Mesmo com a vacinação, o avanço da variante ômicron desde as festas de final de ano ainda impõe uma série de restrições. A maior festa religiosa do Rio Grande de Sul, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes terá um formato inédito e híbrido este ano. Em 2021 as festas foram canceladas.
As festividades de Nossa Senhora dos Navegantes começaram no domingo (23), quando a Santa foi ao encontro dos moradores da Ilha da Pintada. No início da manhã, foi conduzida por uma carreata da Igreja dos Navegantes até o cais de embarque do Cisne Branco. Ao chegar ao cais, remadores, a pé, levaram o andor com a imagem até o barco que se deslocou para a Ilha da Pintada acompanhada por barco de pescadores e foi recebida na capela da Ilha pelo padre Rudimar Dall Asta. Durante a novena de 23 e janeiro a 2 de fevereiro, houve missas diárias na capela até a volta da imagem para a sua igreja de origem nesta quarta.
:: Artigo | Sem festas para Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá este ano ::
Originalmente a procissão era fluvial, com embarcações que navegavam o Rio Guaíba desde o cais do porto, levando a imagem da santa do centro da cidade até a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. A tradicional procissão fluvial que iniciou em 1912, foi interrompida, por ordem da Marinha em 1989, logo após o naufrágio do barco turístico Bateau Mouche.
As atividades de encerramento poderão ser acompanhadas pelo Facebook Santuário Navegantes, a partir das 9h. Todas as celebrações são limitadas a 150 pessoas, respeitando os protocolos relativos à pandemia, como álcool gel, medição de temperatura, espaçamento nos bancos.
Programação do dia 2 de fevereiro
- 14h às 15h: Missa no Santuário Navegantes com Padre Luiz Ricardo Xavier
- 16h às 17h: Missa no Santuário Navegantes com Padre Jaime José Caspary
- 18h às 19h: Missa no Santuário Navegantes Padre Romeo Maldaner
- 19h30min às 20h: Solene Entronização de Nossa Sra. dos Navegantes no seu Santuário passando num carpete azul de 30 metros com iluminação cênica. Responsáveis: Guardiões da Nossa Sra. dos Navegantes no Santuário Navegantes.
Prefeituras do Litoral permitem somente oferendas individuais a Iemanjá
O 2 de fevereiro também é dia de Iemanjá, celebrado pelas religiões de matriz africana. No sincretismo religioso, Iemanjá corresponde a Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria.
Em Tramandaí, Imbé, Torres, Capão da Canoa e Cidreira – onde está a maior estátua de Iemanjá do estado – somente serão permitidas oferendas individuais à beira do mar e sem aglomeração de pessoas.
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A Prefeitura de Capão da Canoa divulgou nota comunicando que as homenagens a Iemanjá, nos dias 1º e 2 de fevereiro, deverão ocorrer sem a instalação de tendas e atendimentos às pessoas. "As homenagens serão individuais na beira-mar, respeitando os protocolos, como uso de máscara e distanciamento. O acendimento de velas e entrega de oferendas no santuário serão liberados somente até as 19h. Após esse horário, o espaço será fechado."
Apesar de entender a necessidade de conter a proliferação do vírus, a Iyalorisá do Centro Memorial de Matriz Africana 13 de Agosto, de Capão da Canoa, Iyá Vera Soares d'Oyá da Nação Oyó Povo Yorubá, questiona a decisão, pois as restrições não são as mesmas para todos: “Nós temos este olhar da necessidade de nos cuidarmos, porém os outros setores não parecem ter a mesma preocupação. Vemos aglomerações na Beira Mar (Orla), nos Quiosques, nos shows em lugares fechados lotados"
"Também vemos as missas e cultos de outras religiões todas cheias. Nas ruas um bom número de pessoas sem máscaras. Tudo acontecendo. Mas a proibição é só para nós povos originários que carregamos nossa tradição para agradecer as águas e trocar as energias com nossas práticas tradicionais. A minha dúvida é: o vírus vai estar nos lugares e nas horas demarcadas para essa parcela da sociedade? No mínimo, isso é racismo, discriminação e intolerância religiosa.”
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Iemanjá é um orixá feminino (divindade africana) das religiões Candomblé e Umbanda. O seu nome tem origem nos termos do idioma Iorubá (língua nígero-congolesa) “Yèyé omo ejá”, que significam “Mãe cujos filhos são como peixes”. É considerada a mãe de todos os adultos e a mãe dos orixás. É a padroeira dos pescadores. Para as religiões de matriz africana, é ela quem decide o destino de todos aqueles que entram no mar.
O documentário longa-metragem “Cavalo de Santo”, baseado no livro homônimo da fotógrafa Mirian Fichtner, mostra a presença africana no segundo estado brasileiro mais branco do país e apresenta a diversidade, de forma ampla, das principais linhas da fé cultuadas pelo povo de religião no Sul, suas características regionais e como diferenças existentes, entre os rituais do Sul e os que ocorrem no restante do Brasil.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko