As Forças Armadas brasileiras e o Ministério da Defesa publicaram, nesta quarta-feira (30), uma nota enaltecendo o golpe militar de 1964, que inaugurou 21 anos de perseguição política, assassinatos e suspensão das liberdades democráticas no Brasil.
Divulgada na véspera do aniversário de 58 anos da data, o comunicado diz que a deposição do presidente João Goulart pelos militares, em 1964, impediu a implantação de "um regime totalitário" e resultou no "fortalecimento da democracia".
A publicação é assinada pelos comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos; do Exército, Sérgio Nogueira de Oliveira; e da Aeronáutica, Almeida Baptista Junior; além do ministro da Defesa, Braga Netto.
"Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional", diz o documento.
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Para os militares que assinam o texto, o golpe foi um "marco histórico" que "refletiu os anseios e as aspirações da população da época".
"Cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular", continua.
O texto busca, ainda, diluir a responsabilidade das Forças Armadas ao citar outros atores políticos que defenderam a intervenção inconstitucional.
"Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil", diz a nota.
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Golpe é elemento de coesão para os militares, diz especialista
Pesquisador do Instituto Tricontinental, o cientista político Rodrigo Lentz afirma que a questão do golpe não é apenas uma efeméride para os militares.
"Ela é um elemento estruturante de uma coesão ideológica dentro das Forças Armadas. O anticomunismo, que é histórico, não só nas Forças Armadas, mas como no Brasil, funciona também como uma forma de coesão entre a diversidade das Forças, hierarquias e gerações", avalia Lentz.
Para o pesquisador, comemorar esse marco antidemocrático simboliza o reengajamento dos militares de a partir do golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff.
"As nossas Forças Armadas não passaram por nenhuma reforma democratizante, com exceção de questões pontuais. Elas continuaram o golpe de 64 como esse elemento de coesão ideológica", complementa.
Edição: Rodrigo Durão Coelho