"Apagão dos apps"

Trabalhadores do iFood, Uber e 99 fazem greves unificadas por melhores condições de trabalho

Rechaço à alta no preço dos combustíveis também é pauta da mobilização que começa terça (29) em ao menos 17 cidades

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Só entre 2016 e 2021, segundo o Ipea, o número de trabalhadores fazendo delivery cresceu 979,8% no país - Pedro Stropasolas

A partir de terça-feira (29), trabalhadores de aplicativos – entre motoristas e entregadores - farão greves e manifestações em pelo menos 17 cidades brasileiras.  

São elas: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Carapicuíba (SP), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Aracaju (SE), Teresina (PI), Manaus (AM), Recife (PE), Porto de Galinhas (PE), Vitória de Santo Antão (PE), Caruaru (PE), Garanhuns (PE), Petrolina (PE), Porto Alegre (RS), Brasília (DF) e Curitiba (PR).  

Melhores condições de trabalho, aumento da remuneração das corridas e rechaço à alta no preço dos combustíveis são as reivindicações que unem as categorias nas mobilizações que, em algumas cidades, levam o nome de “apagão dos aplicativos”.  

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As principais empresas que as greves miram são as maiores dos setores de transporte individual e de delivery no Brasil: Uber, 99 e iFood.  

Nesse mês, uma pesquisa vinculada à Universidade de Oxford sobre a atuação dessas e mais três plataformas no Brasil apontou condições de trabalho indecentes nas empresas.  

Há meses entregadores de app ventilam a ideia de um breque nacional contra as plataformas em 1° de abril, o dia da mentira. A isso se somaram as mobilizações de motoristas da Uber e da 99 previstas para 29 de março.


As mobilizações miram centralmente no iFood, a maior empresa do ramo de delivery do Brasil / Rovena Rosa/ Agência Brasil

As mobilizações pelas cidades 

No Rio de Janeiro, a paralisação é unificada entre motoristas e entregadores e acontece na terça (29) e na quarta-feira (30).  

No primeiro dia uma manifestação sairá do aeroporto Santos Dumont às 7h em direção à sede da Uber. No segundo, a concentração é no Trevo das Margaridas. 


Card circulando pelas redes sociais convoca trabalhadores de app a desligar a plataforma na terça-feira (29) / Divulgação

“A gente está fazendo uma grande campanha para todos desligarem os aplicativos e vamos criar vários pontos de bloqueio”, relata Luiz Corrêa, que trabalha como motorista da Uber e da 99 há cinco anos na capital carioca. 

Presidente do Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps do Rio de Janeiro (Sindimob), Corrêa conta que para a mobilização foram preparados adesivos e um bandeirão de 100 metros. 

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Na capital baiana e em seis cidades de Pernambuco, a paralisação também é unificada entre trabalhadores de app e está marcada para terça (29). Em Manaus, ela está sendo organizada apenas por motoristas. 

Em Belo Horizonte, de forma escalonada, haverá greve de ambas as categorias entre terça (29) e domingo (3). À frente da mobilização estão os entregadores, que prometem paralisar completamente os serviços de delivery durante o fim de semana.  


Em Belo Horizonte, cartazes nas bags avisam que, de 1 a 3 de abril, entregas estão brecadas / Paralisação BH

Em São Paulo, motoristas deixarão de fazer corridas na terça (29). De acordo com Lucas Rodrigues, trabalhador da Uber, a expectativa é que 700 condutores se reúnam em frente à sede da empresa, localizada na Barra Funda.  

A partir da sexta-feira (1), entregadores paulistas também brecam. Às 8h desse dia, uma manifestação está marcada com concentração em frente ao estádio do Pacaembu.  

“Pegaremos a marginal Pinheiros e depois vamos para a sede do iFood, em Osasco”, afirma o entregador Altemício Nascimento. “Vai ser tudo misturado: biker, motoboy, caminhoneiro, van escolar”, diz.  


Na capital paulista, motoristas, entregadores e caminhoneiros estão sendo convocados para ato na sexta-feira (1) / Paralisação São Paulo

Reajustes anunciados pelas plataformas 

Pouco tempo depois que a Petrobras anunciou, no último dia 10, mais um aumento no preço dos combustíveis - dessa vez em 19% para a gasolina e 25% para o diesel – a Uber, a 99 e depois o iFood, comunicaram que farão reajustes nas remunerações aos trabalhadores. 

A 99 prometeu um aumento de 5% no valor do quilômetro rodado e a Uber, um reajuste temporário de 6,5% por corrida. Acontece que, de acordo com os motoristas, o incremento até agora não chegou.  

“Mesmo com todos esses aumentos da gasolina, ofereceram um reajuste simbólico de 6,5% que na prática nunca aconteceu e, mesmo que aconteça, representa R$0,65 numa corrida mínima. Enfim, né? O pessoal se revoltou”, narra Mônica Sguerri, motorista de app em São Paulo.  

:: Motoristas contestam Uber e 99: "O reajuste, além de ser insignificante, não aconteceu" ::

A 99 afirmou ao Brasil de Fato que desde a última quarta-feira (23), os motoristas recebem “um auxílio em seus ganhos com base na variação dos custos da gasolina em diferentes regiões do país”. Segundo a 99, serão pagos R$0,10 a mais por quilômetro rodado para cada R$1 de aumento do combustível.  

A Uber foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.  

O iFood anunciou, no último dia 17, que deve reajustar a taxa mínima paga ao entregador a cada corrida. De R$5,31, ela deve passar para R$6. Já o valor pago por quilômetro rodado deve passar de R$1 para R$1,50.

De acordo com a empresa, a mudança passa a valer a partir de 2 de abril, exatamente o dia seguinte ao que já estavam agendadas as greves de entregadores.   

Para Nascimento, o reajuste anunciado é resultado da pressão da categoria por meio da intensificação das greves, que desde setembro do ano passado passaram a ter duração de vários dias. 

Entenda as demandas

O aumento das taxas, apesar de ser a principal exigência de motoristas e entregadores, não esgota a lista de reivindicações que serão explicitadas uma vez mais, agora nas greves unificadas. 

Motoristas demandam que a porcentagem de cada corrida que fica com a empresa seja fixa de 20%; que o deslocamento até o passageiro seja pago; que o valor mínimo da corrida seja de R$10 e que se instalem câmeras nos carros das motoristas mulheres. 

Mônica critica, ainda, a falta de transparência dos aplicativos. “Na Uber, a gente nunca sabe o quanto vai retirar por aquela corrida. Por isso que as pessoas reclamam muito que a gente cancela, né? A gente precisa aceitar para saber o endereço e em muitas das vezes o valor é tão, mas tão pequeno, que não compensa o deslocamento”, explica, ao demandar que essa informação se torne acessível.  

Já entre as pautas dos entregadores ao iFood estão o fim da necessidade de agendar previamente o horário de trabalho; o fim de duas ou mais entregas numa mesma corrida; que o atendimento seja feito por humanos e não robôs; o fim dos bloqueios injustos da plataforma; que a distribuição de pedidos seja igualitária entre as modalidades de entregadores; e que as taxas sejam reajustadas anualmente.  

Em Brasília, os grevistas reivindicam, ainda, que a taxa mínima por entrega seja de R$7.  

Ao Brasil de Fato, o iFood afirmou que o agendamento é opcional e que "é uma iniciativa de transparência" que visa "trazer mais previsibilidade para os entregadores e para a operação".

Os pedidos agrupados, de acordo com a empresa, dão "mais dinamismo" para as operações e possibilitam o "aumento de ganhos para os entregadores". 

Para o iFood, a comunicação sobre os problemas que podem gerar bloqueios da plataforma está sendo aprimorada. Além disso, a empresa diz não fazer predileção na distribuição de pedidos para nenhum dos modelos de entregadores.

A gigante do ramo de entregas informou que o reajuste "vai ampliar os ganhos dos cerca de 200 mil entregadores cadastrados na plataforma" e que a medida é fruto "do diálogo existente com a categoria" e "da carta-compromisso do Fórum de Entregadores". Este foi um encontro realizado a portas fechadas em dezembro do ano passado, promovido pela empresa com 23 entregadores por ela escolhidos. 

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Em relação à data escolhida para que o aumento nas taxas passe a valer, o iFood disse que "se deve por uma necessidade de ajuste na operação". 

“Eles jogaram o aumento para o dia 2 para acabar com as manifestações”, avalia Nascimento. “Mas a gente vai para cima”, completa.  

 

Edição: Vivian Virissimo