Mais de 800 mil baianos foram atingidos pelas chuvas, de acordo com a última atualização publicada pela Defesa Civil do estado. Dos 174 municípios afetados, 163 estão com decreto de situação de emergência. São mais de 28 mil desabrigados, cerca de 73 mil desalojados, além de 520 feridos e 26 pessoas mortas.
O governador Rui Costa (PT) tem visitado as cidades atingidas e se reunido com prefeitos para traçar estratégias de reconstrução dessas localidades. Ele prevê um investimento de cerca de R$ 2 bilhões para reconstruir estradas estaduais e federais, casas e dar suporte às famílias.
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Welington Sousa, morador de Jequié, no Sudoeste, perdeu cama, armários, colchão, além de eletrodomésticos. Até o momento, o apoio governamental concreto que sua família recebeu foi a visita do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) no início das chuvas.
"Além do CRAS, que veio aqui dar suporte logo no início, não teve mais nada. Algumas pessoas particulares que, graças a Deus, vieram ajudar. Um deu uma coisa, outro deu outra e é com o que a gente está começando a se erguer de novo", compartilha Wellington.
Normacy, que também é moradora de Jequié, conta que perdeu todas as coisas que estavam dentro de casa. Mesmo com alguns dias de estiagem, ela conta que sente medo de passar por isso novamente. "A gente fica com medo. Estou aqui limpando a casa, ainda tirando lama. Estou aqui na luta", afirma a moradora.
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Mileide Aparecida é militante do Movimento dos Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) em Jequié. Ela compartilha como tem sido a atuação dos movimentos sociais na cidade: "Estamos fazendo trabalho de formiguinha. Elaboramos um card descrevendo a situação da nossa cidade. Estamos buscando ajuda dos sindicatos, associações e outros movimentos. Temos conseguido cesta básica, roupas, produtos de higiene e colchões. Sabemos que ainda é pouco diante da necessidade, mas o nosso trabalho não para, todos os dias damos seguimento".
A Vila Juerana, em Ilhéus, no sul do estado, é banhada pelo Rio Almada. A população tem convivido com os danos provocados pela construção do Porto Sul e as recentes chuvas aumentaram o grau de vulnerabilidade da comunidade. As 213 casas de Juerana foram afetadas com a cheia do rio. Mônica Santos mora na vila e relata que as perdas seriam maiores se não tivesse a ação coletiva dos moradores.
"A comunidade montou um grupo de jovens, homens e mulheres, que saíram de casa em casa, levantando alguns móveis enquanto a água subia. Como chovia muito a noite inteira, e esse foi um trabalho que durou toda a noite para tentar dar socorro a maioria das casas, a gente acabou tomando muita chuva. Então muitas pessoas ficaram gripadas", conta Mônica.
A moradora da vila relata, justamente, que o principal desafio da sua comunidade é com relação a saúde: "Primeiro precisamos cuidar da saúde do povo. As pessoas muito doentes e adoecendo mais ainda".
Além disso, "precisamos do tratamento de água, pois não temos água potável na nossa região. Aqui todos têm poço artesiano e fossas no quintal. Então, com a enchente, acabou misturando tudo e nossa água está totalmente contaminada. Por isso, muita gente está adoecendo pós enchente", relata Mônica. A prefeitura tem enviado água mineral e carro-pipa, mas Mônica observa que a quantidade não é suficiente.
Camila Mudrek, mora na vila há quatro anos e é militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Ela conta que a solidariedade construída entre a comunidade foi fundamental nesse enfrentamento.
"A gente não tem dúvida de que foram essas mãos e braços, esses pés e pernas que garantiram a dignidade em meio a essa tragédia que a gente viveu. E essa é a história que a gente quer que fique. A história de um povo que se une e luta junto e, por isso, vence junto. Aqui foram os barcos dos próprios pescadores e pescadoras que distribuíram a comida que a gente arrecadou, foram as próprias senhoras da comunidade que fizeram o xarope natural de plantas medicinais", compartilha Camila.
Ela explica ainda as formas de contribuir com as pessoas da Vila Juerana. "Quem tiver de longe, mas quiser doar, pode doar pelo PIX [email protected]. Mas a gente clama também para que, nesse momento, seja demonstrada a necessidade de luta por um projeto político que tenha seu programa voltado para o povo, que a luta pela saúde seja central e de que nesse momento, esse mesmo povo que hoje resiste esteja no centro da política de habitação, de segurança, de saneamento, que essas lutas sejam encampadas pelo Brasil".
Fonte: BdF Bahia
Edição: Jamile Araújo