A violência política de gênero precisa ser enfrentada de maneira firme não apenas pelas mulheres
O Dia Internacional da Mulher existe oficialmente desde 1975, quando foi adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU), como reconhecimento às diversas lutas das mulheres pelo mundo. A mais conhecida e associada à origem da data seria em homenagem às mais de cem mulheres incendiadas dentro da fábrica Triangle Shirtwaist Company, em Nova Iorque, em 25 de março de 1911. Apesar do forte sentido simbólico, diversas lutas operárias colaboraram para este reconhecimento.
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Em 26 de fevereiro de 1909, 15 mil mulheres que viviam em condições insalubres saíram às ruas de Nova Iorque reivindicando melhores condições de trabalho.
Em 1910, Clara Zetkin, professora e jornalista alemã, propôs a criação da data na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. Não era uma data para comemorações, mas para que as mulheres pudessem se reunir anualmente a fim de refletir e avaliar suas lutas.
E em 1917, aproximadamente 90 mil mulheres russas foram às ruas contra a guerra, sob o lema “paz e pão”, reivindicando comida para seus filhos e o retorno dos maridos que lutavam no front. No calendário antigo russo essa passeata aconteceu em 23 de fevereiro, mas no calendário gregoriano corresponde a 8 de março.
Já se passaram mais de 100 anos! No entanto, os avanços ainda são poucos se comparados com outras áreas da sociedade. Precisamos apertar o passo rumo às transformações e à igualdade de direitos.
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No Brasil, faltam políticas públicas capazes de pavimentar o caminho para a equidade de gênero. A consequência dessa falta é uma sociedade partida, com sua metade feminina exposta às mais diversas dificuldades, que vão desde o acesso ao ensino de qualidade, passam pela pouca presença nas áreas universitárias de exatas, imensas barreiras para a prática de esportes, salários mais baixos quando exercem as mesmas funções no mercado de trabalho, violência física e violência política de gênero. Esses são fatores que dificultam imensamente a ampliação da participação política da mulher, condição indispensável para reverter esse quadro de semi participação na sociedade.
Precisamos de políticas públicas transversais para as mulheres brasileiras. Já nos primeiros anos escolares a escola deve ensinar meninas e meninos que as mulheres podem estar onde e ser o que quiserem; os professores precisam dizer a todas as crianças que mulher pode jogar futebol ou praticar qualquer outro esporte.
No ensino médio, o incentivo às jovens a ingressarem nas carreiras mais valorizadas, superando a ideia de que às mulheres estão reservadas as vagas relacionadas ao cuidado, seria muito bem-vindo.
No mercado de trabalho, são necessárias leis e fiscalização para garantir salários iguais aos dos homens; políticas proativas de incentivo à contratação de mão de obra feminina para os cargos mais valorizados.
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A violência contra as mulheres é outro capítulo que precisa de uma intervenção urgente do Estado, com medidas educativas e punitivas que desencorajem as agressões físicas, verbais, psicológicas e o assédio. Sem isso, não será superada a triste realidade que temos hoje.
Dossiê da Agência Patrícia Galvão mostra que 81% das mulheres já sofreram violência em seus deslocamentos pelas cidades; 76% das mulheres já sofreram violência ou assédio no trabalho; uma mulher é vítima de estupro a cada 10 minutos; três mulheres são vítimas de feminicídio a cada um dia; uma travesti ou mulher trans é assassinada no país a cada dois dias; e 30 mulheres sofrem agressão física por hora no Brasil.
A violência política de gênero precisa ser enfrentada de maneira firme não apenas pelas mulheres que sofrem, mas o conjunto das instituições precisa ter compromisso com o fim dessa praga que dificulta a presença das mulheres nos espaços públicos e de poder. Não bastam mais as notas de repúdio daqueles que se sentem ofendidos. Medidas são urgentes no Ministério Público e nas casas legislativas.
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É inadmissível que homens continuem exercendo seus mandatos depois de assediar fisicamente parlamentares mulheres ou de fazer declarações misóginas, como recentemente ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo, em ambos os casos. Eles devem perder o mandato e servir de exemplo para que os demais sejam coagidos a não repetir os feitos.
Neste Dia Internacional da Mulher todas essas reflexões passam pela nossa cabeça e nos damos conta que temos um caminho longo a trilhar, mas já demos os primeiros passos. O próximo é recuperar nosso país para a democracia, elegendo muitas mulheres na próxima eleição, assim como um governo compromissado com a emancipação das mulheres e melhores dias para toda a classe trabalhadora.
*Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB. Leia outros artigos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rebeca Cavalcante