Fumaça tóxica

Depósito químico da mineradora Imerys explode e pega fogo em Barcarena no Pará

De acordo com o MAB, moradores do bairro Vila do Conde inalaram fumaça tóxica e relatam dificuldade para respirar

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A causa do incêndio no galpão da mineradora multinacional francesa Imerys ainda não foi divulgada - Divulgação

Uma explosão seguida de incêndio aconteceu na noite de segunda-feira (6) em um depósito de produtos químicos da mineradora multinacional Imerys, no bairro Vila do Conde, na cidade de Barcarena, no Pará.  

Nessa unidade da empresa estaria armazenado hidrossulfito de sódio, um produto químico de coloração branca acinzentada com um cheiro característico de dióxido de enxofre. Uma fumaça branca com esse odor tomou conta da cidade na madrugada de terça-feira (7), como registraram os moradores em vídeos divulgados nas redes sociais. 

 

De acordo com nota divulgada pela Prefeitura de Barcarena, sob gestão de Renato Ogawa (PL), uma equipe do Samu e duas ambulâncias foram deslocadas para a região. “Foram realizados cerca de 49 atendimentos, com sintomas leves a moderados, de desconforto respiratório”, informa. 

Ainda de acordo com a gestão municipal, a Secretaria de Meio Ambiente de Barcarena notificou a Imerys para que apresente a Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ), o plano de contingência da empresa e o laudo da qualidade do ar. 

Em posicionamento na sua conta do Twitter o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse estar em contato com a Prefeitura de Barcarena para oferecer ajuda e “tomar as devidas providências”. 

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Desde a manhã desta terça-feira (7), integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) se deslocaram para a região com o intuito de prestar apoio organizativo e solidariedade às famílias.  

Iury Paulino, da coordenação nacional do MAB e morador de Belém (PA) conta que os relatos dos moradores é de “dificuldade para respirar, problemas na boca, nos olhos e na pele”.  

Para Paulino, o momento é de incertezas pois não há, por parte da mineradora, qualquer informação sobre as consequências à saúde da exposição à fumaça desses produtos químicos.  

“É mais um fato triste que demonstra o desrespeito da implantação dos grandes projetos na Amazônia. Sobretudo falando daquela região, que é vítima constante dos vazamentos na hidro”, avalia o coordenador do MAB. 

“São comunidades que já vivem constantemente prejudicadas pelo avanço dessas empresas, dos projetos de construção de terminais portuários e da prática irresponsável do ponto de vista dos cuidados e da segurança que essas empresas conduzem em suas ações”, afirma Iury Paulino.  

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Uma diligência com deputados estaduais do Pará, acompanhados de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e de movimentos sociais será feita no local na próxima quinta-feira (9).  

O objetivo da visita da comissão é avaliar a extensão dos impactos do acidente para a população e o meio ambiente, bem como indicar medidas necessárias de proteção e assistência às pessoas impactadas. 

Em nota, a Imerys confirmou o foco de incêndio em um dos galpões da planta de beneficiamento da empresa e informou que "a ocorrência foi controlada ainda na mesma noite". A mineradora disse que, de fato, o hidrossulfito de sódio "pode provocar irritação temporária do aparelho respiratório caso seja inalado".

A empresa anunciou que "as investigações estão em curso com a participação das autoridades locais, sem riscos detectados de novos focos de incêndio". 

Antecedentes 

A Imerys faz extração e beneficiamento dos minérios de carbonatos de cálcio, caulim e perlita. Presente no Brasil desde 1996, a multinacional francesa está nos estados do Pará, São Paulo e Espírito Santo.  

A localização em Barcarena é estratégica para a exportação de minérios já que ali foi construído o Porto de Vila do Conde, o maior do Pará.  

De acordo com o MAB, esse é o décimo acidente incidente envolvendo a Imerys nos últimos 25 anos. 

O Mapa de Conflitos da Fiocruz aponta que em junho de 2007 houve um vazamento de mais de 200 mil metros cúbicos de caulim. O produto atingiu a bacia do Rio das Cobras, as praias e poços artesianos de moradores da Vila do Conde.  

Além disso, o risco de rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora obrigou, segundo relatório da Fiocruz, que 73 pessoas fossem retiradas de suas casas. Em março de 2008, novo vazamento da bacia de rejeitos agravou a contaminação das águas da região.  

Os rejeitos da mineração de caulim contêm alta concentração de metais como ferro, alumínio, zinco e cádmio.  

Edição: Anelize Moreira