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Crônica | Ovos Caipiras

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O velho Barreto sempre foi muito generoso e sempre presenteava as pessoas com ovos de galinha caipira do seu sítio no interior do interior de Minas - Foto: reprodução
No pacote, sempre vinha uma carta perguntando sobre a família, o mar e se os ovos se eram gostosos

O velho Barreto sempre foi muito generoso e sempre presenteava as pessoas com ovos de galinha caipira do seu sítio no interior do interior de Minas. Ninguém ia ao seu sítio e saía sem os famosos ovos literalmente na mão. Até gente grã-fina, com bolsa do Louis Vitton, pegava ovos de graça. 

Seu Barreto tinha um sobrinho muito rico e querido que morava na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Todo mês, seu Barreto enviava duas dúzias de ovos para ele, totalmente de graça. Ele só pagava o frete. Seu Barreto despachava num caixote frágil sem muita proteção e os ovos chegavam todos quebrados. 

Seu sobrinho nunca reclamou e, para a sua esposa não saber o que acontecia realmente com os ovos que o tio mandava, ele comprava outros ovos caipiras na vendinha do seu Amaral, que levantava cedo para comprar tudo fresquinho e orgânico. Seu Amaral ficava intrigado que o sobrinho do seu Barreto jogava uma caixa cheia de ovos fora e comprava ovos na mão dele. Mas nunca teve coragem de perguntar. 

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Com os ovos, sempre vinha uma cartinha do seu Barreto com saudações e perguntando sobre a família, o mar e se os ovos se eram gostosos.  Seu sobrinho sempre lhe respondia muito agradecido. Só que, na verdade, ele nunca saboreou um ovo do sítio do seu tio. Mas, para não desagradar a ele, nunca falou a verdade.  

Um dia, muito curioso, perguntei ao sobrinho do seu Barreto por que nunca avisou ao tio para não mandar mais ovos, já que ele era tão pobre e precisava dos ovos para sobreviver. O sobrinho me olhou com olhos de Capitu e de Lobo Mau e falou com uma voz quase que embargada:

- Nunca vou falar para ele. Meu tio ficaria muito triste com isso. Minha mãe deu o sítio para ele, falou que o pagamento era mandar ovos para mim, todo mês. Assim ele o faz. Com uma alma generosa igual à do meu tio, temos que ser muito delicados. 

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa