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Coluna

A inviabilização da candidatura de Moro é uma vitória da luta antifascista

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"Sergio Moro serviu ao processo de combate ao campo progressista e de esquerda, mas a sua real proximidade com o golpismo da extrema direita não o tornou uma alternativa viável para a estabilização da política neoliberal no Brasil" - Lula Marques
Sergio Moro é um reacionário a serviço dos interesses das petrolíferas e construtoras dos EUA

O ex-juiz Sergio Moro é uma manifestação classe média do neofascismo emergente no Brasil e no mundo. Se a versão hegemônica do neofascismo no Brasil, o bolsonarismo, cumpre de forma quase paradigmática todos os pressupostos e todo o roteiro do fascismo do século XXI, Sergio Moro o faz com mais maneirismos e contornos. Mas o resultado é muito semelhante.

Sergio Moro e a Operação Lava Jato, sujeitos políticos indissociáveis, cresceram em protagonismo ao pretenderem ser a encarnação das classes médias frustradas pela ascensão das frações de classes subalternas. O uso político dos instrumentos de direito, para uma cruzada conservadora contra o crescimento de direitos de setores não centrais à hierarquia social e política, transformou Sergio Moro em uma das expressões orgânicas dos setores antidemocráticos no Brasil. Sergio Moro foi o artífice de um processo golpista cujo resultado foi o avanço do neofascismo e a dilapidação da soberania nacional.

O culto à tradição, a recusa à modernidade, a tentativa de eliminação do antagonista, o culto ao heroísmo, o raciocínio simplório, a vinculação ao fundamentalismo religioso, se entrelaçaram com a desconstituição de grandes setores econômicos brasileiros. A Lava Jato e Sergio Moro, como sua expressão pública, transformaram essa fusão reacionária em um programa político.

Sergio Moro tornou pública e efetiva sua candidatura à Presidência da República em 10 de novembro de 2021. Pensava que a pauta conservadora do que chamou de “legado da Lava Jato” seria suficiente para viabilizar eleitoralmente sua intentona. Talvez tenha sido suficiente para atrair a adesão de setores médios ultraconservadores e reacionários, simpatizantes da ditadura, contudo não foi suficiente para superar o impacto das revelações sobre as armações ilegais da Operação Lava Jato, tornadas públicas pela série de matérias divulgadas por uma rede de jornais e sites liderada pelo The Intercept Brasil.

As progressivas e comprovadas revelações sobre uso do sistema de justiça como operação política e as consequências econômicas da Lava Jato permitiram a exata caracterização de Sergio Moro: um reacionário a serviço dos interesses das petrolíferas e construtoras dos EUA. Apesar de todos os serviços prestados ao reacionarismo e aos interesses estrangeiros, Sergio Moro não se credenciou como o candidato da extrema direita, campo ocupado solidamente por Jair Bolsonaro. Tampouco conquistou a confiança política dos setores de centro-direita, em especial do capital financeiro.

Sergio Moro serviu ao processo de combate ao campo progressista e de esquerda, mas a sua real proximidade com o golpismo da extrema direita não o tornou uma alternativa viável para a estabilização da política neoliberal no Brasil. Descartado, primeiro pelo bolsonarismo, agora é também descartado pela centro-direita vinculada ao rentismo.

A rejeição popular ao seu nome e sua virtual inviabilização como candidato à Presidência, sucedida pelo indisfarçável isolamento em relação aos partidos de direita, são uma efetiva vitória do amplo campo democrático, da esquerda e da centro-esquerda. Junto com Bolsonaro, Moro emergiu do processo golpista de 2016 – 2018 como expressão da extrema direita e do legado da ditadura miliar. Moro fora das eleições presidenciais é expressão do encurtamento do campo e manobra da extrema direita no Brasil. Uma vitória da democracia.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko