Coluna

Para combater a violência política de gênero é preciso constância e sororidade

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As mulheres progressistas eleitas, sobretudo em 2018 e 2020, vêm enfrentando ataques constantes contra suas vozes e seus mandatos - Agência Senado
O silêncio é uma mensagem política. E a seletividade é a arma do oportunismo

As mulheres progressistas eleitas, sobretudo em 2018 e 2020, vêm enfrentando ataques constantes contra suas vozes e seus mandatos. 

Nesses 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres e nos 20 dias de ativismo do combate ao racismo, é importante destacar que o neoliberalismo ataca a nossa existência, sobretudo das mulheres negras, em todas as esferas de nossas vidas.

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O machismo, o racismo e a lgbthomofobia -- eixos estruturantes do sistema capitalista -- violentam as nossas formas de andar, de agir, de empreender, de resistir, regulam nossos corpos, nossos sonos, nossos descansos, nossa fome, nossas ambições materiais, sociais e até políticas.

Por isso que quando se trata de uma mulher ocupando um espaço político, em defesa da democracia, é uma imagem escandalosa para o conservadorismo tradicional.

Não queremos ser tratadas apenas como beneficiárias de políticas públicas, queremos justamente o direito de decidir sobre elas.

Inúmeros têm sido os casos de violência política contra as mulheres nas casas de parlamento em todo país -- pesando ainda mais forte sobre as mulheres negras, jovens e lgbt’s que sofrem com o racismo, o etarismo e a homofobia dizendo a todo momento que ali não é lugar para elas. 

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E, se por um lado, há um profundo silêncio da cobertura da grande mídia sobre o tema, por outro também há uma seletividade e uma inconstância oportunista dos campos políticos ao abordarem o tema. 

Em tempo, é importante frisar, a violência política contra as mulheres não é contra os argumentos que ela apresenta em um determinado momento na tribuna, e sim trata-se de um ataque justamente ao direito de uma mulher falar e defender uma visão de mundo e, principalmente, ao direito dela incidir diretamente sobre a transformação do mundo.

Não queremos ser tratadas apenas como beneficiárias de políticas públicas, queremos justamente o direito de decidir sobre elas.

No Congresso, nas Assembleias e nas Câmaras Municipais em todo país, as parlamentares petistas estão na linha de frente na defesa das mulheres, principalmente as que mais precisam, elaborando propostas e se posicionando em temas caros à sobrevivência das brasileiras na sociedade, como direitos trabalhistas e previdenciários.

Entendemos que combater o machismo e a opressão das mulheres passa por garantir direitos e uma vida com dignidade para todas, inclusive na hora de se aposentar.

Nos governos do PT, com Lula e Dilma, aprovamos a Lei Maria da Penha, o principal marco no combate à violência contra a mulher.

Ampliamos mecanismos de proteção para as brasileiras, priorizamos as mulheres no cartão do Bolsa-Família, no direito à moradia pelo Minha Casa Minha Vida, aprovamos a PEC das Domésticas, conduzimos a política econômica com aumento real de salário mínimo, criamos uma rede de políticas e ações para permitir que as mulheres tivessem autonomia financeira, emocional e social para sair de situações de violência.

Na denúncia do golpe misógino e machista contra a presidenta Dilma Rousseff, nos levantamos e nos mobilizamos enquanto enfrentávamos o silêncio de muitos e muitas sobre as atrocidades a que Dilma era exposta.

Nos levantamos e nos solidarizamos com Manuela D´Ávila, quando enfrentou a baixeza e vilania nas redes sociais, enquanto muitos também silenciaram. 

O silêncio é uma mensagem política. E a seletividade é a arma do oportunismo. Defender as mulheres contra a violência política de gênero é uma tarefa árdua, diária e constante -- não apenas quando interessa movimentar o tabuleiro político a favor de um determinado grupo. 

Combater a violência política de gênero tem sido um dos pilares da atuação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT, porque compreendemos profundamente a importância de garantir a participação da mulher na política -- que passa não só pela eleição de mais mulheres, mas pelo direito do exercício pleno do mandato sem coação, sem intimidação e sem violência. 

Por isso que a defesa da democracia é tão cara ao país e tão necessária à agenda feminista. E nós, mulheres do PT, colocamos a democracia em prática não apenas em períodos eleitorais, mas em todas as nossas relações com a sociedade civil e movimentos sociais e até dentro da nossa própria organização.

Estaremos nas ruas no dia 4 de dezembro, integrando o chamado da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, pelos direitos das mulheres e pelo fim do governo genocida.

Convidamos todas as Mulheres Contra Bolsonaro e continuaremos firmes na caminhada de ampliar a participação das mulheres na política e defendendo umas às outras, olhando para 2022. Não toleramos nenhuma prática de silenciamento e seguimos solidárias e unidas com todes que estão na luta contra o fascismo e o autoritarismo.

*Anne Moura é feminista, indígena, manauara e petista. Secretária Nacional de Mulheres do PT.  Criadora do Projeto Elas Por Elas. Participa do grupo de mulheres do Foro de São Paulo e da Copppal (Conferência Permanente dos Partidos Políticos da América Latina). Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito