O mês de fevereiro encerrou com 22.195 mortes registradas no Brasil em decorrência da covid-19, segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
A despeito da fragilidade dos dados nacionais existentes sobre a situação vacinal das vítimas da doença, especialistas afirmam que a maior parte dos óbitos e dos casos graves estão relacionados a pessoas não vacinadas, com o esquema vacinal incompleto ou pessoas vacinadas já idosas ou com comorbidades.
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O médico infectologista Marcelo Daher, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que, a partir de dados internacionais, “a maioria das internações em terapia intensiva e dos óbitos acontecem em pessoas que estão sem vacina, com a vacina incompleta ou com duas doses tomadas há muito tempo, sem a dose de reforço”.
“Existe um estudo da Califórnia com mais de 10 mil pessoas que mostra que, entre as pessoas vacinadas, a chance de internação em terapia intensiva é 90% menor do que entre as pessoas não vacinadas ou com vacinação incompleta. Isso traz um dado bem positivo em favor da vacinação”, afirma. “A gente vê jovens adoecendo e, quando vai verificar, são pessoas não vacinadas.”
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Mas há ressalvas. Segundo Margareth Portela, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é possível afirmar que os não vacinados têm mais chances de adoecer e morrer em decorrência da covid-19 apenas se a comparação for feita entre indivíduos com condições de saúde semelhantes, incluindo idade e comorbidades.
“Mesmo com todo mundo vacinado, os mais idosos ainda vão ser os mais vulneráveis, porque tem a própria vulnerabilidade da idade, normalmente agregando aí também comorbidades. Por exemplo, se compararmos um jovem de 20 anos não vacinado com um idoso de 85 com comorbidades e vacinado, é possível que esse idoso tenha mais riscos. Em condições semelhantes, na média, os não vacinados provavelmente morrem mais. Mas a vacina, apesar de ser um fator importante, não é o único”, diz.
Dados dos estados de janeiro
Em janeiro, de acordo com os dados da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES), por meio da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (SVAPS), pessoas não vacinadas ou com o esquema vacinal incompleto apresentaram 73% mais risco de internação em relação aos vacinados com todas as doses. Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o risco foi de 49,8% maior entre os não vacinados.
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Em Pernambuco, segundo informações enviadas pela Secretaria Estadual de Saúde, a cada cinco mortos pela doença, quatro não estavam vacinados. Entre aqueles que vieram a óbito mesmo com o esquema vacinal completo, 85% eram idosos e 85% tinham algum tipo de comorbidade.
"Os estudos científicos foram evoluindo e mostrando a necessidade do esquema vacinal com duas doses (ou dose única) mais uma dose de reforço para população adulta, porque alguns meses após as duas primeiras doses, há uma queda de nível dos anticorpos e, assim, a proteção fica prejudicada. Nesse contexto, a terceira dose vem para proporcionar o aumento da quantidade de anticorpos no organismo, aumentando a proteção”, afirmou o secretário estadual de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa, no início de fevereiro.
“Sabemos que o percentual, mesmo com todas essas doses, pode agravar, pela questão da idade ou de doenças pré-existentes, mas que, no geral, haverá uma boa proteção, evitando, principalmente, casos graves e óbitos. Esse levantamento só ratifica essa importância de tomar todas as doses preconizadas, incluso o reforço", acrescentou Longo.
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No Pará, em janeiro deste ano, dos pacientes com covid internados em UTIs, 18,03% estavam com o esquema vacinal com apenas uma dose, 44,80% com esquema vacinal com duas doses, 8,19% com esquema vacinal com dose de reforço e 28,96% sem nenhuma dose de vacina. O estado não tem dados sobre o esquema vacinal dos pacientes que vieram a óbito em decorrência do novo coronavírus.
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Na rede estadual de hospitais do Maranhão, dos 81 pacientes com covid-19 em janeiro, 13% tomaram apenas uma dose e 40% não tomaram nenhuma dose. Do total, 84% apresentavam ao menos uma comorbidade, as mais comuns hipertensão e diabetes, e 68% dos tinham mais de 55 anos. Entre as 111 que faleceram no estado pela doença em janeiro deste ano, 47,75% não estavam vacinados.
O Brasil de Fato também solicitou dados dos estados do Amazonas e São Paulo, mas não obteve respostas. Todos os estados citados na reportagem estavam com uma taxa de letalidade igual ou superior a 2,5% em janeiro deste ano.
Edição: Rebeca Cavalcante