Se queremos contornar crise climática precisamos demarcar terras indígenas
Em entrevista exclusiva, uma das principais lideranças indígenas do país, a jovem Txai Suruí, de apenas 24 anos, defende que a sua luta e de seu povo extrapola pautas restritas aos povos originários e tem como foco a manutenção da vida no planeta. Para ela, é urgente “globalizar a luta dos povos indígenas” para reverter os efeitos das mudanças climáticas no mundo.
“Eu sempre tento globalizar a luta dos povos indígenas. Não é uma luta só por nós, pelo nosso território ou pelos nossos direitos. Agora conseguimos ver a importância dos povos indígenas, da floresta e da Amazônia para o mundo. Sem a Amazônia não há vida”, disse, em conversa com o programa BdF Entrevista, repercutida na edição de hoje (25) do Programa Bem Viver.
Txai Suruí chocou as principais autoridades do mundo com seu discurso histórico na Conferência da ONU para as Mudanças Climáticas (COP 26), realizada na Escócia, em outubro do ano passado. Ela denunciou as violações de direitos de povos originários no Brasil e a destruição da Floresta Amazônica. A mensagem foi tão impactante que o presidente Jair Bolsonaro, que não estava no evento, se pronunciou atacando a indígena.
“A gente tem floresta em pé onde temos povos indígenas. Se queremos contornar crise climática e garantir um futuro de qualidade para as próximas gerações e para nós mesmos, temos que ir no sentido contrário do que estamos indo. Sempre me preguntam o que Brasil deve fazer para contornar crise? Eu falo: se onde há povos indígenas há florestas o que precisamos fazer é demarcar terras indígenas.”
Mesmo sendo jovem, Txai Suruí tem grande bagagem na luta socioambiental, muito por conta de seus pais, que desde sempre atuam na causa. Hoje ela é responsável pela criação do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. A organização tem aproximadamente 1,7 mil filiados em menos de um ano de existência.
Txai também coordena a entidade Kanindé, organização fundada em 1992 para dar assistência ao povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Em paralelo, ela cursa o último semestre de Direito e será a primeira da família a ter uma graduação superior.
Crime da Vale em Brumadinho
Hoje (25) completam-se três anos do crime da mineradora Vale no município de Brumadinho (MG), um das maiores tragédias ambientais da história do país. Após o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, uma avalanche de lama tóxica tomou conta da região. Ao todo, 272 pessoas morreram, e outras cetenas foram impactadas. Além disso, o meio ambiente foi gravemente afetado.
As ações de reparação não seguem a contento. O ambiente atingido continua contaminado e a população local sofre diretamente com estes impactos. Desde 2020 são divulgados estudos independentes que revelam como a terra e a água do rio Paraopeba, principal curso atingido pela lama, seguem com altos índices de metais pesados e outras substâncias tóxicas.
Mesmo com os acordos feitos entre a Vale e o governo mineiro, parte da população impactada não conseguiu retomar a vida. Os danos vão além do que está nos pareceres das autoridades envolvidas.
O Brasil de Fato em Minas Gerais ouviu moradores e moradoras da região sobre suas perspectivas após o crime ambiental. Na opinião deles e delas, a única saída é se organizar coletivamente e seguir lutando.
Escola Nacional Florestan Fernandes
A Escola Nacional Florestan Fernandes completou 17 anos de história. O espaço é reconhecido como uma referência internacional por unir a prática com a teoria política marxista.
Ela foi construída em Guararema, interior de São Paulo, por cerca de mil militantes de 112 assentamentos e 230 acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A inauguração ocorreu em 2005, quando a instituição foi batizada em homenagem ao sociólogo e político brasileiro Florestan Fernandes.
Atualmente são oferecidos cursos livres, superiores e de especialização, além de parceria com 35 instituições de ensino reconhecidas e prestigiadas no Brasil e no mundo. O espaço é mantido por um grupo de cerca de 40 militantes residentes, que compõem a brigada permanente Apolônio de Carvalho. Os educandos se dividem na manutenção do local durante as atividades.
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Edição: Sarah Fernandes