Além dos dados referentes a quatro cenários distintos de primeiro turno, nos quais o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, aparece liderando em todos, a pesquisa Quaest-Genial divulgada nesta quinta-feira (17) traz outras questões que mostram o tamanho da dificuldade que o PSDB, que governa São Paulo desde 1991, terá para continuar no Palácio dos Bandeirantes.
Em um fio no Twitter, o diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Felipe Nunes, trouxe alguns dos números relativos à situação dos tucanos no estado. A gestão Doria tem avaliação negativa de 46%, com 34% classificando a gestão como regular e somente 17% tendo uma avaliação positiva. A pesquisa mostra ainda que 48% julgam que o governo é pior do que se esperava e, em caso de desistência em relação à candidatura presidencial, 70% acreditam que o atual governador não mereceria uma nova chance em um segundo mandato.
O desempenho do vice-governador e pré-candidato tucano ao governo paulista também não empolga. Nos quatro cenários analisados, ele só chega a 8% em uma hipotética (e improvável) disputa com somente três nomes. Mesmo assim, fica distante do ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (sem partido), com 15%, e de Fernando Haddad, 35%.
O dilema de Rodrigo Garcia
Nome ainda desconhecido pela maior parte do eleitorado, 67% do entrevistados, o candidato tucano tem espaço para crescer, como destaca Nunes em sua análise. Mas o caminho natural para isso, que seria associar o seu nome ao da gestão Doria, encontra limites na elevada rejeição do atual governo. E os padrinhos políticos de seus adversários são mais fortes, de acordo com a pesquisa.
Quando os nomes dos candidatos são apresentados com seus apoios, Haddad chega a 41%, enquanto Tarcísio alcança 27%. O apoio de Doria faz Rodrigo Garcia permanecer no mesmo patamar, com 9%.
“Para ser competitivo, Rodrigo Garcia (vice de Dória), não só terá que ser mais conhecido, como também terá que construir sua imagem própria, se desvinculando ao máximo do atual governador. Isso pode não ser fácil, mas seu desconhecimento pode ajudar”, aponta Felipe Nunes.
Os limites dos tucanos em São Paulo
Quando Doria venceu as eleições em São Paulo em 2018, foi o sétimo pleito seguido em que o partido saiu vitorioso da disputa. De seu primeiro triunfo, em 1990, até agora, os paulistas só tiveram um governador de outra legenda em duas ocasiões, quando o titular se licenciou para se candidatar ao Planalto: em 2006, quando Geraldo Alckmin deixou o governo com seu vice, então no PFL, Cláudio Lembo, e em 2018, quando Márcio França (PSB) assumiu o posto também no lugar de Alckmin.
Berço do PT, São Paulo só viu um segundo turno com um candidato petista em uma ocasião, com José Genoino, em 2002. E, vinte anos depois, as mesmas condições que levaram o partido ao turno final podem estar presentes, com candidaturas fortes que fragmentam o campo à direita/centro-direita e a própria possibilidade de “nacionalização” da disputa estadual, com Lula e Bolsonaro exercendo forte influência entre o eleitorado paulista.
A própria eleição de 2018, a mais difícil para o PSDB até então, mostrou as dificuldades que a legenda teria pela frente, com Doria obtendo uma vantagem final de pouco mais de 3% sobre Márcio França. Também foi a primeira vez, desde 2002, que um candidato tucano não liquidou a fatura no primeiro turno em uma eleição ao governo paulista. Sem associar seu nome ao de Alckmin, o atual governador abraçou com força a alcunha “Bolsodoria”, radicalizando seu discurso no segundo turno ainda mais com um antiesquerdismo que associava seu adversário ao PT. Repetiu mais de uma vez o apelido que já havia dado ao rival, de “Márcio Cuba”, buscando o eleitorado de extrema direita.
Hoje rompido com Bolsonaro, Doria e seu vice tem rejeição garantida por boa parte daqueles que asseguraram a vitória quatro anos atrás e os números de Tarcísio de Freitas, ainda desconhecido por 56% do eleitorado, demonstram isso. Em São Paulo, o grupo pode enfrentar a mesma sina que a dita “terceira via” enfrenta no cenário nacional, espremida entre a direita mais extremada e a esquerda/centro-esquerda, com pouco espaço no centro, que tende a aderir a um dos dois lados.
Um PSDB fraturado
Desde sua entrada no partido em 2016 e de sua vitória nas prévias para ser o candidato da legenda à prefeitura de São Paulo, João Doria coleciona desafetos e chegou a provocar a saída de nomes históricos da legenda. Às vésperas daquela disputa, o então vereador Andrea Matarazzo, mais votado do partido no pleito anterior, desistiu de concorrer internamente afirmando que seu adversário havia sido “definitivamente colocado sob suspeição a partir das próprias declarações do postulante, confessando à imprensa que faz pagamentos mensais a militantes tucanos para obter apoio nas prévias.” Segundo ele, o fato era “ilegal, imoral e indecente”.
Também teve embates públicos com o ex-governador Alberto Goldman, falecido em 2019. Doria fez em seu mandato como prefeito de São Paulo inúmeras viagens pelo país, buscando viabilizar sua candidatura presidencial e, para Goldman, a atitude era um sinal de “falta de comprometimento com a cidade”. O então prefeito rebateu o ex-governador, o chamando de “fracassado” e dizendo que ele vivia “de pijamas” em casa.
Em entrevista ao portal Congresso em Foco publicada nesta quarta-feira (16), outra figura histórica peessedebista, o senador paulista José Aníbal, fez duras declarações contra o presidenciável tucano, deixando no ar a possibilidade de sair do partido. “O Doria é candidato há três anos e só cresce nas pesquisas no quesito rejeição. Ele é um marqueteiro, um marqueteiro ‘over’”, disse. “Ele ganhou a eleição por causa do ‘Bolsodoria’. Ele foi atrás do cara que é a principal razão da desagregação do Brasil hoje, dessa tensão, dessa política de ódio, de amargura. Ele contribuiu para isso fortemente. Percebemos que a polarização estava levando nossos eleitores.”
Resta saber o que será do PSDB após uma eventual derrota em seu ninho. E se o grupo político de Doria resistirá no comando do partido estando fora do poder no estado.