Coluna

Está na hora de fazer a autocrítica, gente!

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Quando se cobra “fazer a autocrítica” eu, você e toda a torcida do Flamengo sabem quem a cobrança mira - AFP
Ninguém precisa entregar o lombo à fome do chicote a não ser o PT, este filho errante que pecou

Entra ano e sai ano é sempre a mesma toada. Esperem para ver. Quando se cobra “fazer a autocrítica” eu, você e toda a torcida do Flamengo sabem quem a cobrança mira.

Como 2022 é ano eleitoral, apostem que, logo, alguém estará propondo cordialmente a tal autocrítica. É dito até com certa gentileza, como o pastor que orienta aquela alma perdida no rumo da purificação.

Ninguém precisa entregar o lombo à fome do chicote a não ser o PT, este filho errante que pecou. Somente ele deve se expor à execração pública. A autoflagelação irá repô-lo na senda dos bons, como a luz que iluminou Saulo no caminho de Damasco. E, no final das contas, o suplício será um bálsamo.

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Mas parece injusto que poção tão benéfica não seja ofertada a tanta gente boa e de vacilos de alto vulto. Então, como forma de combate a essa discriminação odiosa e em nome da salvação desses espíritos esquecidos, prescrevo a beberagem libertadora como redenção e acesso à vida eterna às seguintes criaturas:

Sérgio Moro - O ex-juiz teve seu caráter eviscerado pela Vaza-Jato e a Operação Spoofing. Na sequência, o Supremo Tribunal Federal examinou suas entranhas, anulou suas decisões e tatuou-lhe na testa a palavra “suspeito”. Moro ruiu enquanto juiz. Sobrou-lhe uma sinecura do Podemos e o grasnar de marreco. Vai um mea culpa aí, chefia?

O Globo, Estadão, Folha, Veja – As panzer divisions do golpe contra Dilma que desaguaria na escalada do fascismo burlesco continuam sem dar um pio, embora arquitetas do caos em curso. Opor-se ao Inqualificável não vale. Não é tarefa jornalística ou moral mas de higiene.

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Logo não me venham dizer que estão cumprindo o seu papel. Cumprirão quando começarem a explicar porque suas páginas não foram alimentadas com jornalismo mas com os pratos feitos de Dallagnol et caterva.

Conselho Federal de Medicina - Passou incólume pelos seus bigodes o negacionismo, a cloroquina, a azitromicina, a ivermectina e o ozônio retal. Fez olho branco para o gabinete paralelo. Nunca cobrou enfaticamente a vacinação ao governo federal. O que ofereceu foram apenas sorrisos ao lado daquele que boa parte do mundo percebe como genocida.

Aécio Neves – É impressionante como o ex-candidato à presidência, dono de 51 milhões de votos em 2014, autodissolveu-se politicamente após aquela conversinha republicana com o empresário Joesley Batista. Antes, porém, Aécio apertou o botão do apocalipse ao se negar a aceitar a derrota.

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Na esteira, vieram o golpe, a pinguela para o paraíso de Michel Temer, a trituração do PSDB e, como cereja do bolo, Jair Bolsonaro. Quer dizer, em cálculo conservador, sua obra deve lhe render umas quatro temporadas no inferno após a desencarnação.

Polícia Federal – Continua-se à espera da autocrítica da atuação na ditadura civil-militar, nos atropelos da Lava-Jato e na perseguição do reitor Carlos Cancelier, da UFSC, que o levou ao suicídio. E da punição dos responsáveis.

Fiesp - Em cenário de devastação do parque industrial brasileiro, a Fiesp faz boquinha de siri. Acionista majoritária em golpes de estado, a federação dos patos amarelos é dura na queda. Conspirou em 1964 e nunca condenou o envolvimento de seus sócios no financiamento da carnívora Operação Bandeirante (Oban). Também tem culpa no cartório na ascensão do fascismo com obstrução intestinal.

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Sim, vocês vão dizer que existe muito mais gente na fila. Os pet-colunistas, por exemplo. Aqueles que são poodles para o patrão e pitbulls para os desafetos do chefe. E os partidos políticos então, a começar pelo PP, campeão em número de parlamentares envolvidos na Lava Jato? Nem se fala. Mas isto aqui é uma modesta coluna e não um livro. O importante é que a autocrítica existe para ser exercida como direito universal que é.

*Ayrton Centeno é jornalista, trabalhou, entre outros, em veículos como Estadão, Veja, Jornal da Tarde e Agência Estado. Documentarista da questão da terra, autor de livros, entre os quais "Os Vencedores" (Geração Editorial, 2014) e “O Pais da Suruba” (Libretos, 2017). Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito