A queda na aprovação do governo de Jair Bolsonaro (PL) para 19%, segundo pesquisa do Atlas em parceria com o jornal Valor Econômico, pior nível desde o início de mandato, poderá ter influências na eleição do Rio de Janeiro em 2022. É o que afirmam os cientistas Mayra Goulart, da Universidade do estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Marcus Ianoni, da Universidade Federa Fluminense (UFF).
Em entrevista ao Brasil de Fato, eles destacaram alguns pontos como o peso do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), na eleição para governador, o possível futuro do governador Cláudio Castro (PL) sem o apoio de Bolsonaro e alguns detalhes da pesquisa sobre o governo federal e o chefe do Executivo.
Brasil de Fato: Qual é o impacto da queda de popularidade do presidente da República nas conversas eleitorais dos atores políticos do Rio de Janeiro?
Marcus Ianoni: O Bolsonaro de 2021 já não é mais o mesmo de 2018, em termos de popularidade. No entanto, não podemos desprezá-lo. Pelos dados atuais, ele está apto a chegar no segundo turno em 2022. A provável candidatura de Marcelo Freixo (PSB) aqui no Rio de Janeiro motiva-se pela vontade política de derrotar o bolsonarismo no estado.
O governador Cláudio Castro (PL) pode se prejudicar com esse desgaste político de Bolsonaro nas pesquisas?
Marcus Ianoni: Em tese, se Bolsonaro prosseguir se desgastando e esse desgaste levar a uma grande diminuição de seu desempenho nas pesquisas de opinião, Cláudio Castro poderá se prejudicar, sim. Porém, esse quadro não está configurado hoje.
Creio que ainda não dê para falar em políticos do campo conservador querendo se esconder de Bolsonaro.
A princípio, ele tem apoio para alcançar o segundo turno e tem apoio do atual governador. Também não está claro qual será o quadro de candidatos aqui no Rio de Janeiro e quais serão as alianças.
Mayra Goulart: Castro já fez alguns movimentos para se descolar do bolsonarismo, adotou uma postura mais centrista para tentar articular diferentes espectros ideológicos. Ele foi chamado à atenção para a possibilidade do bolsonarismo ser representado no estado por eventual candidatura de Mourão [vice-presidente da República]. Hoje, ele está no PRTB, mas já fez movimentos, por exemplo, para se candidatar ao Podemos, do pré-candidato Sérgio Moro.
Castro ficaria sem o palanque bolsonarista, então?
Mayra Goulart: Bolsonaro disse que há espaço para apoiar Mourão em qualquer decisão que ele venha a tomar, desde que não contrarie as decisões do PL nas regiões.
Se Mourão quisesse se lançar candidato ao governo do Rio, aí Castro ficaria sem aquele que é o seu principal fiador, que é o presidente. É dessa aproximação com o bolsonarismo que ele veio, não sabemos se ele tem base eleitoral para fora disso.
Fazendo um exercício de futurismo, para onde vai o prefeito Eduardo Paes (PSD)?
Marcus Ianoni: Lula está se esforçando para ter um grande palanque aqui no Rio, inclusive com a presença de Eduardo Paes, que está no PSD. Lula e Paes têm canal de diálogo há vários anos, mas essa aliança depende muito da estratégia do PSD em nível nacional, que está discutindo a possibilidade de lançar a candidatura presidencial de Rodrigo Pacheco [presidente do Senado].
Se não houver empecilho por parte do PSD nacional, é possível que Paes apoie Freixo, que saiu do Psol para derrotar o bolsonarismo no estado e está próximo do PT nessa investida política.
Mayra Goulart: Paes será o principal cabo eleitoral dessa campanha, mais do que Lula e Bolsonaro. É o Paes aquele que será o mais capaz de atrair o voto para quem ele declarar apoio, por isso a candidatura do Felipe Santa Cruz [presidente da OAB] é uma perda de oportunidade.
Ao mesmo tempo, com Santa Cruz, Paes sabe que não vai se queimar de maneira nenhuma. Mas se ele apoia Freixo ou um candidato da direita, ele se queima com outro espectro. Com um candidato neutro, Paes não perde. É uma estratégia interessante para quem quer se consolidar no mandato de prefeito e eventualmente se candidatar à presidência da República nas eleições de 2026.
Por fim, que dados relevantes podem ser destacados nessa pesquisa do Atlas?
Mayra Goulart: Há um continuum crescente da desaprovação de Bolsonaro, que agora é de 65%. De maio até agora, a aprovação oscilou de 35% para 29%. Acho interessante também salientar as clivagens de gênero: O "bom" e "ótimo" do governo é só 13% para mulheres, enquanto 26% dos homens aprovam o governo. O "péssimo" para mulheres é 68%, para os homens é só 51%.
No eixo escolaridade, 26% das pessoas só com ensino fundamental consideram Bolsonaro "bom" e "ótimo". No ensino superior, esse índice cai para 16%. O governo é "péssimo" para 50% dos que só têm ensino fundamental e 66% para os que têm ensino superior.
No item renda, o governo é "péssimo" para 65% dos que ganham até R$ 2 mil. A maior aderência a Bolsonaro está entre os que ganham R$ 2 mil e R$ 3 mil (54% consideram Bolsonaro "péssimo") e os que ganham entre R$ 3 mil e R$ 5 mil (péssimo para 55% destes). Entre os que ganham mais de R$ 10 mil, a rejeição a Bolsonaro vai a patamares parecidos com os que ganham até R$ 2 mil, 62% acham o governo "péssimo".
Também é interessante salientar na pesquisa que a rejeição de Lula era de 63% em 2020 e agora é de 49%.
A de Bolsonaro, ao contrário, aumentou de 55%, em novembro do ano passado, para 65% de rejeição agora. A rejeição de Lula é parecida com a do Ciro Gomes (48%), menor que a de Moro (55%) e menor que a do governador tucano João Doria (58%).
Edição: Mariana Pitasse