A manhã da segunda-feira (22) foi marcada por terror para os moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Eles retiraram, por conta própria e sem ajuda da polícia, nove homens mortos que estavam na região de mata. Segundo os relatos, mais corpos podem estar espalhados no local de difícil acesso da comunidade.
Os cadáveres foram encontrados horas depois de uma operação da Polícia Militar (PM) que tentava capturar o autor do assassinato de um sargento da PM ocorrido no sábado (20). Os corpos foram enfileirados pelos moradores e cobertos por lençóis na Rua Pedro Anunciato da Cruz e, segundo seus relatos, apresentavam sinais de tortura.
"Alguns são pessoas que não moram na comunidade mas conviviam aqui dentro, e de repente algum parente ainda não sabe notícia, não sabe se está por aqui ou se está em outro lugar escondido. Nove nós encontramos, mas há possibilidade de ainda haver mais", revelou um moradorador ao jornal O Dia.
Hoje, representantes da Ouvidoria Externa da Defensoria Pública e defensores do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh)da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro irão à comunidade, junto com outras instituições de de direitos humanos, para coletar informações junto aos moradores e familiares das vítimas.
Operações policiais e mortes
Em nota divulgada à imprensa, a Rede de Observatórios da Segurança destacou que há similaridade no episódio ocorrido em São Gonçalo neste final de semana com o massacre na favela do Jacarezinho durante uma operação da Polícia Civil, que matou 28 pessoas em maio deste ano e ficou conhecida como a ação mais letal das forças de segurança no estado do Rio.
"As características dessas matanças são parecidas. No Jacaré, acompanhamos a série de mortes com graves indícios de execuções e hoje moradores do Salgueiro relatam que não encontraram armas junto aos corpos e que os mesmos estão desfigurados. Há indícios de que houve tortura", afirma a nota da instituição.
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A Rede de Observatórios da Segurança aponta também que registrou, até outubro deste ano, 38 chacinas no Rio de Janeiro - quatro a mais que em 2020 -, sendo que 27 delas foram cometidas por policiais com 128 mortes registradas. Ou seja, segundo o estudo, 71% das chacinas foram executadas por agentes do estado em 2021.
De acordo com a organização, neste ano houve um aumento de 23%, de janeiro a outubro, nas mortes em chacinas decorrentes de ação policial no Rio de Janeiro em comparação ao mesmo período do ano passado e 12% de aumento de ocorrências de chacinas em todo o estado.
O que diz a PM?
O Brasil de Fato procurou a Polícia Militar para um posicionamento a respeito da denúncia dos moradores do Salgueiro. Por meio de nota, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que "após o conhecimento de corpos localizados em área de mangue na região do Complexo do Salgueiro, na manhã desta segunda-feira (22), a PM dará início a uma ação no local e permanecerá na região a fim de garantir o trabalho de perícia da Polícia Civil". A nota destaca ainda que até o momento, as informações preliminares apontam que sete corpos foram encontrados.
Segundo a assessoria, a operação com policiais militares do BOPE no Complexo do Salgueiro começou na tarde de domingo (21) após informação de que "um dos indivíduos que atacaram a equipe do 7ºBPM no sábado (20), que matou o sargento Leandro da Silva, estaria ferido ainda no interior desta região".
Ainda de acordo com a polícia, as equipes foram atacadas nas proximidades de uma área de mangue com mata, ocorrendo um intenso confronto. Segundo a corporação, na ação foram apreendidas duas pistolas, 14 munições calibre 9 mm, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (02 para fuzil e 03 para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack. A ocorrência foi registrada na 72ª DP.
A nota finaliza destacando que "uma equipe do SAMU foi acionada ao Salgueiro por conta de um indivíduo ferido e criminosos armados obrigaram a retirada deste do local". Segundo a polícia, o homem foi a óbito e reconhecido por policiais do 7ºBPM como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição no sábado (20).
Edição: Mariana Pitasse