54,7 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) através de emendas do orçamento secreto e prefeituras de aliados receberam 79% dos recursos destinados a kits robóticos para escolas internet, água ou salas de aula. E Ciro Nogueira atuou diretamente para retomar a licitação para a compra de ônibus superfaturados pelo Ministério. A farra dos indicados do PL, PP e Republicanos no MEC inclui a compra de carros de luxo, acima dos seus ganhos e pouco depois do primeiro pregão eletrônico de ônibus do FNDE. Apesar dos valores envolvidos e do gigantesco caixa eleitoral que vai se formando nos municípios com o esquema, a esquerda parece ter ficado satisfeita com o pedido de demissão do pastor Milton Ribeiro, chiando um pouquinho com a ausência dele para explicações no Senado, mas razoavelmente satisfeita em ver o TCU indo atrás do caso. Mesmo assim, há chances de que o pedido de uma CPI pelo senador Randolfe Rodrigues emplaque.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Extrema-direita avança na França e Hungria; e o Brasil precisa se preparar. No UOL, o jornalista Jamil Chade comenta quais as lições para o Brasil do avanço da extrema-direita na Europa.

.Um tsunami alimentar no horizonte brasileiro . No Outras Palavras,  Jean Marc von der Weid escreve sobre o papel da agroecologia e do Estado para impedir uma crise alimentar no país.

.“Herança da ditadura tem de ser combatida com reforma no ensino militar”. Na Agência Pública,  o ex-ministro Paulo Vannuchi, e a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, apontam por onde começar a superar os resquícios da ditadura militar.

.Como a ditadura militar reforçou o racismo no Brasil. Na DW, como os militares combateram bailes soul e esconderam o racismo como crimes comuns durante a ditadura.

.A máquina oculta de propaganda do iFood. Reportagem exclusiva da Agência Pública revela como agências de propaganda usaram perfis falsos e infiltrados para desmobilizar movimento de entregadores.

.Começa um novo capítulo para os trabalhadores do Amazon. A Jacobin relata como foi a vitória histórica de criação do primeiro sindicato de trabalhadores da Amazon nos Estados Unidos.

.Memória da mais longa greve operária do Brasil segue viva em Perus (SP). O UOL TAB reencontra a memória física e humana da greve de sete anos dos trabalhadores da Fábrica de Cimento Portland Perus em São Paulo.

 

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo