“A minha casa é mais no alto, mas onde eu planto foi atingido, perdemos tudo”. A agricultora Geizilane Borel é moradora do assentamento Marubaí, no município de Cachoeiras de Macacu, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ela e a família perderam toda a sua plantação com as chuvas ocorridas no mês de janeiro e, com isso, 70% da renda mensal.
O caso de Geizilane não é isolado. De acordo com levantamento do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), cerca de 300 propriedades rurais da região foram afetadas pelos alagamentos causados pelas chuvas.
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“O que vimos no decorrer dos anos foi um grande esforço do governo do estado em atuar na privatização da empresa [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae)] sem atender às demandas da população, que neste caso já se tornou decisão judicial. Com a ausência de dragagem nos rios e a falta de manutenção das comportas os diques se rompem e constantemente essas comunidades sofrem com este problema”, destaca a nota publicada pelo movimento.
Enchentes frequentes
Segundo o MAB e os moradores dos assentamentos de Marubaí e São José da Boa Morte, o problema das enchentes é frequente. Desde 1996, quando houve a ampliação do Sistema Imunana-Laranjal, responsável pela captação de água e abastecimento de municípios como São Gonçalo, Niterói, Maricá, Itaboraí e do bairro Ilha de Paquetá no Rio, os casos de enchentes aumentaram na região.
O caso já foi parar na justiça. Em dezembro de 2017, uma decisão judicial que teve como autor o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e réus, a Cedae e o Instituto Nacional do Meio Ambiente (Inea), determinou, entre outras medidas: "(...) que cumpram os deveres previstos nas condicionantes da Licença de Operação nº IN024701 e que tenham relação ao controle de enchentes, secas e inundações, a montante e jusante do barramento, em especial as condicionantes n. 7, 9 e 10 com a realização de dragagens e manutenção das comportas no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias”.
A decisão do juiz Eduardo Antonio Klausner determina ainda que “o não cumprimento da presente ordem acarretará a Cedae o pagamento de multa diária de R$ 100 mil e aos servidores públicos responsáveis, inclusive os do Inea, a responsabilização administrativa e penal, sem prejuízo de outras medidas assecuratórias do cumprimento da determinação e a serem fixadas oportunamente”.
O Brasil de Fato procurou a Cedae para explicações. Por meio de nota, a empresa informou que "não há nenhum dique construído ou operado pela Cedae. Quanto à Licença de Operação (LO) mencionada, suas condicionantes referem-se exclusivamente à manutenção de comportas da estrutura de captação de água para tratamento em um único ponto no Canal de Imunana, em Guapimirim".
Segundo a Cedae, "as condicionantes — que incluem também a dragagem de um trecho a montante (antes) da captação — estão sendo cumpridas e não têm nenhuma relação com o dique citado".
Quem resolve?
Enquanto o impasse da responsabilização segue sem resposta, os moradores dos assentamentos atingidos tentam lidar com o prejuízo dos alagamentos. Geizilane, por exemplo, tem dois filhos, um de seis anos e outro de dois. Ela e o marido cultivam batata doce, feijão mauá e milho. Os alimentos são vendidos para a Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ).
A renda média da família com a venda dos produtos varia de R$ 2.000 a R$ 2.500 por mês. Agora, com a perda da plantação, Geizilane e sua família estão vivendo com cerca de R$ 700 por mês.
“Eu ainda faço uma unha aqui e outra ali, mas, a gente depende da roça, a gente precisa e não está recebendo apoio nenhum do governo e nem da prefeitura, de nada. Estamos esperando uma resposta de uma autoridade maior. Até o momento, nem a gente, e nem outras famílias não estão recebendo recurso nenhum”, desabafa a agricultora.
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A Prefeitura de Cachoeiras de Macacu, por meio da Secretaria Municipal de Promoção Social e Trabalho, informou ao Brasil de Fato que está fornecendo apoio às famílias atingidas com doações de cestas básicas, mas que ainda não houve uma reunião com a Cedae para discutir o problema.
À reportagem, Jhully Serpa, que atua na direção da proteção social básica do município, informou que até o momento foram cadastradas para receber o benefício 157 famílias. Segundo Serpa, a entrega de cestas básicas deve se manter por cinco meses.
“Além da entrega das cestas, mantemos o acompanhamento psicossocial das famílias e estamos em contato com a Secretaria Municipal de Agricultura para atender a demanda dos agricultores que buscam sementes. Estamos também mapeando famílias que estão em risco para receber o aluguel social”, disse.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse