O extinto Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro (CPV) lança neste sábado (27), em São Paulo (SP), o Projeto Memória CPV 2020. A instituição, que operou durante 47 anos e dedicou toda a sua existência a catalogar registros da luta dos trabalhadores no Brasil, deixou de existir juridicamente no ano passado por falta de verbas e agora pretende ofertar ao público um material que documenta a história do local e destrincha uma série de detalhes relacionados ao trabalho do CPV.
“Serão dois livros escritos por historiadoras, um projeto de história oral, com depoimentos que foram capturados em parceria com o Centro de Documentação da PUC-SP, e um documentário sobre personagens que passaram pelo CPV. Colhemos 17 entrevistas que contam a história do centro”, antecipa o jornalista Aldo Aldesco, que atuou como vice-presidente da entidade.
A iniciativa dos parceiros do Centro é, para os apoiadores do local, uma forma de valorizar e consagrar o papel assumido pela entidade ao longo de sua jornada. Fundado em 1973, em plena ditadura militar, o CPV é memória material de tempos em que a luta popular organizada se opôs à política dos generais.
Os documentos do Centro foram doados para o Arquivo Edgard Leunroth (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) após o fechamento do CPV um arquivo que guarda pelo menos 250 mil registros da agenda de luta dos movimentos operário e popular. Os anseios de trabalhadores do campo e da cidade estão representados no acervo das mais diferentes formas: documentos sindicais, materiais didáticos, recortes de jornais, dossiês, fitas cassetes, DVDs, fotos, slides e cartazes que ajudam a narrar diferentes capítulos da história da jornada dos trabalhadores no país.
O CPV atravessou o tempo não apenas registrando a história da classe trabalhadora, mas também ajudando a estimular a organização política popular. No período entre as décadas de 1970 e 1980, por exemplo, o Centro estimulou a formação de outras organizações que representassem os interesses populares.
“O CPV foi um alimentador de vários grupos no Brasil afora e de várias formas, seja fazendo capacitação na área de documentação, seja na área de comunicação popular, ensinando a fazer veículos, jornaizinhos, boletins, que era o que se usava muito na época, a comunicação popular escrita”, resgata Luiza Peixoto, que foi coordenada da instituição até agosto de 2020.
Segundo os integrantes do Centro, a ideia agora, após a doação do acervo, é fazer com que os registros que compõem o arquivo sirvam de inspiração e exemplo para outras jornadas, oxigenando um novo ciclo de atuação dos movimentos populares.
“O uso dessa memória, desse acervo material, depende do nível de preocupação política e ideológica das gerações futuras. Se elas acharem que é fundamental conhecer esse período histórico, isso vai ajudar muito. É fundamental pra ajudar na luta futura”, acredita Aldesco.
Lançamento
Por enquanto o acervo do antigo CPV não está aberto ao público, pois passa por um processo de organização na Unicamp para que possa ser recolocado para consulta.
Os curiosos podem, no entanto, acompanhar a transmissão de lançamento do Projeto Memória CPV 2020 como forma de aperitivo para conhecer o arquivo e desvendar um pouco da sua história por meio dos produtos que compõem a iniciativa a ser apresentada.
O evento será transmitido a partir das 13 horas, nas páginas do CPV no Facebook e no Youtube por meio dos links https://web.facebook.com/cpvpesquisa e https://www.youtube.com/user/cpv1973 .
Edição: Sarah Fernandes