R$ 3,7 bi

Correios têm lucro recorde; trabalhadores atribuem resultado a redução de direitos e demissões

Em paralelo, projeto de privatização foi devolvido e terá de ser redistribuído no Senado

|
Mobilizações de trabalhadores nos últimos anos têm denunciado supressão de direitos e se posicionado contra privatização da empresa - Divulgação Sintecet

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ameaçada de privatização pelo governo, anunciou nesta quinta-feira (17) “lucro recorrente histórico” de R$ 3,7 bilhões no ano passado, 101% maior do que no ano anterior. Uma mensagem entusiasmada da direção fala de um “horizonte promissor”, com perspectiva de dobrar o volume de encomendas e a receita nos próximos anos.

Principal representante dos trabalhadores, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect) tem recorrentemente denunciado a degradação das condições de trabalho e redução do quadro de funcionários, com consequente sobrecarga aos que permanecem.

Segundo o balanço dos Correios, em 2018, por exemplo, a empresa tinha aproximadamente 106 mil funcionários. Segundo o balanço divulgado hoje, são 89,3 mil, queda de 16%. Daquele total, 48,8 mil são carteiros. No ano passado, foram 11,8 milhões de mensagens e 2,3 milhões de encomendas entregues por dia.

O mesmo comunicado cita mudanças na gestão de pessoal como decisivos para aumento do lucro. A empresa fala, por exemplo, em “adaptação” do acordo coletivo, que teve suprimida a maior parte de seus itens, e teria proporcionado economia R$ 1,3 bilhão ao ano. Planos de demissão voluntária teriam resultado menos R$ 2,1 bilhões na folha, segundo a ECT.

A supressão de 70 dos 79 pontos do acordo coletivo, por parte da empresa, levou os trabalhadores dos Correios a uma greve de 35 dias em 2020.

Entenda o contexto: Bolsonaro tenta sair da crise com proposta de privatização dos Correios, acusam funcionários

Privatização parada no Senado

Apesar da pressão, o governo enfrenta dificuldades para fazer andar o Projeto de Lei 591, que permite a privatização dos serviços postais. Na quarta-feira (16), o senador Márcio Bittar (PSL-AC), relator do texto, devolveu a matéria à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa, porque não faz mais parte do colegiado. Com isso, o projeto terá de ser redistribuído.

Para os representantes dos funcionários, a venda da ECT provocaria um “apagão postal”, deixando grande parte dos 5.570 municípios brasileiros sem atendimento.

“Os Correios são um patrimônio da população e não de um governo. Os trabalhadores dos Correios prestam um serviço essencial de integração nacional, de entrega de encomendas, medicamentos, livros didáticos e urnas eletrônicas. Sem os Correios, não há garantias de acesso ao serviço postal para todos”, afirma a Fentect.