Fome

Frutos do Cerrado são superalimentos e podem colaborar no combate à insegurança alimentar

Pequi e castanha de baru são alguns dos frutos do bioma que melhoram o aporte nutricional

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A polpa do pequi tem o dobro de vitamina C de uma laranja e é rico também em vitaminas A, E e carotenóides - André Dib/WWF-Brasil
Esses alimentos são aproveitados na safra, mas tem uma potencial uso na alimentação escolar

Ainda pouco conhecidos, os frutos do Cerrado são considerados superalimentos pela variedade de nutrientes e, por isso, podem ser usados para melhorar a segurança nutricional, principalmente em comunidades tradicionais que vivem em regiões rurais por estarem mais próximos da mesa dessas famílias. 

Entre as principais descobertas, há no Cerrado aproximadamente 600 plantas que são reconhecidas pelo valor medicinal, alimentício e também pela capacidade de recuperar áreas degradadas. 

Esses frutos têm o potencial de ser incorporados à dieta alimentar das famílias rurais e também na alimentação escolar, como é o caso do espécies como pequi, castanha de baru, babaçu e buriti.

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A castanha de baru é apontada como possível substituta da castanha-de-caju e do pará por sua qualidade proteica e valor nutricional.

Segundo Vinicius Barbosa Pereira, analista de conservação da ONG WWF-Brasil, essas espécies do Cerrado ainda são subutilizadas mesmo sendo ricas em minerais e vitaminas.

“A castanha de baru hoje está sendo vista como uma das principais espécies de comercialização do Cerrado e pode ser inserida na alimentação escolar e também para ser consumida pelas famílias que não tem essa tradição de comer baru. Já o buriti, que é muito rico em vitamina A, é um excelente alimento para fazer suco”, diz.

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Rica em minerais, proteínas, fibras e lipídios, o consumo de baru associado a outras oleaginosas, pode ajudar a satisfazer as necessidades de nutrientes em uma alimentação saudável. É o que mostra o estudo "Qualidade nutricional e valor protéico da amêndoa de baru em relação ao amendoim, castanha-de-caju e castanha-do-pará”, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).


O baruzeiro, árvore nativa do Cerrado / Embrapa

Outro alimento é o pequi é rico em vitamina C, sendo igual ou superior a uma laranja. A polpa pode ser congelada para consumo durante todo o ano. Além das propriedades nutricionais, tem fama na sabedoria popular de melhorar a libido por ser rico em vitamina E.

“O pequi também é rico em vitamina A e em carotenóides é um alimento muito tradicional da cultura do Cerrado, mas que as pessoas só aproveitam basicamente na safra, mas tem que uma potencialidade grande, podendo ser estocado e beneficiado nas agroindústrias e na alimentação escolar. É um prato tradicional da região, o arroz com pequi”.

:: Pitomba, espécie nativa brasileira, é rica em vitamina C e antioxidantes :: 

Terena Peres de Castro, assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) ressalta que é extremamente importante resgatar o valor desses alimentos em período de aumento da fome. Ela explica que esses superalimentos são pouco conhecidos porque a alimentação é restrita a poucas espécies. 

Uma das consequências de não ter diversidade nas refeições é o empobrecimento da dieta, em casos mais graves pode levar a desnutrição e problemas de saúde, mas também podem ter impactos socioeconômicos para as famílias locais. 

“Hoje sabemos que espécies como, milho, trigo e a soja são a base da composição da maioria dos produtos alimentícios consumidos por boa parte da população mundial. Essa restrição da diversidade alimentar tem diversas consequências", avalia. 

De acordo com a especialista, a longo prazo, por exemplo, a perda da biodiversidade relacionada à alimentação pode ser acelerada, comprometendo a produção das sementes crioulas e os saberes associados a essas espécies, como os aspectos produtivos e culturais que fazem parte dos sistemas alimentares.

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Novas espécies usadas pelos povos tradicionais do bioma foram descobertas mais recentemente, a exemplo da bocaiúva, mangaba, cagaita, murici, mama-cadela, araticum, guabiroba e jatobá, e estão se popularizando em outras regiões do país.  

O analista de conservação da ONG WWF-Brasil fala sobre outras espécies que já vem sendo utilizadas no Maranhão e no Pará. É o caso do babaçu  um tipo específico de palmeira que produz um coco pequeno e pode ser consumido por crianças desnutridas devido à alta concentração de nutrientes. 

“O babaçu pode ser trabalhado para ser comercializado no Brasil todo. Como farinha, o babaçu e o jatobá também podem ser utilizados em receitas de pães, bolachas, biscoitos, e consumidos por crianças e estudantes. Outro benefício é para que as famílias que coletam e manejam esses frutos tenham uma remuneração com o comercialização dessas espécies e contribuindo para manter o Cerrado em pé”, afirma Pereira. 

No site centraldocerrado.org.br você consegue fazer a compra dos frutos direto com o produtor. Outra dica é buscar produtores da sua região e buscar entidades que comercializam alimentos além dos convencionais, contemplando outras variedades do Cerrado.

 

Edição: Douglas Matos