Contra os breques

Em dia de greve, iFood paga extra de R$3 por corrida e antecipa reajuste: “Querem desmobilizar"

De terça (29) a domingo (3), trabalhadores de plataformas fazem o "apagão dos apps" por melhores condições de trabalho

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Entregadores se encontraram nesta sexta (1) em frente à sede do iFood na região metropolitana de São Paulo - Divulgação

Quem é entregador do iFood em São Paulo recebeu o aviso no aplicativo logo de manhã. Nessa sexta (1), escolhida como dia de mobilização da categoria em dezenas de cidades por melhores condições de trabalho, a empresa ofereceu uma promoção temporária de R$3 a mais por corrida no horário do almoço.  

“O iFood fez isso para desmanchar a greve. Os caras viram R$1,50 por km e mais R$3 de promoção, muitos foram fazer entrega. Tem gente que segue na paralisação, mas outros não”, narra o entregador de Carapicuíba, conhecido como Piauí. “Eles jogam sujo”, completa. 


A promoção foi oferecida pelo iFood durante período do almoço, em que a demanda é alta / Arquivo Pessoal

:: Trabalhadores do iFood, Uber e 99 fazem greves unificadas por melhores condições de trabalho ::

Altemício Nascimento, entregador de São Paulo, comenta que a tática da empresa é padrão em dias de paralisações. “É manobra, o iFood sempre solta promoção para desmobilizar a categoria. Soltam promoção de R$3, o motoboy é fisgado e aí quando é à tarde já não tem mais nada”, diz.  

“É uma farsa”, complementa João Marcos, entregador de Osasco (SP). 

Série de protestos

A maior plataforma de delivery do país tem sido alvo constante de protestos e greves com vários dias de duração por parte dos entregadores. Só entre janeiro e início de março foram 10 breques no país.  

Nessa última semana, em conjunto com motoristas de aplicativos, entregadores se mobilizam desde terça (29) em diversos municípios, entre os quais as capitais mineira, baiana e carioca. É o “apagão dos apps”. 

No último dia 18, entregadores fizeram uma paralisação no Rio de Janeiro que bloqueou os principais shoppings e pontos de entrega da capital fluminense. Nesta terça (29), junto com motoristas da Uber e da 99, entregadores cariocas brecaram de novo.  

:: Trabalho precarizado no iFood mobiliza greves de entregadores pelo país; entenda demandas ::

Como resultado das múltiplas pressões, nesse mês de março o iFood anunciou um reajuste de R$5,31 para R$6 na taxa mínima paga por corrida e de R$1 para R$1,50 no valor a cada quilômetro rodado. De acordo com o comunicado, o incremento passaria a valer a partir de sábado (2).  

Segundo entregadores reportaram ao Brasil de Fato, no entanto, o aumento do pagamento por quilômetro rodado foi antecipado: passou a ser aplicado nessa sexta (1), o principal dia nacional da paralisação categoria.  

Conforme mostra print de uma corrida feita por um entregador paulista nesta sexta-feira (1), a remuneração já foi de R$1,50 por quilômetro percorrido.


Em entrega feita em Barueri nesta sexta (1), valor paga a cada quilômetro rodado já é de R$1,50 / Arquivo Pessoal

Na frente da sede da empresa em Osasco, região metropolitana de São Paulo, trabalhadores fizeram um buzinaço e uma ronda na avenida dos Autonomistas.  

Os entregadores abriram uma faixa contra a precarização do trabalho e externando solidariedade com a greve dos garis no Rio de Janeiro, que estão paralisados desde segunda-feira (28) por reajuste salarial.  


Entregadores protestam em frente à sede do iFood em Osasco (SP) / Divulgação

Edição: Rebeca Cavalcante