O presidente colombiano, Iván Duque, reuniu-se com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, em Bruxelas na última segunda-feira (14) e voltou a hostilizar a Venezuela. A Colômbia é o único país-membro da Otan na América Latina e abriga sete bases militares estadunidenses.
Duque e Stoltenberg afirmam que "o regime venezuelana ameaça a paz regional", sem mencionar os recordes de assassinato de lideranças sociais na Colômbia. Somente em 2022 foram registradas 19 chacinas com 82 mortos e 27 líderes sociais assassinados, segundo o Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz).
"Estamos de acordo que cada parte deve ter um papel construtivo para a paz regional", afirmou o chefe da Otan.
Junto al Secretario General de la @NATO, @jensstoltenberg, compartimos la preocupación sobre el régimen de Venezuela y concordamos en que debe existir un papel muy constructivo para la paz regional y el beneficio de nuestras naciones. #AgendaDeTrabajoEnBélgica. pic.twitter.com/Vd6c5EIKZg
— Iván Duque 🇨🇴 (@IvanDuque) February 14, 2022
Desde janeiro, os governos de Colômbia e Venezuela militarizaram a fronteira entre ambos países após conflitos armados nos estados de Arauca (Colômbia) e Apure (Venezuela).
Políticos da direita colombiana e a oposição venezuelana afirmam que a Rússia já teria enviado militares para a região fronteiriça. O vice-chaceler russo, Serguei Ryabkov, não descartou que, se as negociações com o Ocidente sobre o avanço da Otan no leste europeu falharem, medidas como a implantação da infraestrutura militar russa em Cuba e na Venezuela poderiam ser tomadas.
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Por isso a reunião entre Duque e Stoltenberg também está relacionada às tensões entre Rússia e Ucrânia.
"Todo país deveria ser livre para exercer sua soberania e decidir se quer ou não unir-se à Otan. Nenhuma nação pode fazer pressão sobre outra para que não cumpra com seu direito de fazer parte da Organização", declarou o mandatário colombiano.
Enquanto Bogotá denuncia que a violência seria causada pelo "narcotráfico venezuelano" e sugere o apoio do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a guerrilhas colombianas, Caracas acusa o país vizinho de "exportar sua guerra interna" ao território venezuelano.
Na última semana, a Venezuela matou um dos maiores líderes do narcotráfico no país, José Revette, conhecido como "El Koki" e prendeu 31 pessoas, segundo o Ministério do Interior venezuelano. Maduro adiantou que os depoimentos oferecidos pelos criminosos detidos confirmam que os grupos irregulares são "treinados na Colômbia" e prometeu que em breve provas dessa ligação serão divulgadas.
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Por outro lado, na última segunda-feira (14), o Exército colombiano exonerou um general que comandava tropas num território de 188,8 mil km² por receber evidências da sua relação com líderes de facções de tráfico de drogas.
Nesta terça-feira (15), o ex-presidente e líder do partido Centro Democrático, Álvaro Uribe, criticou seu afilhado político. "Com todo respeito ao governo, há uma grande queixa sobre a segurança, narcotráfico e microtráfico, não se avançou no Congresso. São observações que faço com franqueza e apreço pelo presidente Duque", afirmou a meios locais colombianos.
Após fazer campanha contra os Acordos de Paz de 2016, Uribe defendeu que as iniciativas de substituição do cultivo de folha de coca falharam e que, portanto, seria necessária a realização de uma reforma constitucional para autorizar as fumigações com glifosato - principal agrotóxico da transnacional Monsanto e substância de alto teor cancerígeno.
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A Colômbia é considerada o maior produtor de cocaína do mundo e abastece aproximadamente 70% do mercado mundial da droga, segundo relatórios das Nações Unidas.
Faltando menos de seis meses para as próximas eleições, o presidente Duque viajou à Europa com agenda em Bruxelas, Bélgica, e em Estrasburgo, França, onde participou de uma sessão do Parlamento Europeu.
Edição: Thales Schmidt