Em 08 de março de 2012, às margens da BR 020, em Planaltina, cerca de 600 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) montaram acampamento em uma área de terras griladas no Distrito Federal.
A ocupação que completou 10 dez anos, além de marcar o Dia Internacional das Mulheres, é símbolo da luta e da resistência de homens, mulheres e crianças que enfrentam dia após dia a especulação imobiliária, a grilagem de terras, além da disseminação de agrotóxicos, da monocultura e da destruição de nascentes na região conhecida como Águas Emendadas.
Em meio à luta, as famílias comemoraram no sábado (19) uma década do acampamento 8 de Março. Com direito a bolo, música, mística e saudações, os acampados e convidados do ato político cultural lembraram a trajetória de luta, dedicação e perseverança das mais de 600 famílias que constroem o território.
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Na abertura, a acampada Edineide Rocha, em uma fala enérgica e emocionante, afirmou que o acampamento 8 de Março é feito de “gente quer reconstruir o Brasil”.
“Aqui é território de amor e produção. A enxada é nosso arado, que acaricia nosso chão. A terra é de quem nela trabalha”, disse. Ela declarou ainda que as famílias conquistarão definitivamente o território que se encontra em disputa na justiça.
Localizada na Região Administrativa de Planaltina, a Fazenda Toca da Raposa, possui 1,7 mil hectares. De acordo com o processo nº 2012.01.1.031198-2 da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF, Mario Zinato Santos declara ser proprietário de parcela da área. No entanto, o MST afirma que o território se trata de terra pública, tendo como proprietária a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).
Atualmente, após acordo firmado no Ministério Público do DF, as famílias ocupam cerca de três hectares para moradia e outros 14 hectares, exclusivamente, para fins de produção de hortaliças, frutas e legumes sem o uso de agrotóxicos. Ao todo, o território em disputa ocupa aproximadamente 1.290 hectares.
Resistência
A deputada Erika Kokay (PT-DF) deu ênfase à resistência dos trabalhadores rurais do acampamento e lembrou as várias tentativas de reintegração de posse que as famílias tiveram que enfrentar até a consolidação do espaço. “A terra foi feita para ser repartida. Essa terra é de quem luta, essa terra aqui é do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”, afirmou a parlamentar.
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Kokay disse ainda que “a coragem está entranhada neste movimento, nestas mulheres que lutam pela reforma agrária”. Por isso, as cercas serão derrubadas “em nome da dignidade, da reforma agrária, por uma alimentação saudável, onde o produto da terra não seja o veneno. Viva o 8 de Março”, manifestou.
De origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a drag queen Ruth Venceremos ressaltou que celebrar os 10 anos de existência do acampamento 8 de Março “significa que os trabalhadores e as trabalhadoras são resistentes ao agronegócio, ao projeto de morte que aí está, contra os grileiros que enriqueceram usurpando as terras do povo desse país”.
Reforma agrária
“Que possamos seguir sendo esse espaço de resistência, mas também esse espaço de produção agroecológica, de produção cultural. Neste ano, mais do que nunca, temos um desafio histórico que é da gente trazer para a cena do debate político a pauta da reforma agrária, que historicamente foi esquecida”, disse Ruth Venceremos,
A drag queen e candidata a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores do DF ressaltou ainda que “é o povo trabalhador que produz o alimento que chega nas mesas da cidade, e a reforma agrária é importante, para além de democratizar a terra, é essencial na produção de alimentos saudáveis, para que a gente tenha comida de verdade no prato". Ela defendeu ainda a urgente conversão do acampamento para assentamento.
“Que esse acampamento se torne assentamento, mas que jamais perca de vista sua missão que é incomodar o latifúndio e construir a sociedade que queremos”, enfatizou.
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Marco Baratto, da direção nacional do MST, evidencia que o acampamento 8 de Março é o mais emblemático do último período. “A gente está comemorando 10 anos da resistência, mas não 10 anos de nós estarmos aqui acampados. Por que é um absurdo, na história do nosso país, na história da questão agrária, o Estado manter 150, 200 famílias acampadas de forma irregular há dez anos em uma área que é pública, que deve cumprir a sua função social”.
“Quem constrói e produz alimento saudável que chega à mesa do trabalhador são esses territórios, não é o agronegócio. O agronegócio produz commodities para exportação, soja para engordar gado na Europa, quem coloca comida na mesa do nosso povo são os agricultores familiares, assentados e acampados pelo Brasil inteiro. O compromisso histórico do MST é com a classe trabalhadora”, enfatiza o dirigente.
Para Baratto, justiça social, soberania popular e agroecologia devem ser bandeiras e compromissos históricos da luta de classes. “A classe trabalhadora tem que estar mobilizada e organizada nas ruas, defendendo as ocupações urbanas e rurais, defendendo a reforma agrária, todas as nossa pautas”, conclui.
O ato político e cultural contou com a participação de acampados e assentados de outros territórios do MST, além de representantes da Central Única dos Trabalhadores do DF (CUT-DF), da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), da Central dos Movimentos Populares (CMP), o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (Renap), da Assessoria Jurídica Universitária Popular (AJUP) Roberto Lyra Filho, do Sindicato dos Vigilantes do DF, do Partido dos Trabalhadores (PT), do Instituto Federal de Planaltina, bem como, com a presença de parlamentares.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino