A decisão da Prefeitura do Rio de cancelar o Carnaval de rua e permitir os bailes fechados na cidade levantou uma série de perguntas sobre a segurança sanitária dos eventos. Diferente dos cortejos ao ar livre que chegam a reunir milhares de pessoas, segundo o prefeito Eduardo Paes (PSD), nesses locais é possível controlar o acesso do público e exigir o passaporte vacinal.
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A liberação, no entanto, gerou críticas sobre a o caráter pouco popular dos bailes com cobrança de entrada para a festa tradicionalmente democrática. Nas redes sociais, o vereador Tarcísio Motta (Psol) alertou em sua conta no Twitter para o risco da medida "contribuir para um carnaval onde só quem paga o ingresso pode participar do baile".
Além de adiar a folia, o parlamentar defendeu o pagamento de um auxílio emergencial para os trabalhadores dos barracões e vendedores ambulantes do Carnaval. Os desfiles das escolas de samba da Sapucaí e da Estrada Intendente Magalhães devem ocorrer com restrições.
"Assim o impacto do cancelamento sobre os trabalhadores e toda a cadeia produtiva do carnaval pode ser, ao menos, amenizado e a festa, com a melhoria dos indicadores sanitários, pode acontecer em sua diversidade e força", afirmou o parlamentar na rede social.
Carnaval agora não
Para o pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes, ainda que no papel as exigências sejam estabelecidas, não é o momento de promover festas, especialmente em locais fechados. Com o avanço da variante ômicron e casos de gripe, o Rio de Janeiro vive uma nova onda de infecções.
"O cenário epidemiológico atual sugere que o mais adequado, partindo do princípio da precaução, sob a ótica da saúde pública é de fato suspender as festas de carnaval, infelizmente. Como depende de fatores diversos que podem mudar ao longo desse período, é extremamente arriscado prever se até lá a situação epidemiológica estará suficientemente segura. É possível que esteja ainda em ascensão, inclusive", afirmou ao Brasil de Fato.
Ele explica que ambientes abertos tendem a ser mais seguros, se comparados a eventos de porte e duração equivalente em espaços fechados. "Porém, grandes aglomerações por longos períodos de tempo e sem cuidados mínimos, o simples fato de ser realizado em local aberto não o torno seguro", explica.
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O coordenador do InfoGripe, projeto que monitora casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país, reforça que exigir a vacinação em dia ajuda a diminuir o risco, mas não exclui completamente a transmissão. Medidas de proteção individual e coletiva, como uso de máscara adequada, distanciamento social e ventilação do ambiente são camadas auxiliares de segurança tão importantes quanto a cobertura vacinal, porém mais difíceis de controlar.
"Mesmo limitando a lotação do espaço, haverá fiscalização para garantir distanciamento adequado? Mais: é razoável a realização do evento em questão com separação adequada dos participantes? Quem e como será realizada a fiscalização do status vacinal e, mais difícil ainda, do uso adequado de máscara durante toda a permanência de cada pessoa no recinto?", pontua Gomes.
Por fim, o pesquisador da Fiocruz chama atenção para a dimensão internacional do Carnaval carioca e a emergência global de variantes que podem ser introduzidas no país nesse período. "Não só a situação epidemiológica da capital e arredores deve ser levada em conta, mas também a situação dos demais locais de onde virão turistas".
Edição: Mariana Pitasse