Foi o povo brasileiro, o povo negro, que ficou de fora desta última edição do exame
Estamos há meses realizando a "Jornada Nacional em Defesa do Enem", uma articulação da Campanha Periferia Viva com iniciativas de construção de aulões preparatórios para a prova e de intervenções de cunho agitativo.
Nas vésperas do segundo dia de prova, que ocorrerá neste domingo (28), e com foco no calendário antirracista do Novembro Negro, convidamos todas e todos a refletirem sobre a participação do povo preto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021.
Além do fato do Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se declarar contrário às políticas de cotas no sistema de acesso ao ensino superior, os dez anos iniciais da Lei de Cotas, aprovada em 2012, encerram-se em 2022, momento em que será novamente debatida sua manutenção ou não no sistema de destinação das vagas públicas.
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Neste sentido, a educação brasileira está prestes a passar por momentos decisivos em relação à questão racial que já reverberam no Enem deste ano.
As políticas federais de desmonte da ciência, de diminuição de recursos para as universidades e institutos federais e um franco combate às ideias progressistas e aos direitos populares, fizeram com que o Enem 2021 tivesse a menor taxa de inscritos dos últimos anos e ainda com a menor proporção de estudantes de escolas públicas em relação aos estudantes de escolas privadas.
Foi o povo brasileiro, o povo negro, que ficou de fora desta última edição do exame. A piora nas condições de vida e os quase dois anos de escolas fechadas aumentaram ainda mais as desigualdades raciais na educação brasileira, em especial no ensino superior.
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Desde o início do governo Bolsonaro, denunciamos o desmonte deste importante meio de acesso ao ensino superior no Brasil.
Nos últimos dias, nos deparamos com diversas denúncias de servidores públicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, (Inep) órgão responsável pelo Enem, em relação à edição 2021 relatando casos de censura, assédio moral e fragilidade técnica e administrativa.
Tais denúncias ocasionaram a demissão coletiva de trinta e cinco funcionários, dentre eles coordenadores ligados ao Enem. Vimos ainda Jair Bolsonaro declarar que esta edição começa a ter “a cara do governo”, afirmação também defendida pelo então ministro de educação Milton Ribeiro.
Cabe a nós a continuidade da luta pela democratização do ensino superior e pela manutenção das cotas nas vagas públicas. Será um longo caminho de construção coletiva e solidária, mas que nosso futuro seja de uma sociedade mais justa e digna, com acesso aos direitos públicos e livre do preconceito.
*O Periferia Viva nasce como resposta ao governo genocida com sua política de morte que nos deixou a própria sorte em uma pandemia. A ideia é conectar iniciativas, campanhas e demandas da sociedade que podem contribuir e fortalecer essa rede de solidariedade. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito