PLURALIDADE

"História brasileira tem de ser vista da perspectiva de quem perdeu", defende Lula

Em sessão de “Marighella”, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ex-presidente falou sobre pluralidade e evangélicos

|
"É nas nossas diferenças que precisamos construir a nossa democracia", disse Lula - Foto: Agência Brasil

Pouco antes de as luzes se apagarem e as cortinas se fecharem no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para exibição do filme Marighella, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a história brasileira precisa ser vista do ponto de vista dos perdedores.

Ao contrário do que mostra a história oficial, lembrou, falando em pluralidade. “É nas nossas diferenças que precisamos construir a nossa democracia”, disse Lula ao lado de parte do elenco e líderes de movimentos sociais, na noite desta sexta-feira (3), em São Bernardo do Campo.

Cabe a nós recontar um pouco da história deste país. porque sempre foi contada pelos vencedores

Antes do ex-presidente, falaram os presidentes da CUT, Sérgio Nobre, e da Força Sindical, Miguel Torres, além de João Paulo Rodrigues, da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Se Terra (MST).

Leia também: Lula diz que se eleito vai acabar com a política de aumentos constantes do gás e da gasolina

Três integrantes do filme também se manifestaram: a atriz Maria Marighella, vereadora e neta do guerrilheiro, e os atores Luiz Carlos Vasconcelos e Henrique Vieira. Foi anunciada ainda a presença do cineasta Juliano Dornelles, um dos diretores do filme Bacurau.

Evangélicos derrotarão Bolsonaro

Ator e pastor evangélico, Henrique fez o pronunciamento mais enfático. Ele pediu que não haja “generalização” envolvendo sua igreja, apontada às vezes como responsável pela eleição do atual presidente. E afirmou que é preciso manter “contato com a base evangélica popular deste país, (…) majoritariamente formada por pobres, trabalhadores, trabalhadoras, mulheres, negros, que lutam todos os dias para sobreviver”.

“Precisamos derrotar o fundamentalismo religioso neste país, dialogando com a base popular”, afirmou o ator e pastor, para acrescentar que no ano que vem os evangélicos “farão parte da derrota de Bolsonaro” nas eleições. “Não vamos generalizar, vamos dialogar e vamos afinar o pacto pela democracia. Vamos derrotar Bolsonaro, vamos derrotar o fundamentalismo religioso, a violência do Estado”, acrescentou.

Elite não quer inclusão social

Lula destacou o discurso. Disse que é preciso convencer a sociedade que o atual presidente não crê em Deus e não pratica nenhum dos ensinamentos bíblicos. Ao mesmo tempo, defendeu liberdade religiosa. “(Evangélicos são) cidadãos brasileiros que têm o direito de professar sua fé. E assim vale para todas as religiões”, disse o ex-presidente. Mas acrescentou: “Tem muito mercenário se fazendo passar por religioso, e muita gente enganando os humildes que precisam de apoio”.

Leia mais:  Artigo | Marighella para além das telas, por Carlos Malaguti e Paula Franco 

Sobre o filme, que começaria a ser exibido às 20h, Lula disse que Carlos Marighella “é uma das poucas pessoas que foram assassinadas pelo regime militar que a gente conseguiu transformar em símbolo”. E acrescentou que é preciso “valorizar a razão pela qual ele morreu”. Citou outros personagens, como Zumbi, Dandara e João Cândido. “Cabe a nós recontar um pouco da história deste país. porque sempre foi contada pelos vencedores”, afirmou.

Lula também fez referência às dificuldades para o avanço da democracia no Brasil. Afirmou que a elite do país “fica tão incomodada com Cuba, Nicarágua, Venezuela”, mas ao mesmo tempo apoiou sua prisão.

“Porque eles não queriam que a gente voltasse a governar este país, porque eles não querem inclusão social, que trabalhadores vivam bem.” O ex-presidente falou por exatos 20 minutos. Avisou que de segunda a quarta-feira participará de gravações para um documento, e que na quinta (9) vai viajar para a Argentina, onde permanecerá três dias.