A população mineira recebeu com preocupação, na semana passada, a notícia do transbordamento do dique, parte da barragem de rejeito da Mina Pau Branco, da mineradora francesa Vallourec, localizada entre os municípios de Brumadinho e Nova Lima. A rodovia BR-040 foi inundada e interditada por dois dias.
Para Guilherme Camponêz, biólogo e coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), são muitos os impactos imediatos do transbordamento. “A primeira coisa que a gente pode dizer é que uma pessoa ficou ferida”, lamenta, ao lembrar de um motorista que passava pela rodovia no momento e precisou ser hospitalizado.
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Guilherme acredita que a mineradora também precisa ser responsabilizada, mesmo que indiretamente, pela morte de uma família. “A gente tem que colocar na conta da mineradora a família que saiu de Paula Cândido para o aeroporto de Confins. Por conta do bloqueio da BR-040, eles fizeram um desvio e passaram pela Serra da Moeda. Teve um deslizamento de terra que atingiu o carro e matou toda a família, cinco pessoas, incluindo duas crianças”, explica.
Após vistoria ao dique na tarde de sábado (8), a Agência Nacional de Mineração (ANM), determinou que a estrutura da mina passasse para o nível 3 de emergência, de alto risco e com possibilidade de rompimento. A falta de segurança fez com que seis famílias precisassem ser evacuadas.
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Ainda foi necessária a evacuação de um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), do Ibama, localizado às margens da BR-040. A estrutura abrigava mais de 400 animais que precisaram ser removidos às pressas.
A culpa é das chuvas?
Guilherme, do MAB, defende que, ainda que seja necessária uma maior apuração sobre o que aconteceu no dique, não se pode culpar a natureza pela falta de segurança oferecida pelas mineradoras. Ele argumenta que as estruturas presentes na Mina do Pau Branco deveriam suportar chuvas muito fortes.
Em janeiro de 2021, a pedido da Vallourec, foi realizada uma reunião de urgência do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) que garantiu a ampliação da pilha de estéril Cachoeirinha da Mina Pau Branco. Na ocasião, ambientalistas alertaram sobre os riscos do aumento da pilha, que deslizou e provocou a tragédia. Porém, as críticas não foram consideradas.
Após recomendação da Secretaria de Meio Ambiente (Semad), a Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do Copam atendeu o pedido de urgência da Vallourec e realizou um processo acelerado de licenciamento.
Caso Vallourec não é o isolado
Com o aumento das chuvas, moradores de cidades próximas a estruturas de barragens estão em alerta para o caso de possíveis rompimentos. Segundo levantamento do governo de Minas Gerais, 31 barragens de rejeito estão em situação de emergência. Segundo a União, esse número chega a 36.
No domingo (9), moradores de Congonhas (MG) assistiram a deslizamentos de terra na Casa de Pedra, maior barragem de rejeitos de mineração localizada em território urbano da América Latina, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). As fortes chuvas na cidade deixaram a barragem repleta de água e trouxe imensa preocupação quanto à possibilidade do seu rompimento.
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Já a Prefeitura de Pará de Minas, emitiu, na segunda (10), um alerta de urgência para que moradores de Pará de Minas, Pitangui e Onça do Pitangui deixassem suas casas. A Defesa Civil da cidade informou que a represa da Usina do Carioca tinha 99% de chance de romper.
Enchentes com água contaminada
Com o aumento das chuvas, famílias de regiões próximas ao Rio Paraopeba, contaminado após o rompimento da barragem em Córrego do Feijão, em 2019, vivenciam situação de risco de vida e saúde.
“Não há como reparar um crime tão grande como esse. É a nossa natureza e o bem maior que a gente tem, o ser humano. Agora com as enchentes, o minério está chegando dentro das residências”, declarou a moradora da comunidade Vale do Sol, em São Joaquim de Bicas, atingida pelo rompimento da barragem Vale. Ela pediu para não ser identificada.
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No município de São Joaquim de Bicas, a aldeia Naô Xohã, de indígenas das etnias Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe, atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho, foi alagada pela cheia do Rio Paraopeba.
Com o alagamento, as famílias ficaram ilhadas e precisaram ser alojadas em abrigos da prefeitura da cidade. “Ainda não é oficial se temos condições de voltar a morar naquele local. Mas a gente sabe que não, o território já era contaminado e agora está pior. Estou muito preocupado com as famílias”, desabafa Sucupira, vice cacique da aldeia.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), monitorou que cerca de 700 pessoas estão desabrigadas nos municípios da bacia do Rio Paraopeba. Com o transbordamento do rio, as famílias têm contato direto com a água contaminada. Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), em Minas Gerais, até quinta (13), 374 municípios declarama situação de emergência.
“A culpa não é da chuva. É responsabilidade histórica de quem constrói um modelo de desenvolvimento que produz a morte como resultado corriqueiro. Nas regiões atingidas por barragens, o resultado dessa tragédia ganha novas amplitudes, danos e prejuízos”, afirma o MAB.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa