Insatisfação

COP26: Resolução preliminar exclui países mais pobres, gera discussões e adia encerramento

Resolução não inclui financiamento para adaptação de países pobres à mudança climática

Brasil de Fato |
Ambientalistas se juntam em Glasgow demandando que líderes mundiais falem menos e atuem mais - Ben Stansall/AFP

O texto preliminar da resolução da COP26 foi apresentado na manhã deste sábado (13) pelo presidente da conferência, Alok Sharma. O documento foi criticado pela ausência de pontos relacionados às demandas urgentes discutidas ao longo das duas semanas da conferência do clima, especialmente no que se refere ao financiamento destinado à adaptação dos países mais pobres às mudanças climáticas.

A ausência da proposta do G77+China para um fundo de financiamento para a adaptação de países mais pobres para enfrentar a mudança climática foi um dos pontos mais indagados que geraram discussões.

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"O mundo chora diante dessa resolução preliminar", afirma o ativista climático e médico argentino Carlos Ferreyra, que está realizando a cobertura da COP26 para a Rádio Clima Internacional. "Toda a declaração é muito light, generalista, constituindo essa ideia de que 'temos que nos tornarmos verdes', sem produzir reações concretas urgentes para a adaptação à mudança climática", alega. "Há somente 30 países no mundo que contam com um plano de adaptação à mudança climática."

Representantes de governos tentaram negociar no último minuto os pontos ausentes no texto preliminar e, neste momento, debatem em uma plenária sobre suas colocações. Sharma, antes de passar a palavra, reconheceu a importância de tudo o que seria exposto, mas solicitou que fossem "breves".

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O primeiro orador, Ministro de Meio Ambiente da República da Guiné, Ahmadou Sebory Toure, destacou sua preocupação com a falta de resoluções concretas e que o texto "não reflete a proposta do Grupo77+China para o financiamento destinado às perdas pela mudança climática e os danos aos direitos humanos".

Já o representante da China destacou a necessidade de implementar um mecanismo de ganho-ganho para garantir o êxito da conferência e avançar com as propostas urgentes para atender à crise climática, citando o relatório do IPCC, lançado pela própria ONU.

O representa da Bolívia e porta-voz do denominado 'Like Minded Group of Developing Countries' (LMDC, Grupo de Países em Desenvolvimento com Ideias Semelhantes), Diego Pacheco, cobrou mais responsabilidade dos países desenvolvidos.

"Temos preocupações com o texto apresentado. O conceito de emissões líquidas para 2050 é uma mentira. É uma fuga dos países desenvolvidos para fugir das responsabilidades das mudanças climáticas”, alertou.

Um modelo

Esta resolução resume o que foi, para muitos, uma "conferência dos países ricos", como afirma também Carlos Ferreyra.

"O modelo de governança apoiado na ONU está fracassando", diz. "Nunca antes houve uma participação empresarial tão grande, com mais de 500 multinacionais que influenciaram esse documento final. Ao mesmo tempo, sob pretexto da pandemia de covid-19, limitaram a presença da sociedade civil organizada, enquanto sortearam aleatoriamente cidadãos que não necessariamente estão informados e preparados sobre o assunto para constarem como a voz da sociedade civil", aponta. 

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Ferreyra destaca que o texto preliminar em discussão propõe avanços em termos de mudança de modelo energético. No entanto, não aponta soluções e acordos internacionais para garantir o acesso por parte de países mais pobres. "Se não há financiamento, nenhum país poderá implementar energia eólica, sistema fotovoltaico, investir em hidrogênio, em transportes sustentáveis. O que o mundo precisa é uma mudança de modelo, que só garante o protagonismo de empresas multinacionais que lucram vendendo morte ao mundo através, justamente, de combustíveis fósseis."

Edição: Daniel Lamir