A comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) para viagem à Rússia, há duas semanas, teve pelo menos 52 servidores. As informações, que não foram divulgadas pelo Palácio do Planalto e permaneciam sob sigilo até o momento, foram obtidas pelo Brasil de Fato no Portal da Transparência nesta terça-feira (1º).
A relação conta com integrantes do primeiro escalão do governo, sendo quatro ministros militares (Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência, Braga Netto, da Defesa, e Bento Albuquerque, de Minas e Energia), e o chanceler Carlos França (Relações Exteriores).
A lista também inclui 27 militares da ativa das Forças Armadas, todos alocados em cargos de confiança na Presidência da República durante o governo Bolsonaro. Entre eles, 18 são vinculados ao Exército, sete à Aeronáutica e dois à Marinha. Ainda no grupo dos fardados, estão quatro militares cedidos pelo Governo do Distrito Federal à União.
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Os diplomatas representaram menos de 20% do grupo que foi à Rússia. Foram nove funcionários do Itamaraty presentes na viagem, sem contar o ministro França. Quatro deles estão alocados em cargos comissionados na Presidência, e outros cinco seguem vinculados ao Ministério das Relações Exteriores.
Assessores da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) completam o time que se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin e, em seguida, foi à Hungria. A viagem foi alvo de críticas pelo momento em que foi realizada, às vésperas da invasão da Ucrânia. Na visita, Bolsonaro chegou a se dizer “solidário” à Rússia.
A lista de integrantes da comitiva presidencial na Rússia não foi fornecida pelo Palácio do Planalto à imprensa, como é praxe em viagens oficiais. A relação nominal dos servidores é um dos pedidos apresentados pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF).
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Na ação, o senador pede que a investigação do inquérito dos atos antidemocráticos, que corre na Corte, apure a presença do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do assessor Tercio Arnaud na comitiva da viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia. O filho do presidente não consta na lista de 52 pessoas obtida pelo Brasil de Fato no Portal da Transparência.
O número elevado chama a atenção em comparação a outras viagens presidenciais, como a que foi feita para Nova Iorque, nos Estados Unidos, em setembro de 2021. Na ocasião, 19 nomes constavam na lista oficial de integrantes para acompanhar o presidente na Assembleia Geral da ONU.
O tamanho da comitiva é ainda mais curioso porque, por solicitação do governo russo, a comitiva foi reduzida drasticamente com o objetivo de diminuir os riscos de contaminação de Putin pela covid-19. A informação foi revelada pela coluna de Bela Megale, em O Globo. Bolsonaro, então, decidiu cortar ministros que viajariam com ele, como o da Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça, Anderson Torres.
Na ocasião, funcionários do Itamaraty afirmaram à jornalista que um dos principais focos da viagem era a cooperação de tecnologia militar entre os governos brasileiro e russo e que, por isso, a comitiva será formada majoritariamente por militares.
Leia a lista completa:
Custos da viagem
Outro fator que chama a atenção no detalhamento da viagem à Rússia disponível no Portal da Transparência é o alto custo. Mesmo sem contabilizar os gastos em cartões de crédito do governo federal, meio de pagamento dos gastos de Bolsonaro, por exemplo, o valor é de R$ 229,6 mil.
A cifra representa apenas os gastos com diárias e passagens aéreas daqueles que não foram no avião da Força Aérea Brasileira, que transportou o presidente e seus assessores mais próximos. O custo de deslocamento da aeronave oficial também não foi contabilizada nesse valor.
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Apenas a viagem de Bruno Eustáquio de Carvalho, servidor do Ministério de Minas e Energia, custou R$ 45.325,91. Antes de ir à Rússia, ele estava em viagem oficial com o ministro Bento Albuquerque em Lisboa, em Portugal. Por isso, é o recordista de gastos da comitiva presidencial. Apenas o trecho Moscou-Brasília, em seu retorno, custou R$ 12.171,08.
Os diplomatas Luiz Filipe Maciel Gomes, Mirtes Sobreira e Vinicius Dias Chagas Coelho também registraram valores exorbitantes. O primeiro custou R$ 36.752 aos cofres públicos, enquanto os outros dois gastaram a mesma cifra, de R$ 30.614. Um major da Aeronáutica e um diplomata do Itamaraty gastaram mais de R$ 10 mil cada.
Outro lado
O Brasil de Fato consultou a Presidência da República sobre o tamanho da comitiva presidencial e seus custos. Até o momento, não houve retorno de nenhum dos órgãos. Caso a resposta seja enviada, será adicionada imediatamente à reportagem.
Edição: Vivian Virissimo