Criado em 2017, sem nunca ter sido aberto ao público, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) foi inaugurado na última terça-feira (23). Vizinho ao Cais do Valongo, na Gamboa, o espaço fica localizado no prédio do Centro Cultural José Bonifácio e é um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África, na Região Portuária do Rio de Janeiro.
Na época de sua criação, o Muhcab foi idealizado para ser um braço do centro de interpretação que ainda será criado para catalogar o acervo arqueológico encontrado naquela região. Foi definido como um museu de tipologia híbrida: museu de território, museu a céu aberto, museu de responsabilidade social e museu histórico. A região tem papel fundamental no resgate, na preservação e revitalização da memória afro-brasileira.
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A partir de agora, o público pode conferir algumas das obras do acervo, que guarda aproximadamente 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias, além de trabalhos de artistas plásticos contemporâneos, que dialogam com o espaço. Por ser um museu de território, as edificações e os elementos urbanos também são catalogados como acervo.
Entre as obras do acervo que são destaques na exposição “Protagonismo: memória, orgulho e identidade”, que marca a retomada, estão “Árvore Calcinada”, de Nelson Sargento; e “Sambistas”, de Heitor dos Prazeres, além de uma outra criada especialmente para o novo espaço (sem título), de Artedeft, artista que utiliza pintura e colagem digital para expor a realidade urbana e periférica.
O Centro Cultural José Bonifácio foi restaurado em 2013 pela Prefeitura do Rio. Fundado em 1877 por Dom Pedro II como a primeira escola pública da América Latina, o palacete faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana.
Visitação
Na primeira sala, nomeada Conceição Evaristo, um mapa gigantesco na parede mostra as rotas do tráfico de escravos da África para o Brasil. O destaque ali, no entanto, é a instalação “Tecendo raízes”, uma ciranda com tecidos africanos para contar as origens dos povos ancestrais.
Em seguida, na sala Agnaldo Camargo, uma série de plantas com fins de cura, cada uma relacionada a um orixá, além de esculturas em barro dos mesmos orixás, feitas por Carmem Barros.
Na sala Grande Otelo, textos e fotos sobre temas como o mito da democracia racial, ditadura e resistência. O destaque são três telas de Nelson Sargento, o baluarte da Estação Primeira de Mangueira, e também um acervo fotográfico com imagens da atriz Ruth de Souza e do Teatro Experimental do Negro (TEN).
A sala do Educativo leva o nome de Mestre Marçal e terá atividades para crianças e adolescentes. Por último, a sala Abdias do Nascimento traz uma linha do tempo e vídeos com a história do Muhcab e uma obra interativa onde o visitante pisa no território conhecido como Pequena África.
No auditório, a ideia é promover encontros, palestras, seminários e debates. O pátio será palco de rodas de samba, jongo e outros ritmos, além de ponto de encontro, com aperitivos inspirados na culinária afro.
O Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira fica na Rua Pedro Ernesto 80, na Gamboa, e funciona de quinta a sábado, das 10h às 16h. A entrada é gratuita.
Conheça os 15 Pontos da Pequena África
Cais do Valongo, Patrimônio Mundial
Mercado de escravos do Valongo
Cemitério dos Pretos Novos – Instituto dos Pretos Novos (IPN)
Muhcab (antiga Escola José Bonifácio)
Praça da Harmonia – interpreta as Barricadas da Revolta da Vacina
Sindicatos e associações negras – Sociedade da Resistência dos Trabalhadores do Trapiche e Café
Casa de Machado de Assis
Mirante da Pequena África
Largo do Depósito/Praça dos Estivadores
Trapiches e atividades portuárias da Rua da Saúde
Pedra do Sal, Quilombo da Pedra do Sal e Rua São Francisco da Prainha
Zungu Largo de São Francisco da Prainha
Igreja São Francisco da Prainha
Praça Mauá
Igreja de Santa Rita
Edição: Eduardo Miranda