Rio de Janeiro

Coluna

Negacionismo: pandemia revela face oculta de Novak Djokovic e desbanca imagem do "cara legal"

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

Novak Djokovic teve o visto cancelado por se recusar a tomar a vacina contra o novo coronavírus - Reprodução / Facebook / Novak Djokovic
Um dos maiores tenistas da história não quis fazer aquilo que é básico numa pandemia: tomar a vacina

*Por Luiz Ferreira 


Novak Djokovic sempre foi considerado um "cara legal". Sempre aparecia sorrindo nas quadras de tênis de todo mundo e cativando os fãs do esporte com sua simpatia, irreverência e conquistas. Estamos falando de um dos maiores tenistas da história, de um daqueles nomes que surgem de tempos em tempos. De alguém em que os mais jovens se espelham e tomam como exemplo de conduta.

Só que a pandemia do novo coronavírus parece ter revelado uma 'face oculta' de Djokovic.

Além de promover torneios quando o mundo inteiro tentava se resguardar em casa para evitar o contágio e a disseminação da doença, "Djoko" se revelou um forte defensor do movimento antivacina.

Isso porque o sérvio teve o visto cancelado pelas autoridades australianas no dia 16 de janeiro por se recusar a tomar a vacina contra a covid-19 e tentar dar uma "carteirada" para disputar o Australian Open. A organização do torneio ainda aceitou os argumentos de que Djokovic teria sido infectado dias antes, mas logo descobriu que o tenista havia fraudado documentos e mentido sobre o tempo em que teria ficado em isolamento.

O mito do "cara legal" terminou de cair por terra depois que "Djoko" foi flagrado sem máscara no avião que o levava de volta para a Sérvia. Embora tenha sido recebido como ídolo pelos antivacina, a moral do tenista junto ao grande público ficou bastante arranhada.

Tudo porque aquele que é justamente considerado um dos maiores tenistas de todos os tempos não quis fazer aquilo que é básico numa pandemia: tomar a vacina contra a covid-19. Se imunizar e proteger seus fãs e admiradores de uma doença que já matou milhões em todo o planeta. Evitar que as pessoas próximas a ele contraiam a versão mais mortal do novo coronavírus e também os efeitos colaterais que poderiam colocar sua carreira em xeque.

A título de nota, no mesmo dia em que Djokovic tinha o visto negado, este colunista chegava a uma semana de afastamento das suas atividades regulares por conta da covid-19. E posso afirmar sem medo que se não fossem as três doses da vacina, a doença teria causado um estrago muito maior no meu organismo do que uma gripe mais forte. Eu poderia não estar mais entre os vivos nesse exato momento se não fossem elas as vacinas e o esforço de todos os profissionais de saúde que dão o sangue todos os dias para conter essa doença miserável.

De toda maneira, Djokovic parece não fazer mais questão de ser um 'cara legal'.

A sua insistência nas teorias da conspiração e a revelação de que é o acionista principal de uma empresa que trabalha no desenvolvimento de um tratamento para o novo coronavírus só reforçam a tese de que o "cara legal" escondia um sujeito mesquinho e sem escrúpulos.

Curiosamente, "Djoko" colecionou uma série de problemas depois que a pandemia começou. Além de ser expulso do US Open por ter acertado uma bolada numa juíza, ele também espalhou notícias falsas, abandonou o torneio de tênis dos Jogos Olímpicos de Tóquio de um jeito completamente absurdo e ainda desrespeitou protocolos em diversas ocasiões.

Difícil colocar Djokovic no grupo dos "caras legais" depois disso tudo e de saber que ele ainda faz questão de endossar essa postura antivacina. E no final das contas, não há como separar a pessoa do atleta. O cara que é considerado um dos maiores tenistas de todos os tempos é o mesmo que adota esse tipo de discurso egoísta.

É bem possível que "Djoko" quebre o recorde de Grand Slams nos próximos meses e escreva seu nome na história da modalidade mais uma vez. Mas ele sempre vai carregar consigo esse asterisco na sua biografia.

Que fique bem claro que títulos, medalhas e troféus não fazem um homem de bem (expressão que alguns adoram usar). Suas atitudes falam muito mais alto do que qualquer recorde ou qualquer posto entre os melhores esportistas da história.

Tentem imaginar quantas pessoas poderiam ter sido salvas se Djokovic tivesse defendido a imunização e seguido os protocolos de saúde como eu e você seguimos e teremos uma ideia do tamanho do estrago causado pelo sérvio ainda que sem intenção. Não se fazem mais "caras legais" como antigamente, não é mesmo?

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

Edição: Mariana Pitasse