No encerramento do congresso da Força Sindical, nesta quarta-feira (8), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou para o risco de novo retrocesso trabalhista, planejado pelo atual governo, a partir de estudos de um grupo de trabalho. “Tudo o que o trabalhador ganha é custo Brasil. Custo brasil é a falta de vergonha dessa gente. Se a gente não levantar a cabeça, aquele Congresso vai aprovar isso”, afirmou, ao receber o apoio de dirigentes de cinco centrais para as eleições de 2022. E admitiu sua possível candidatura. “Estou me dispondo, depois de longas conversas com vocês, a voltar a ser candidato”, disse, quase no final de seu discurso.
“Por que eu quero voltar? Eu não posso voltar e fazer menos do que eu fiz. Eu tenho que voltar pra fazer mais. Significa que nós vamos ter que trabalhar muito mais”, disse Lula. “A gente já demonstrou que é possível governar de forma diferente”, acrescentou. “Você não cuida do pobre como se fosse um número estatístico. (…) O que está acontecendo (agora) é uma demonstração da perversidade da elite política e da elite econômica deste país. (…) Este país pode ser consertado.”
Genocida e sem responsabilidade
Lula se referiu ao atual presidente como genocida e criticou a decisão de não exigir passaporte de vacinação para quem chega ao país. “Nós temos um presidente que faz festa de motocicleta todo santo dia e não teve a coragem de visitar um hospital, uma família que perdeu um parente, um funcionário do SUS. Ele preferiu colocar um general mentiroso no Ministério da Saúde.” Para o petista, o governo deveria ter criado um comitê de crise e ouvido os cientistas. Ele reputou ao presidente responsabilidade por pelo menos metade das mortes em consequência da covid-19.
Segundo o petista, o país está em uma “encalacrada” e vai precisar de esforço conjunto para uma reconstrução. “Nós estamos entrando em uma luta que será decisiva para o futuro do nosso país”, afirmou. Ele lembrou que, como sindicalista, já criticou o governo Getúlio Vargas, mas disse hoje que foi o ex-presidente que garantiu conquistas como o salário e a CLT, “que naquele momento tirava os trabalhadores de um estágio de semi-escravidão”. Ele também defendeu a presença do Estado como indutor da economia. “Aqui no Brasil se criou a ideia de que o Estado tem que ser fraco. Não queremos o Estado empresarial, mas que dê a capacidade de cuidar do seu povo, que seja soberano, que seja capaz de cuidar dos recursos naturais, da educação”, ressaltou.
Conferência nacional das centrais
Lula, que viaja amanhã (9) para a Argentina, também fez referência à aprovação do nome de André Mendonça para ministro do Supremo Tribunal Federal, na semana passada. Disse que não importa que seja “corintiano, palmeirense, são-paulino, santista”, mas que seja “bom, justo e decente para defender a Constituição brasileira”.
A candidatura de Lula foi defendida pelos presidentes da Força, Miguel Torres, da CUT, Sérgio Nobre, da UGT, Ricardo Patah, e da CTB, Adilson Araújo, além de Edson Carneiro, o Índio, secretário-geral da Intersindical. Durante o evento, foi anunciada a realização de uma conferência nacional das entidades, em abril, para discutir propostas a serem apresentadas aos candidatos.
O nono congresso da Força, aberto em 16 de novembro, reelegeu Miguel Torres, em chapa única, com 95,58% dos votos. Ele comanda também o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e a CNTM, confederação nacional. O 1º vice é Sergio Luiz Leite (Fequimfar, federação dos químicos no estado de São Paulo). E o também metalúrgico João Carlos Gonçalves, o Juruna, segue sendo o secretário-geral, com dois adjuntos. A executiva da central tem 73 integrantes, sendo 24 mulheres (33%).