O presidente Jair Bolsonaro irá se filiar ao Partido Liberal (PL), no dia 22 de novembro, conforme anunciou a sigla. Ele está sem partido desde 2019, depois que entrou em conflito com figuras do PSL, que apostou em sua candidatura à Presidência.
O partido é o terceiro maior na Câmara dos Deputados, com 48 parlamentares, sendo que Flávia Arruda (DF) está licenciada do cargo para ocupar a chefia da Secretaria de Governo.
A sigla fica atrás apenas do PT (58) e do PSL (56). No Senado, o partido se torna nanico: apenas quatro senadores diante dos 15 do MDB, 16 do DEM ou 12 do PSD. O fato de ser expressivo na Câmara, no entanto, já conta pontos para o presidente, uma vez que é a casa legislativa pela qual primeiro passam os projetos de governo.
Os liberais também têm familiaridade com o fisiologismo do centrão, um grupo de partidos sem comprometimento ideológico, o que permite a aproximação com outros partidos e figuras de espectros diferentes. De 2002 a 2010, o PL esteve na Vice-Presidência ao lado do ex-presidente Lula. Hoje, abre caminho para a candidatura de Bolsonaro.
::Com Ciro Nogueira, Centrão já comanda o coração do governo Bolsonaro::
“O PL é um partido que tem grande liberdade em fazer movimentos políticos distintos, inclusive em alianças com diferentes partidos nos diversos campos ideológicos”, afirma o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.
Vale lembrar que Bolsonaro se elegeu no pleito presidencial de 2018 utilizando-se de um discurso contra o que chamou de “velha política” e de “toma lá da cá”, o mainstream político. Por isso, a filiação ao PL tem “algum custo reputacional”, explica Cortez.
“Os ganhos materiais”, no entanto, “parecem ser maiores do que ficar preso nessa retórica que lá atrás foi importante para a vitória, mas que agora, para 2022, não ajudaria muito nesse objetivo de disputar competitivamente uma eleição”.
Eventualmente, Bolsonaro poderá ter alguma perda política, principalmente para o eleitor que olha para a política com “uma espécie de pureza partidária”. O presidente, no entanto, já perdeu boa parte desse eleitor. Pesquisas mostram que apenas cerca de 20% do eleitorado brasileiro ainda apoia o capitão reformado, o que seria seu núcleo duro e antipetista. “Acho que o Bolsonaro já pagou o custo dessas contradições entre o que ele foi como candidato e o que ele fez como governo.”
Para o partido, o custo é bem menor. Há uma movimentação no sistema partidário apontando para fusões entre as siglas, sendo a mais recente entre o PSL e o DEM. Isso porque devido à proibição das coligações nas eleições proporcionais no próximo ano, como é para a Câmara dos Deputados, deverá ocorrer a redução do número de partidos.
“O PL, nesse momento, faz um investimento de ter a candidatura presidencial, algo inédito até então para partido, como uma estratégia para escapar ou para ter uma melhor competitividade neste cenário de aperto das condições de regras do jogo”, afirma Cortez.
“É um partido que está brigando com vários da direita para ter algum destaque e fez a opção pela candidatura presidencial, que, de alguma maneira, é o equivalente à fusão partidária. É uma tentativa de sobreviver nesse mercado, não pela fusão partidária, mas pela candidatura presidencial, fazendo a aposta que o presidente Bolsonaro vai ser o grande vencedor no campo da direita.”
Em certa medida, o PL aposta no mesmo crescimento que o PSL teve em 2018, com candidaturas bolsonaristas coladas na campanha presidencial. “Mesmo que não resulte na eleição nacional, eventualmente pode ser um ganho comparado com as demais legendas de direita que estão se apresentando. A candidatura presidencial pode ser puxa voto.”
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Lista de escândalos
O partido também coleciona casos memoráveis. Antigo Partido da República, a partir da unificação do PL ao Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), já passaram pela sigla nomes que vão desde Tiririca (SP) ao veterano Inocêncio Oliveira (PE), passando pelo carioca Anthony Garotinho, Magno Malta e o presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto. Enquanto a sigla esteve como PR, Gilberto Kassab também esteve próximo ao tentar recriar o PL.
Entre os escândalos, Inocêncio Oliveira foi condenado, em 2003, em duas ações civis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho por manter 53 trabalhadores em condições análogas à escravidão em sua fazenda no município de Gonçalves Dias (MA). Três anos depois, a condenação foi mantida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região.
Seguindo a linha, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho foi condenado a 13 anos e 9 meses de prisão por compra de votos nas eleições municipais de 2016. Na época, ele era secretário municipal de governo em Campos dos Goytacazes, na gestão de Rosinha Garotinho, sua esposa.
“O réu foi o líder de uma reedição do antigo coronelismo nesta moderna versão, em que, em vez de cabresto, houve o oferecimento de troca de votos pela inclusão no programa”, afirmou o relator do processo, o desembargador eleitoral Paulo César Vieira de Carvalho, do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). Hoje Garotinho está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na unidade de Bangu 8.
Magno Malta, que celebrou sob as bênçãos de Deus a eleição de Jair Bolsonaro, por sua vez, foi processado por fazer acusação falsa de estupro. Segundo o ex-cobrador de ônibus Luiz Alves de Lima, Malta o torturou a ponto de deixá-lo cego, após acusá-lo de estuprar a própria filha. Por falta de provas, Lima foi absolvido em 2016.
Uma década antes, Magno Malta foi apontado pela CPI dos Sanguessugas que investigou o desvio de recursos públicos destinados para compra de ambulâncias no Ministério da Saúde. A empresa Planam informou à comissão que Malta recebeu propina para liberar uma emenda parlamentar para aquisição dos automóveis. Malta, no entanto, foi absolvido pela Comissão de Ética do Senado.
Gilberto Kassab, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, por sua vez, virou réu em março deste ano por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, caixa dois eleitoral e associação criminosa. O juiz da 1ª Zona Eleitoral do Estado de São Paulo, Marco Antonio Martin Vargas, aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público. Segundo o órgão, entre janeiro de 2014 e dezembro de 2016, Kassab teria recebido R$ 16, 5 milhões de propina da empresa JBS.
A cereja do bolo é a condenação contra Valdemar Costa Neto, legitimada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo do "mensalão". Os ministros também determinaram uma multa equivalente a R$ 1,08 milhão, além de 7 anos e 10 meses de prisão. Na época do "mensalão", Costa Neto era presidente do PL e foi acusado de receber propina em troca de apoio no Congresso Nacional ao ex-presidente Lula.
No âmbito da Operação Lava Jato, José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, afirmou que Costa Neto e o PR (atual PL) receberam pelo menos R$ 2,5 milhões em propinas, entre 2007 e 2011, nos contratos de Furnas. No período, Mario Marcio Rogar, indicado por Costa Neto, comandava a diretoria de Furnas.
Antes de Bolsonaro anunciar a filiação ao PL, seu filho, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, havia publicado uma notícia sobre a delação do sócio da Engevix. Agora, o Zero Três excluiu a postagem. Vida nova, página virada.
Edição: Vivian Virissimo