Rio de Janeiro

TECNOLOGIA

Projeto da UFRJ desenvolve e-commerce para cestas agroecológicas de pequenos agricultores

Sistema é utilizado para a comercialização de alimentos agroecológicos no Rio, Espírito Santo, Goiás e Belém do Pará

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Sistema de pedidos é utilizado no Armazém do Campo RJ, na Lapa, e experiências de comercialização agroecológica em outros estados do Brasil - Nathalia Gonçalves

Pesquisadores da área de computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criaram um sistema de pedidos online que tem facilitado a comercialização de alimentos agroecológicos por pequenos agricultores de todo o Brasil. A tecnologia, criada no último ano, já é utilizada no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Pará. 

“O sistema é uma estrutura de e-commerce online que auxilia na venda das cestas produzidas por esses agricultores. Com isso, etapas como a encomenda e a distribuição das cestas, além do controle de produtos, passam a ser feitas por meio da plataforma”, explica Celso Alvear, coordenador do projeto de extensão do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (Nides/UFRJ).

Leia mais: Universidades federais perdem 12% do orçamento durante governo Bolsonaro

Nos últimos três meses de 2021, o sistema online rendeu um faturamento acima de R$ 96 mil reais em vendas para a agricultura familiar e cooperativas de produção nos estados. Para Alvear, tão importante quanto potencializar as vendas é reeducar os consumidores sobre a cadeia produtiva do alimento na perspectiva do campo. 

“Os grandes supermercados têm estoques infinitos de hortaliças com o uso de agrotóxicos, então é possível oferecer no site aquele produto todos os dias. O grande elemento de uma cesta agroecológica são os ciclos de produção de cada alimento. Não queremos que o sistema reforce a lógica de que o consumidor vai ter tudo que ele quer no dia que ele quer. É preciso entender a sazonalidade dos produtos, ou que algumas famílias têm a cultura de plantar determinados alimentos”, afirma o professor da UFRJ.

Parte do desafio de desenvolver a tecnologia, segundo Alvear, é incorporar no site as características regionais de cada cesta. Na Feira Interinstitucional Agroecológica, em Goiás, por exemplo, o consumidor deve escolher ao menos um produto de cada núcleo familiar para finalizar a compra. A regra é uma “tentativa de garantir a geração de renda e a permanência de todos os agricultores”, segundo o coletivo.

Leia também: Bem Viver na TV: Qual a importância da certificação de orgânicos?

“A grande dificuldade dos agricultores quando fazem feiras são as perdas. Em geral, sobram muitas coisas. As cestas agroecológicas são uma possibilidade de renda mais garantida para o agricultor, ele sabe que vai colher e vender”, completa Alvear, elencando que outro benefício da loja virtual é o melhor aproveitamento do tempo. 

Antes, segundo ele, horas eram perdidas fazendo o controle manual dos pedidos. “Com o sistema, sobra mais tempo para atividades importantes, como divulgar a agroecologia, a reforma agrária, coisas que antes as pessoas não tinham porque era um esforço muito grande atender os pedidos pelo WhatsApp, jogar na planilha, organizar, ver as contas, o pagamento”, finaliza.

Tecnologia social

Além do Goiás, o sistema de comercialização de cestas é utilizado no Rio de Janeiro pelo Armazém do Campo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Grupo para Consumo Agroecológico (Gruca), de Belém do Pará, e na Cesta Camponesa de Alimentos Saudáveis, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), no Espírito Santo. 

Leia também: "PL do Veneno" causará "danos irreparáveis", diz Fiocruz em nota enviada aos senadores

Para este ano, os pesquisadores esperam aprimorar a ferramenta com base nas experiências já realizadas. Um dos objetivos é lançar um plugin (uma espécie de extensão ao sistema principal) que simplifique o gerenciamento do site, possibilitando mais autonomia mesmo para quem não domina a linguagem da computação.

Outras cestas agroecológicas foram selecionadas para receber a hospedagem e domínio gratuito de sites em 13 estados e o Distrito Federal. Em 2021, o projeto foi certificado no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais.

Edição: Mariana Pitasse