Mesmo que para 30% dos infectados não apresentem sintomas, a doença pode deixar sequelas graves
No fim de janeiro, o Instituto Butantan iniciou o ensaio clínico da vacina contra o vírus chikungunya, em parceria com a farmacêutica Valneva Áustria GmbH.
Trata-se, até o momento, da única vacina que chegou na fase 3 dos ensaios clínicos, além de ter sido premiada internacionalmente com a designação de revelação (Breakthrough Designation) pela Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória norte-americana.
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Nos Estados Unidos, os estudos começaram em março de 2018 com 120 homens e mulheres de 18 a 45 anos que não haviam tido infecção natural pelo vírus chikungunya. Depois de 14 dias da aplicação da dose única do imunizante, ocorreu totalmente o desenvolvimento de anticorpos para se defender contra a infecção, que se mantiveram mesmo depois de um ano, sem nenhum evento adverso grave.
O estudo clínico de fase 3 começou em setembro de 2020 com 4.115 adultos maiores de 18 anos em 44 locais dos Estados Unidos. Após 28 dias da aplicação da dose única, registrou-se uma taxa de seroproteção geral de 98,5% tanto em adultos quanto em idosos.
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No Brasil, o estudo clínico de fase 3 será com adolescentes entre 12 e 17 anos, sugerindo resultados complementares aos obtidos nos Estados Unidos. No total, o estudo clínico de fase 3 terá duração de 15 meses e tem como objetivo avaliar a segurança e imunogenicidade da vacina em 750 participantes adolescentes.
“Os estudos no Brasil iniciaram em janeiro deste ano. O primeiro centro foi São José do Rio Preto, em São Paulo, em adolescentes de 12 a 17. É um estudo complementar ao estudo pivotar, o estudo principal da Valneva que é feito nos Estados Unidos com adultos e idosos”, afirma Tiago Rocca, gerente de parcerias estratégicas e novos negócios do Butantã.
A candidata a imunizante VLA1553, como é chamada internacionalmente, será estudada também em seis outros centros de pesquisas em São Paulo (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Aracaju (SE) e Campo Grande (MS). Em todas, a chikungunya é uma doença endêmica.
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De acordo com Rocca, “existem outras vacinas em desenvolvimento para Chikungunya, mas a vacina dessa parceria é uma das que está em estágio mais avançado de desenvolvimento”.
“Também está em andamento a transferência de tecnologia para a produção aqui no Butantan da vacina. Tendo o estudo clínico concluído e a transferência de tecnologia, a vacina passa a ser produzida aqui pelo Instituto Butantan e fornecida ao Ministério da Saúde ou outros países que tenham a necessidade da prevenção dessa doença”, explica.
Nas palavras do diretor médico do Instituto Butantan, Wellington Briques, “essa vacina é um desenvolvimento para conter uma doença regional, do Brasil. Apesar de não ter um mercado grande para ela fora do país, o Butantan se preocupa com a mitigação desse tipo de vírus. E a vacinação é o caminho para diminuir os riscos”, explica.
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O vírus chikungunya (CHIKV) é transmitido aos seres humanos pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite dengue e zika. Os sintomas podem incluir febre alta, dores intensas nas articulações dos pés, mãos, dedos, tornozelos e pulsos, dor de cabeça, nos músculos e manchas avermelhadas na pele.
Mesmo que para 30% dos infectados não apresentem sintomas, a doença pode deixar sequelas graves ou até mesmo ser mortal principalmente para aqueles que apresentam outras comorbidades.
Edição: Vivian Virissimo