No último sábado (27), aconteceu a 1ª Feira da Reforma Agrária e Agricultura Familiar do Baixo Jaguaribe. A atividade aconteceu na Praça do BNB, no Centro de Limoeiro do Norte com exposição e venda de produtos, realização de ato político em defesa do Acampamento Zé Maria do Tomé e apresentações culturais com artistas populares.
A feira, de acordo com a organização, teve como objetivo a venda de produtos agroecológicos vindos direto do Acampamento Zé Maria do Tomé e assentamentos da região além de anunciar a Reforma Agrária como uma saída para acabar com a fome no país.
Maria Marilene Silva é uma das feirantes do acampamento Zé Maria do Tomé, ela reafirma o compromisso de produzir alimentos saudáveis sem o uso de veneno. “Nós defendemos e praticamos a agroecologia, nosso alimento é fruto de muito trabalho, acho muito importante essas feiras da Reforma Agrária acontecerem, pois nos possibilita a comercialização dos nossos produtos direto para o consumidor, e é um alimento de qualidade, sem o uso de nenhum tipo de veneno”.
::Por que agricultores e pesquisadores defendem que agroecologia pode sanar a fome no Brasil::
Mamão, banana, batata, coco, fubá de gergelim, doce de gergelim, tempero caseiro, molho de pimenta com leite, colorau, mel de abelha africanizada e húmus de minhoca, são algumas das variedades de produtos disponibilizados na feira, além de artesanatos.
Carlinhos Caledônio, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC) destacou a organização da feira e parabenizou a iniciativa. “Muita diversidades de produtos, produtos de excelente qualidade. Eu que pratico agricultura orgânica valorizo essas iniciativas, acredito que possa ter continuidade e levar também para outras regiões do estado”.
O ato político contou a presença e intervenção de acampados, militantes das organizações do Limoeiro do Norte, religiosos, e do deputado estadual, Renato Roseno (PSOL-CE) que afirmou que “O ato é um ato sobretudo em defesa da vida. A defesa da vida está no alimento que está sendo colocado aqui no Centro de Limoeiro do Norte. Existe fome no Brasil. A fome é um projeto político de uma elite que não suporta que o pobre plante na sua própria terra, a fome que existe no Brasil não é porque falta capacidade de produzir alimento, é um projeto da injustiça social histórica, racista”.
Durante sua fala, Renato Roseno também reafirmou a luta em defesa do acampamento Zé Maria do Tomé. “Nós precisamos, sobretudo, mostrar para o povo brasileiro que esse é um projeto político que tem que ser superado. Nós precisamos devolver o fascismo à lata do lixo da história, eles não querem liberdade, justiça, eles não querem democracia, nós temos que dizer que a classe trabalhadora não vai retroceder, vamos fazer uma Reforma Agrária Popular, Camponesa e ecológica”, disse.
Maria de Jesus, da direção estadual do MST falou a alegria em partilha sabores, afetos e a luta em defesa das famílias do Acampamento Zé Maria do Tomé. “Aqui em nossa região decretaram que as terras da Chapada são apenas para os empresários, mas nós, Sem Terra, e as várias organizações da nossa região já definimos que vai ter terra sim para as famílias acampadas. Nós estamos lutando aqui na feira, mas estamos com diversas articulações para que esse sonho da terra conquistada se concretize”.
A campanha em defesa da Lei Zé Maria do Tomé também esteve presente na 1ª Feira Agroecológica e da Reforma Agrária coletando assinaturas com o objetivo de defender a lei estadual 16.820/19, de autoria do Renato Roseno e sancionada pelo governador do estado, Camilo Santana (PT) que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos no Ceará.
A feira foi uma realização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento 21 de Abril (M21), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Limoeiro do Norte e teve apoio da Cooperativa Central das Áreas de Reforma Agrária do Ceará (CCA) e Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA).
Solidariedade e Resistência
Ainda no sábado, as famílias sem-terra do Acampamento Zé Maria do Tomé realizaram a doação de alimentos no município de Limoeiro do Norte. Dessa vez, a doação aconteceu ao Lar do Idoso, localizada na rua Camilo Brasiliense, 382 - João XXIII, Limoeiro do Norte.
Sobre o Acampamento Zé Maria do Tomé
O acampamento Zé Maria do Tomé existe e resiste há mais de sete anos e é fruto de uma ocupação realizada no dia 05 de maio de 2014, onde centenas de famílias romperam a cercas da Chapada do Apodi, onde antes somente o agronegócio usufruíam das terras e das águas, do perímetro irrigado Jaguaribe – Apodi. Durante todo esse tempo, as famílias vem fazendo do Acampamento um espaço onde se produz alimentos saudáveis e novas relações sociais baseadas na coletividade e solidariedade. Já ocorreram diversas tentativas de criminalização da luta e da resistência das famílias acampadas.
O acampamento Zé Maria vem construindo uma rede de apoio e solidariedade com aqueles que mais precisam na região do vale do Jaguaribe e também na periferia da capital cearense. Durante o mês de dezembro estima-se que mais de cinco toneladas sejam enviadas para a Campanha Natal Sem Fome, idealizada pelo MST. Durante a pandemia, foram realizadas doações de mais de 20 toneladas de produtos, fruto do trabalho e da produção da chapada.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Francisco Barbosa